Presidente vinculou troca na PF à proteção dos filhos em reunião ministerial citada por Moro, segundo fontes
Os investigadores avaliam que o material é “devastador” para o presidente. Entendem que a gravação confirma cabalmente as acusações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro que atribui ao presidente tentativa de interferência na corporação, o que levou à abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Conforme informou o jornal O Estado de São Paulo, a reunião foi marcada por palavrões, briga de ministros, anúncio de distribuição de cargos para o Centrão e ameaça de Bolsonaro de demissão “generalizada” a quem não adotasse a defesa das pautas do governo.
“O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim”, anotou uma das fontes que teve acesso ao conteúdo. O Estadão não obteve a íntegra do vídeo, que segue mantido sob sigilo.
O registro da reunião foi exibido nesta terça, a um restrito grupo de pessoas autorizadas pelo ministro Celso de Mello , relator do inquérito sobre suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. A exibição foi realizada no Instituto Nacional de Criminalística da corporação em Brasília, “em ato único” – conforme determinado por Celso – com participação de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União e procuradores e investigadores que acompanham o caso.
O vídeo tem cerca de duas horas e o início da exibição atrasou porque foi necessário fazer um espelhamento da mídia para garantir a integridade dos arquivos originais, afirmam fontes. O procedimento durou mais de duas horas e meia. Todos que acompanharam a exibição tiveram que ficar sem o celular durante a sessão.
Advogado afirma que vídeo confirma declaração de Moro
Após a exibição o advogado de Moro, Rodrigo Sánchez Rios, afirmou que o material “confirma integralmente” as declarações dadas pelo ex-juiz tanto no anúncio de sua demissão quanto no depoimento prestado à Polícia Federal no último dia 2.
Em nota, o advogado afirmou ainda que o vídeo “não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional” e defendeu que a íntegra da gravação seja tornada pública.
Nos bastidores, a defesa de Moro classifica a frase de Bolsonaro como “confissão” de interferência política e o vídeo como “prova material” para as acusações que Moro fez de interferência política na PF.
Outra forte expectativa é quanto aos depoimentos dos três generais do Planalto, na tarde desta terça-feira: Braga Neto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Segundo Moro, os três testemunharam as pressões do presidente para intervir politicamente na Polícia Federal.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril não contém as palavras “Polícia Federal”, “investigação” e nem “superintendência”. “Vocês vão se surpreender quando esse vídeo aparecer”, disse o presidente, na rampa do Palácio do Planalto. “Continuam desinformando a mídia. Esse informante, esse vazador está prestando um desserviço. Não existe no vídeo a palavra ‘Polícia Federal’ e nem ‘superintendência”, insistiu.
Bolsonaro garantiu, ainda, que a palavra “investigação” também não foi citada na reunião, ao contrário do que disse Moro em depoimento à PF.