O velório do Nonno
O Nonno morreu em 1980, dez anos depois da Nonna e ainda viúvo.
Na realidade, de seu velório pouco sei , pois estava na praia com minha primeira filha, ainda um bebê, praticamente incomunicável, sem carro e sem telefone, já que este só existia na central de Atlântida e mesmo assim com agendamento prévio.
Então só fiquei sabendo de sua morte à noite , quando meu marido chegou com a notícia e só viajamos para Sarandi na manhã seguinte. Sabendo que perderíamos o enterro.
Viajei triste, cheia de lembranças do Nonno, do jeito que ele cheirava nossas cabeças nos chamando de “benedettas” , sempre orgulhoso de seus netas. Conforme íamos nos aproximando da cidade fui sendo tomada pela emoção e ao chegarmos estava pronta para desabar em prantos.
Estranhamente, nossa rua estava lotada de carros estacionados, coisa rara na época.
Descemos desconfiados e fomos surpreendidos por uma multidão de parentes que após o sepultamento estavam churrasqueando, tomando um vinho e já meio “tchucos” conversando aos brados e disputando a palavra como todos os bons Grapiglias, conversadores natos.
Outros rindo desbragadamente, enquanto observavam o Tiozão deitado de bruços no chão, gemendo, enquanto um primo que se dizia quiroprático, fazia massagem, sentado em suas costas. Pretensamente, dando um jeito em sua sequelada coluna de dentista.
Meu marido, entre escandalizado e maravilhado com o surrealismo do momento deu de cara com “una vera famiglia” italiana. Sim, uma família consternada com a morte mas também uma família celebrando a vida. Irmãos, filhos, netos, primos, sobrinhos vindos do Paraná e do interior do Rio Grande do Sul, que aproveitavam o momento único para confraternizar , pois muito provavelmente só se veriam no próximo velório e então um deles estaria faltando.
Viviane M Foresti
