Licença da ANTT para linha Posadas-Florianópolis é para BR 470
| Foto: Rosane Lima / Notícias do Dia / Especial / CP
A empresa Reunidas não tem autorização da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) para trafegar com a linha Posada-Florianópolis pela BR 282, entre Lages e Florianópolis. Depois de Lages, esta linha tem que ser feita pela BR 470, segundo nota emitida pela empresa. É este o trajeto que está no site da Reunidas, mas não foi o que fez o motorista Marcos Rudimar Lopes Machado, 53 anos, um dos nove mortos no acidente no Km 109, em Alfredo Wagner, na madrugada de domingo. O acidente acarretou na morte de 21 pessoas feridas – dez seguem internadas em hospitais de Florianópolis, São José e Lages. Além das causas do acidente, este é mais um motivo a ser investigado pela Polícia Civil.
A ANTT, por meio de nota, informou que aguardará a conclusão do inquérito policial para tomar as medidas administrativas necessárias, que podem variar entre multas até a suspensão da concessão do serviço da Reunidas. Ao ND, o advogado da empresa, Anderson Marins, afirmou que a prioridade “foi e continua sendo o atendimento às vítimas”.
A empresa, de Caçador, Oeste do Estado, refuta informações dando conta do excesso de velocidade no momento do acidente e de suposto descumprimento de escalas e horários determinados pela legislação. Na medição preliminar do tacógrafo, o disco aponta que o ônibus estava a 122 km/h. “Não vamos falar sobre essa autorização para trafegar”, disse Marins.
Além de não estar autorizada a fazer a linha Posadas-Florianópolis pela BR 282, a Reunidas tem contra si oito inquéritos civis espalhados por promotorias do Estado. Todas as ações estão em andamento, e boa parte se refere a problemas de limpeza, manutenção e um caso de motorista flagrado falando ao celular durante a viagem.
Troca de motorista foi em Passo Fundo
Inicialmente, a Reunidas sustentou que a troca de motoristas havia acontecido em Lages, na última parada do ônibus antes do acidente. Para o policial civil Vanderlei Kanopf, da delegacia de Alfredo Wagner, a informação não é verdadeira. A última troca de motorista, garante, aconteceu em Passo Fundo (RS), cerca de seis horas antes do acidente. “A troca de motoristas foi em Passo Fundo, isso é certo. É preciso aguardar os resultados das perícias para tentar determinar o que causou o acidente, que pode ter sido falha mecânica, humana ou outro fator ainda desconhecido”, afirmou.
De acordo com a ANTT e o site da Reunidas, depois de parar em Lages o veículo deveria seguir para a BR 470, por Rio do Sul, Ascurra, Blumenau e, já na BR 101, passar por Itajaí, Balneário Camboriú, Itapema e Florianópolis. “Não prestei atenção na rota, a gente queria apenas que a viagem fosse concluída com sucesso”, disse Tereza Silva Alves, 21 anos, uma das sobreviventes do acidente.
Todos os inquéritos que tramitam no Ministério Público catarinense contra a Reunidas tratam de violação aos direitos dos consumidores. Estão incluídas ações por problemas de higiene, falta de manutenção no interior do veículo e até uma por supostamente vender passagens tendo como destino a estação rodoviária de Gaspar e, na hora do desembarque, deixar os passageiros em outro local que não o indicado inicialmente.
“O ônibus vinha muito rápido”, diz sobrevivente
Sentada na poltrona 33, na janela, Tereza Silva Alves, 21 anos, acordou pouco antes do acidente. Ao despertar, algo lhe chamou a atenção. “O ônibus estava muito rápido, a velocidade causava um barulho estranho. Não demorou e outros passageiros fizeram a mesma reclamação. Daí alguns acenderam as luzes e, nesse momento, sentimos o ônibus perder o controle… Daí tudo escureceu”, contou a gaúcha de Passo Fundo que está em Florianópolis, se recuperando do trauma no lugar onde pretende recomeçar a vida. “Eu vim para morar aqui. Se sobrevivi a esse acidente é porque devo ficar”, disse. Antes do recomeço, Tereza deseja, como todos os sobreviventes, que a causa do acidente seja identificada logo. “O culpado, seja ele quem for deve responder pelo ocorrido”, cobrou.
Tereza afirmou que “o ônibus parecia estar bem, mas o motorista viajava acima da velocidade, senão outros passageiros não teriam reclamado”. Ainda tensa com o susto, ela agradecia por ter sobrevivido mesmo sem estar com cinto de segurança. Um descuido que cometeu após retornar do banheiro. “Tirei o cinto e depois esqueci de colocá-lo. Mas minha sobrinha estava com o cinto”, ressaltou.
Tereza viajava acompanhada da sobrinha, Amanda de Vargas, 18 anos. Ela embarcou em Passo Fundo. Ontem, ainda estava com os pés inchados e com dores pelo corpo. A sobrinha, como ela, teve ferimentos leves. Os minutos seguintes ao acidente, contudo, são os que custam a sair da memória. “Eu desmaiei na hora do capotamento, mas acordei depois em meio ao início de atendimento às vítimas. Era horrível, muitos gritos e sangue. Ainda bem que saímos quase ilesas de um acidente tão grave”, contou.
BR 282 está entre as piores rodovias do país
O trecho da BR 282, entre Florianópolis e Lages, está entre as piores rodovias federais avaliadas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) no ano passado. Das 109 estradas analisadas na 18ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, o trecho catarinense da BR 282 aparece na 92ª colocação, com avaliação de regular.
As condições da pista, que chegou a liderar o número de mortes nas rodovias federais em Santa Catarina no início de 2013, não estão boas em toda a extensão. Em dezembro do ano passado, o Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit) rescindiu o contrato com a empresa designada para fazer a conservação, manutenção e restauração da malha rodoviária, “por falta de atendimento”.
Na BR 282, há problemas de trincas, fissuras, deformações e afundamentos em diferentes trechos, além de desgaste na sinalização horizontal. Além disso, os trechos de pista simples, o tráfego intenso de caminhões e os pontos de curvas, declives e sem acostamento, principalmente na região entre Alfredo Wagner e Rancho Queimado, onde aconteceu o acidente com o ônibus da Reunidas, exigem mais atenção dos motoristas.
Fonte Correio do Povo.