Esse texto é diferente do que costumo publicar, me foi dito que não vai fazer ninguém rir, nem fazer nenhum bem e portanto desnecessário. Mas como discordei, cá estou eu.
Dessa vez espero fazer pensar em vez de sorrir.
Sigam por sua conta e risco.
Setembro amarelo
Não, não vou falar das flores da primavera, vou falar do “Setembro Amarelo”, o mês escolhido para ser o do combate ao suicídio.
A idéia, me proporcionou a coragem necessária para falar desse assunto tão espinhoso e temido.
Para muitos um tabu.
Para mim uma realidade dolorosa, em toda a minha vida.
O primeiro aconteceu quando eu tinha por volta de dois anos, e obviamente não lembro de nada, apenas das consequências que indiretamente, acabaram por afetar minha família.
Um irmão de minha mãe, com apenas 24 anos, enforcou-se na oficina de marcenaria de seu pai, onde trabalhava com seus irmãos e tornou-se um fantasma, que atormentava minha vó, minha mãe e assombrava a tal oficina, onde eu adorava brincar no meio da serragem.
O segundo, talvez consequência do primeiro,(aliado ao fator genético da depressão) do qual, minha Nonna jamais recuperou-se. A depressão foi progressivamente tomando conta dela, em um tempo em que essa doença era considerada fraqueza ou loucura. Tratamento? Não existia. Lutou durante uns 12 anos mas aos 64 perdeu a batalha.
Quando eu tinha 14 anos, após uma tentativa fracassada, ela finalmente conseguiu ingerir a dose certa de veneno e acabar com seu sofrimento. Até hoje lembro dela me pedindo perdão, deitada no leito do hospital. Eu, que egoisticamente me considerava sua neta predileta, não conseguia entender a dimensão de tudo aquilo, e nem consolá-la; triste lembrança.
O terceiro, ocorreu quando eu tinha 38 anos e aconteceu com minha mãe, que aos 59 anos,com uma overdose de medicamentos acabou com a tristeza que sentia. Perdeu a luta de uma vida contra a depressão, herança genética, herança maldita, como ela se referia a doença.
Imagino, que para o suicida a morte seja uma benção, o fim de uma agonia, uma libertação!
A luz no fim do túnel para uma mente atormentada por sentimentos fora de seu controle. Assim prefiro de pensar.
Para os que ficam, resta a dor e a impotência diante de algo acima de seu amor, de seu esforço e de sua capacidade de compreensão. A sensação de que deveríamos ter percebido e evitado o sofrimento do ente querido.
Também ficamos presos em um limbo, onde não se fala no assunto, principalmente com os outros.
Quando se perde alguém, por doença ou velhice temos tempo de nos preparar, chorar, aceitar, e depois consolar-nos com as pessoas próximas.
Quando se perde alguém, que por vontade própria encerrou sua vida, não temos tempo para nada. É um choque de realidade, um soco no estômago, que nos desestrutura por muito tempo e que temos de elaborar sozinhos. Não dá para consolar-nos com ninguém, pois poucas pessoas conseguem falar sobre o assunto sem constrangimentos e julgamentos
desnecessários.
Ficamos sós, como Don Quixote a lutar contra os moinhos de vento.
Viviane M Foresti