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sábado 23 novembro 2024
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Bolsonaro une creches com ensino religioso

Plano para eventual governo prevê vagas para crianças de 0 a três anos vinculadas a igrejas

Plano para eventual governo prevê vagas para crianças de 0 a três anos vinculadas a igrejas | Foto: Mauro Pimentel / AFP / CP

Plano para eventual governo prevê vagas para crianças de 0 a três anos vinculadas a igrejas | Foto: Mauro Pimentel / AFP / CP

Economistas que assessoram o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) preparam um plano para ampliar vagas em creches que prevê ensino religioso para crianças de 0 a três anos. Direcionada para famílias pobres, com renda per capita de até um salário mínimo, a medida pretende universalizar o acesso à creche. Segundo o documento, para alcançar essa meta, o governo repassaria dinheiro para instituições não governamentais, como igrejas, e para pais que optarem por escolas particulares.

Hoje, há creches conveniadas às prefeituras, mas as instituições sem fins lucrativos precisam provar que já trabalham com educação. O projeto cita que “serão estipulados indicadores da qualidade dos serviços”, com punição de descredenciamento para as instituições que não cumprirem os requisitos. A proposta não detalha, porém, como será a seleção das entidades.

A ideia em análise prevê que convênios com escolas privadas sejam feitos por meio da política conhecida como vouchers, alinhada com o projeto liberal do economista Paulo Guedes, que coordena boa parte do plano de governo de Bolsonaro. Por esse sistema, o governo repassaria dinheiro às famílias pobres para que elas paguem creches privadas. O presidente americano Donald Trump deu ênfase aos vouchers. Mas o sistema ainda é controverso por lá.

No Brasil, só 30% das crianças de 0 a três anos estão em creches. O Plano Nacional de Educação prevê que o atendimento seja de 50%. Pesquisas têm mostrado que a educação infantil de qualidade é crucial para o desenvolvimento.

O custo do projeto seria de R$ 49 bilhões, o equivalente a metade do orçamento atual do Ministério da Educação (MEC). Os cálculos foram feitos por Alexandre Ywata e Adolfo Sachsida, ambos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma fundação pública vinculada ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Eles têm papel de destaque nas discussões do programa de Bolsonaro e atuam na campanha em suas horas vagas.

A proposta prevê que o governo federal repasse R$ 7 mil por aluno ao ano e projeta vagas para cerca de seis milhões de crianças que estão fora das creches. “É interessante a ideia de priorizar as vagas para os mais vulneráveis, mas não consigo saber de onde vai sair tanto dinheiro”, diz a especialista em financiamento da educação Mariza Abreu. Segundo ela, a previsão é que o MEC destine este ano R$ 13,6 bilhões para todo o ensino básico, que inclui creches, pré-escolas, fundamental e médio, por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

Os desembolsos começariam em 2019. No primeiro ano, seriam R$ 12 bilhões para famílias com renda de até um quarto de salário mínimo per capita. O montante seria elevado gradualmente até chegar a R$ 49 bilhões. A elevação de gastos seria compensada pelo fim de desonerações tributárias – isenções dadas a empresas que tiveram o pagamento de tributos reduzido temporariamente. O programa de Bolsonaro considera como “fundamental” a redução das renúncias fiscais. O problema é que o mesmo programa fala em zerar já em 2019 o déficit nas contas públicas. Como ele já prometeu que não irá aumentar impostos, a equipe de Guedes terá de promover um expressivo corte de despesas.

Creches com ensino religioso também são vistas com ressalvas. Segundo a lei, ele pode ser oferecido só no ensino fundamental (1º ao 9º ano) e “com respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Em 2017, no entanto, o Supremo Tribunal Federal declarou que não era inconstitucional oferecer ensino confessional – direcionado a uma religião.

Correio do Povo




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