MEMÓRIAS DE SARANDI 43
Época: Década de 1940
Humberto Tesser Paris
FRA GIOVANNI
Esta é mais uma história contada pelo meu irmão Artemio Paris.
Havia um italiano chamado Fra Giovanni que morava no que o Atemio definiu como um barracão, na avenida Expedicionário entre a casa da Dona Nana e onde morou depois o professor Rosin.
Meu irmão acha que o Fra era de frade, pois ele tinha uma barba grande e esbranquiçada.
O Fra Giovanni fazia restaurações de imagens de santos (estátuas) e havia algumas que podiam ser vistas em seu ateliê.
Ele possuía um curioso caderninho com folhas douradas que eram usadas nas restaurações, que despertavam o interesse dos guris.
Contudo, Sarandi não era a Itália, não havendo assim trabalho suficiente para lhe prover o sustento.
Ele tinha uma carroça e um cavalo e andava pelas colonias adquirindo nozes e as armazenava no canto de uma sala, formando um grande monte.
De tempos em tempos elas eram enviadas para venda na capital Porto Alegre.
Mas aquele monte de nozes era tentador e piazada, a qual o Artemio se incluía, entrava no barracão para roubá-las.
Uma vez ele estava entrando furtivamente e o Fra Giovanni, percebendo, escondeu-se atrás da porta. Quando botou a mão na porta, o Fra bateu de leve com a bengala nos dedos do Artemio, que, assustado, saiu correndo.
O Fra, com ar de satisfação e não de brabeza, ficou dizendo:
“Ó pilhato, ó pilhato”.