Buscas nos escombros estão no sétimo dia
Quase uma semana depois do colapso de um prédio em frente ao mar na Flórida, o número de mortos aumentou nesta quarta-feira para 18, incluindo duas crianças, enquanto mais de 140 pessoas continuam desaparecidas e a esperança de encontrar sobreviventes diminui cada vez mais.
“Encontramos outros dois cadáveres sob os escombros”, disse a prefeita do condado de Miami-Dai, Daniella Levine Cava, durante coletiva de imprensa. “É com grande pesar e uma dor verdadeira que devo dizer-lhes que estas duas pessoas eram crianças, de 4 e 10 anos”, acrescentou.
Ainda há 140 pessoas vinculadas ao prédio sobre as quais não há notícias, entre elas 29 latino-americanos de Argentina, Colômbia, Paraguai, Venezuela, Uruguai e Chile. Um venezuelano e uma uruguaia-venezuelana foram identificados entre os mortos.
Um bloco de 55 apartamentos em frente ao mar, parte do complexo Champlain Towers South, situado em Surfside, perto de Miami, desabou na madrugada de 24 de junho em um dos piores desastres urbanos da história dos Estados Unidos.
Embora as equipes de resgate tenham encontrado novos túneis entre as ruínas, a esperança de encontrar sobreviventes agora é muito pequena.
“Não se pode negar a situação atual: passaram-se mais de seis dias desde o colapso e as possibilidades de encontrar pessoas com vida são escassas”, disse Elad Edri, comandante adjunto da equipe de resgate israelense que colabora com os socorristas americanos desde o domingo. Já foram escavadas mais de 1.300 toneladas de cimento.
Dois enormes guindastes são usados para remover os escombros com cuidado. Os bombeiros, que trabalham dia e noite em meio a altas temperaturas e umidade, contam com o apoio de tecnologias de busca de imagens e som para localizar bolsões de ar. “Acabamos de mapear todos os quartos, salas de estar e locais onde acreditamos que as pessoas poderiam estar”, disse Edri.
Mas estes esforços correm o risco de ser comprometidos pela chegada nos próximos dias de uma tempestade tropical à região. Um memorial improvisado erguido no local e integrantes da equipe de basquete da NBA Miami Heat depositaram flores ali.
O presidente Joe Biden e a primeira-dama, Jill, irão ao local da tragédia na quinta-feira para agradecer às equipes de resgate e conhecer as famílias, para as quais a espera é interminável e a necessidade de respostas, cada vez mais urgente.
Degradação e dano estrutural
O Champlain Towers South, de 12 andares e construído há 40 anos, contava com 136 apartamentos, ocupados por proprietários ou inquilinos. Foram as unidades com vista para o mar que desabaram por razões que estão sendo investigadas.
É pouco provável que as mudanças climáticas possam explicar o desabamento, segundo Stephen Leatherman, especialista em áreas costeiras entrevistado pela AFP.
“O que mais preocupa aqui são os furacões, a erosão das praias, as inundações, todos estes problemas. Mas o desabamento de um edifício é algo novo. Nunca tínhamos visto isto antes, especialmente em um edifício de grande altitude”, disse.
Este especialista se perguntou, no entanto, sobre a qualidade da areia usada na construção e se ao ser erguido, a estrutura de cimento foi suficientemente reforçada.
Uma lei aprovada em 1982 obriga as empreiteiras a escavar e construir sapatas sob os pilares dos edifícios, mas o bloco da torre que desabou acabou de ser construído em 1981, e por isso não conta com esse sistema de cimentação.
Um relatório sobre o estado do prédio já tinha destacado em 2018 “danos estruturais importantes”, assim como “rachaduras” no subsolo do edifício, segundo documentos divulgados por autoridades da localidade de Surfise.
A publicação na terça-feira de uma carta da presidente da associação de coproprietários, datada de abril, acendeu o debate sobre se o desastre poderia ter sido evitado.
“A deterioração se acelerou”, alertou. O engenheiro Allyn Kilsheimer, enviado pela localidade de Surfside para investigar as causas do colapso, declarou nesta quarta à CBS não ter detectado nada que fizesse pensar em um desabamento iminente. Provavelmente “uma combinação de fatores” provocou a queda, disse.
O especialista, que prestou assessoria após os atentados de 11 de setembro de 2001 e o terremoto na Cidade do México em 1985, disse que “todo tipo de coisas” podem ter incidido, de uma “explosão” até “a colisão de um automóvel contra uma coluna” ou “problemas com a laje ou com o cimento”. Os investigadores avaliam que saber o que realmente aconteceu levará meses.
Correio do Povo