No fechamento, o dólar à vista terminou em queda de 1,62%
O dólar operou todo o dia em forte queda ante o real, chegando na mínima a recuar a R$ 5,25, no menor nível diário desde 18 de janeiro. As projeções de mais altas de juros no Brasil e a perspectiva de ingresso de capital externo no País ajudaram o real a ter o melhor desempenho no mercado internacional nesta quinta-feira, 6, considerando as 34 divisas mais líquidas. O movimento foi ajudado pelo dia de baixa do dólar nos emergentes. Além disso, grandes investidores têm feito grande desmonte de posições contra a moeda brasileira no mercado futuro da B3, que só na quarta-feira, 5, somou US$ 2 bilhões.
No fechamento, o dólar à vista terminou em queda de 1,62%, a R$ 5,2779, no menor valor deste o dia 14 de janeiro. No mercado futuro, o dólar para junho cedia 1,50% às 17h35, a R$ 5,2875.
O Bank of America prevê mais duas elevações de 0,75 ponto porcentual, uma em junho e outra em agosto. Já a consultoria inglesa TS Lombard vê o risco de o BC ter de elevar a Selic a 6,5% até o fim do ano, caso haja piora do risco fiscal e uma desancoragem das expectativas de inflação para 2022. O banco suíço Julius Baer elevou a previsão de Selic ao final de 2021 de 4,5% para 5%.
Caso não haja piora dos riscos fiscais, os economistas do Citi avaliam que o juro mais alto tende a igualar as taxas do Brasil a de outros emergentes, trazendo de volta as operações de ‘carry trade’, quando um investidor toma recurso em um país de juro zero e aplica em outro de taxa mais alta. Atualmente, o México, com juro de 4%, era o mercado na América Latina que vinha sendo alvo desse tipo de operação, enquanto no Brasil o câmbio passou a ser usado como um instrumento de proteção (hedge) para outras estratégias, por causa do custo baixo. Esse movimento pressionava adicionalmente o real.
Neste contexto, o Citi espera que o real tenha desempenho levemente melhor em comparação a outras moedas emergentes do que nos últimos anos, quando acumulou o posto de pior divisa internacional.
“Tende agora a ter atratividade maior para o investidor estrangeiro alocar seus recursos aqui”, afirma o economista da Amplla Assessoria em Câmbio, Alessandro Faganello, destacando que o BC não só elevou os juros em 0,75 ponto na quarta como sinalizou outro aumento da mesma magnitude em junho.
Para o analista de pesquisa de estratégia de mercados emergentes do Julius Baer, Mathieu Racheter, a mensagem do BC é de juros mais altos e deve ajudar o real no curto prazo. Mas mesmo com a Selic em alta, o grupo financeiro suíço está mais cauteloso com o Brasil e recomenda a seus clientes que sejam “seletivos” com ativos brasileiros, em meio a um cenário incerto, com a antecipação da campanha presidencial de 2022, com a volta do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao jogo, além de uma retomada econômica ainda lenta por causa da pandemia.
Juros
Os juros futuros encerraram a quinta-feira em alta nos vencimentos de médio e longo prazos e estáveis nos demais prazos. A sessão pós-Copom foi de volatilidade, com o mercado digerindo o comunicado sobre a decisão de elevar a Selic para 3,5% e sob o impacto do recuo do dólar abaixo dos R$ 5,30. O dia ainda teve leilão de títulos prefixados, com volume bem menor de NTN-F em relação ao anterior e ligeiramente acima no caso da oferta de LTN.
A sinalização do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para os próximos meses resultou em ajustes na precificação da curva para a taxa básica, fortalecendo a aposta de novo aumento de 0,75 ponto porcentual para o encontro de junho, como indicaram os diretores.
As taxas começaram o dia perto da estabilidade, engataram queda a partir do fim da manhã, mas na última hora de negócios passaram a exibir alta nos vencimentos longos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 4,80%, estável ante o ajuste de quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,956% para 8,03%. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 8,65%, de 8,564% no ajuste anterior.
