Ministro disse que só vai recomendar uso se Conselho Federal de Medicina considerar viável tratamento da Covid-19 com a substância
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou o governo de São Paulo, em entrevista coletiva, nessa quarta-feira, sobre as medidas da Pasta para combater a Covid-19. Mandetta classificou como “política” a citação ao nome dele feita pelo governador João Doria, no início da tarde.
O chefe do Executivo paulista disse que o médico infectologista David Uip — que coordena o Centro de Contingência do coronavírus em SP —, em conversa com o ministro, é quem havia sugerido a distribuição da cloroquina em toda a rede pública. Doria rebatia declarações feitas, ainda pela manhã, pelo presidente Jair Bolsonaro, que defende o uso da substância em pacientes de Covid-19. Bolsonaro sugeriu que Uip e o também médico Roberto Kalil Filho haviam se curado da doença com o emprego do remédio e mantido a informação “em segredo”. Na mesma coletiva em que Doria se manifestou, Uip pediu “respeito” ao presidente.
À tarde, Mandetta reforçou que a definição médica individual é o que deve ser considerado no tratamento da doença. O ministro também disse que só vai recomendar a cloroquina e a hidroxicloroquina caso elas sejam referendadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como medicamentos viáveis no tratamento contra o novo coronavírus.
“Em uma videoconferência com o CFM e David Uip, discutimos se utilizaríamos cloroquina nos (pacientes) graves. Deliberamos que quem analisa é o CFM. Hoje este medicamento não tem paternidade, o governador (de São Paulo, João Doria) não precisa querer politizar o assunto, ele está colocado. Quando a gente coloca situações que possam ser complexas, nós precisamos que os conselhos analisem”, disse o titular da Saúde.
Mandetta ponderou que ministrar a hidroxicloroquina pode ser “complicado” antes do diagnóstico de Covid-19, uma vez que muitas pessoas recorrem aos hospitais com sintomas de síndrome gripal e leva um tempo até o diagnóstico e identificação correta do novo coronavírus.
“Outra dúvida, 85% das pessoas que têm sintomas ficam bem tomando tylenol e se curam. Será que seria inteligente dar remédio para 85% das pessoas que não precisam dele e tem efeitos colaterais?”, questionou, lembrando que o medicamento pode gerar arritmia, com riscos a pacientes que não estejam em ambiente hospitalar.
No último posicionamento sobre o tema, o Conselho Federal de Medicina esclareceu em nota que até o momento a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda nenhum tratamento e que “não há estudos conclusivos que comprovem a eficácia e segurança do uso de medicamentos que contêm cloroquina e hidroxicloroquina” para casos de Covid-19.
Respiradores produzidos no Brasil
Mandetta também relatou que um dos processos de compra feitos pela pasta não vai ser cumprido. Segundo o ministro, uma empresa chinesa que era responsável pela entrega de 15 mil unidades de respiradores mecânicos – equipamento essencial para tratar pessoas infectadas com o novo coronavírus em situação mais grave não deu garantias de entrega.
Para solucionar o desfalque do material, Mandetta informou que há um projeto de parceria para expandir a capacidade de produção nacional de respiradores. Uma firma que fabrica cerca de 500 por dia fechou acordo para a entrega de 6,5 mil unidades em um prazo de três meses para o governo federal.
Segundo o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, a meta é garantir que companhias nacionais viabilizem no total 14 mil respiradores, sendo sete mil para Unidades de Tratamento Intensivo e sete mil para transporte de pacientes em estado grave.
EPIs e testes
Em relação aos equipamentos de proteção individual (EPIs), o ministro afirmou de que já foram repassados mais de 50 milhões aos estados e que, na próxima sexta, a perspectiva é que chegue um novo carregamento de 40 milhões. Já os testes rápidos tiveram 500 mil kits distribuídos e, também até sexta, a promessa é de entrega de mais 1 milhão de exames.
Aporte
De acordo com Mandetta, o Ministério da Saúde já aportou R$ 7,6 bilhões em ações de prevenção e combate ao novo coronavírus. Do montante, R$ 600 milhões foram repassados aos estados para planos de contingência, somados a R$ 430 milhões, proporcionais à população de cada unidade da Federação. Cerca de R$ 900 milhões foram destinados ao programa Saúde na Hora, R$ 1,5 bilhão para compra de EPIs e R$ 650 milhões para leitos de UTI voltados a pacientes com Covid-19.
O valor vai ser dobrado, de R$ 1,6 mil por dia, para os leitos habilitados durante o período da pandemia, e mantido durante três meses. O recurso viabiliza despesas como luz, pessoal e outros gastos com manutenção.
Além disso, está em construção o primeiro hospital de campanha em Goiás, na região do entorno do Distrito Federal. Conforme Mandetta, a decisão de criar o centro de apoio a pessoas infectadas pelo novo coronavírus se deve ao fato de o governador, Ronaldo Caiado, ter solicitado ajuda emergencial.
Outras estruturas semelhantes poderão ser montadas para atender populações indígenas. Um caso de Covid-19 já se confirmou em uma tribo da etnia yanomami.
Hospitais de pequeno porte
O ministério anunciou hoje também que autorizou o uso de leitos de cuidado prolongado de hospitais de pequeno porte para tratamento de pacientes provenientes de UTIs e outros leitos a fim de desafogar as unidades de saúde dos grandes centros diante do crescimento da demanda ocasionado pelo avanço da pandemia do novo coronavírus. A permissão vai ser concedida a hospitais com até 49 leitos, desde que pelo menos um dele tenha atendimento ao Sistema Único de Saúde. A medida é de caráter temporário.