A aliados, ex-presidente disse que espera receber carta branca para mudar rumos do governo
Foto: Evaristo Sá / AFP / CP
A presidente Dilma Rousseff se reuniu nesta terça-feira à noite com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, para acertar a entrada dele no ministério. Antes do jantar com Dilma, Lula disse a amigos que aceitaria assumir a Secretaria de Governo, hoje ocupada por Ricardo Berzoini, cargo para o qual já havia sido convidado. A ideia é que, além de cuidar da articulação política do governo com o Congresso, na ofensiva contra o impeachment, Lula fique responsável pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O Conselhão, como é conhecido, foi montado em 2003, no primeiro mandato de Lula, reunindo representantes do governo, de sindicatos, movimentos sociais e empresários. Foi abandonado por Dilma até que, no auge da crise política, ela pediu para o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, reativar o fórum. Agora, a presidente quer que Lula comande o Conselhão, que voltou a ficar subordinado à Secretaria de Governo, na luta contra o que o Palácio do Planalto chama de “golpe”.
No modelo apresentado a Lula, Berzoini atuaria em dobradinha com ele, na secretaria executiva do ministério. Até as 22h, porém, o jantar entre Dilma e Lula – com participação de Berzoini e Wagner – não havia terminado. Pouco antes de chegar a Brasília para a conversa com a presidente, Lula disse a um deputado de partido aliado: “Quero saber o que ela espera de mim”.
O ex-presidente condicionava a entrada na equipe a uma espécie de carta branca para mudar os rumos do governo e até mesmo a política econômica. A deputados e senadores do PT, Lula chegou a afirmar que a salvação de Dilma depende de uma guinada na economia.
Assustado com o tamanho dos protestos de domingo, os maiores da história do País, e com a debandada dos aliados, principalmente do PMDB, Lula avalia que o governo e o PT precisam anunciar medidas para o “andar de baixo” porque só isso impedirá a queda de Dilma. Ele defende, por exemplo, o uso de um terço dos US$ 372 bilhões das reservas internacionais para investimentos, hipótese até agora descartada por Dilma.
Foro privilegiado
No governo, o ex-presidente ganha foro privilegiado de julgamento. Isso significa que, em caso de denúncia criminal, uma ação contra ele terá de ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal, saindo da alçada do juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância.
Lula é alvo da Lava Jato e, além disso, Moro será o encarregado de decidir se aceita ou não o pedido de prisão preventiva contra ele, apresentado pelo Ministério Público de São Paulo, que o acusa de ocultar um tríplex no Guarujá, reformado pela empreiteira OAS. O ex-presidente nega a propriedade do imóvel e também de sítio em Atibaia, que recebeu benfeitorias de empresas investigadas no esquema de corrupção da Petrobrás.
Em mais um capítulo da crise política, a delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS), homologada nesta terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal, foi considerada explosiva pelo Planalto. A certa altura, assessores de Dilma diziam que o depoimento de Delcídio poderia fazer com que Lula suspendesse a decisão de assumir a Secretaria de Governo. À noite, porém, um interlocutor do ex-presidente afirmou à Agência Estado que ele estava “muito disposto” a ajudar Dilma.
Nos depoimentos à Procuradoria Geral da República, Delcídio citou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e disse que ele teria tentado comprar o seu silêncio.Mercadante negou. Além disso, o senador apontou o dedo para Lula e afirmou que o ex-presidente “teve participação em todas as decisões relativas às diretorias das grandes empresas estatais, especialmente a Petrobrás”.
Delcídio disse ainda que Lula sempre foi muito próximo de todos os tesoureiros do PT e que, “com o advento da Operação Lava Jato, continuou a adotar o mesmo comportamento evasivo visto durante a crise do mensalão”. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma afirmam que, mesmo sem provas, a delação de Delcídio preocupa o governo e pode ter forte impacto sobre o processo de impeachment.
Oposição
A oposição vai apresentar uma ação popular que será protocolada em todos os Estados e no Distrito Federal para tentar barrar a nomeação do ex-presidente Lula como ministro. De acordo com os oposicionistas, a ideia é fazer com que qualquer juiz de Primeira Instância possa proferir uma decisão sobre o assunto.
Ainda segundo a oposição, se algum magistrado decidir pelo impedimento e se o governo insistir em sua nomeação, a presidente Dilma estaria incorrendo no crime de desobediência. Em um ato realizado ontem na Câmara, os oposicionistas disseram que a indicação do ex-presidente é “um tapa na cara dos brasileiros honrados”. “Lula quer fugir da polícia”, concluiu o líder do PPS na Casa, Rubens Bueno (PR)
Correio do Povo