A interpretação do texto do Copom foi difusa, com dificuldade em se qualificar como hawkish ou dovish, o que trouxe hesitação para as taxas no começo do dia.
Ao mesmo tempo em que manteve a ideia de que o ciclo será de recomposição parcial da Selic, o Copom preferiu se precaver afirmando que isso não necessariamente representa um compromisso e deixando algum espaço para reconduzir a Selic para o chamado nível neutro. Também contratou novo aumento de 0,75 ponto para junho, o que não foi surpresa, mas ao mesmo tempo visto como um sinal conservador, uma vez que em apenas três reuniões o ajuste já terá chegado a 2,25 pontos.
Para Sérgio Machado, sócio-gestor da Trópico SF2, o Copom “se esmera” em ser confuso na comunicação. “A prova disso é a percepção diversa dos agentes”, escreveu em sua conta no Twitter. “Vamos ver quem ganha a briga: as pombas ou os falcões. Nada como um BC para imputar volatilidade na curva de juros.”
Na avaliação do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, um ajuste parcial no processo de normalização é insustentável. “A melhor alternativa seria reconhecer explicitamente que perseguirá o ajuste integral, sem, contudo, comprometer-se por atingir no novo equilíbrio dentro do ano calendário nem com a magnitude dos próximos reajustes”, afirmou, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Como resultado do Copom, a curva tinha precificação de 82 pontos-base de alta para o encontro de junho, ainda com cerca de 25% de chance de aumento de 1 ponto porcentual. Os cálculos são do economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, que pondera que o mercado esteve nesta quinta-feira muito contaminado pelos ajustes técnicos típicos de pós-Copom. “Isso deve se acomodar nos próximos dias, a probabilidade de 1 ponto para junho ainda está muito forte”, disse.
Bolsa
Em um pregão vespertino marcado pela estabilidade, o Ibovespa acabou ganhando tração na reta final da sessão de negócios diante da aceleração do ritmo de alta de seus pares em Nova York e, localmente, um avanço mais forte das ações da Vale – que passou o dia valorizada impulsionada pela cotação do minério de ferro, que rompeu marca dos US$ 200 por tonelada no porto chinês de Qindao.
“A gente teve a Vale com movimento muito expressivo e os outros ativos chamados de primeira linha, os mais negociados, em queda. Há, pontualmente, movimentos relacionados às questões corporativas, com o resultados dos balanços”, nota Ariane Benedito, economista da CM Capital.
Pelo lado negativo, ações do setor financeiro e da Petrobras, que acompanhou a queda das cotações dos contratos futuros de petróleo nesta quinta-feira em razão da percepção no mercado de que a piora da pandemia na Índia representa riscos para a demanda.
Ainda que os índices pares em Nova York oscilassem em alta nesta tarde, analistas apontam que a agenda esvaziada deixou os investidores na bolsa local em compasso de espera pelo resultado dados do mercado de trabalho americano, o payroll, na sexta-feira.
“Vamos para o tudo ou nada no mercado acionário com o payroll”, disse Benedito, que espera que as informações venham melhores do que as divulgadas no mês anterior, mas abaixo das expectativas dos agentes do mercado, o que pode amenizar o mau humor.
“Há pitadas de coisas aleatórias, como mais uma questão envolvendo a China e o presidente Jair Bolsonaro. Vão se somando ruídos, coisas de curto prazo e as pessoas vão perdendo o ânimo de alocar capital”, afirmou um analista, colocando nesse contexto também o avanço do coronavírus com descobertas de nova variante no Brasil.
Nesta quinta-feira, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o país se opõe “firmemente” à tentativas de “politizar e estigmatizar” o coronavírus. “O vírus é o inimigo comum da humanidade. A tarefa urgente agora é que todos os países se unam na cooperação antiepidêmica e se esforcem por uma vitória rápida e completa sobre a epidemia”, disse Wenbin.
Correio do Povo