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quinta-feira 21 novembro 2024
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Pessoas falsas – Paulo Henrique

Pessoas falsas 

Por muitas razões as pessoas, muitas vezes, têm deixado de ser honestas nas sugestões dadas; nas relações mais íntimas e até nas suas próprias preferências.

Ora o fazem para não melindrar alguém e ora deixam de fazer para ser agradável a outrem. Mas ainda existem aqueles que vão além–cultivam a falsidade com o intento de ridicularizar alguém ou até para serem considerados modernos, finos, de bom gosto…

Algumas situações embaraçosas e que aparentemente foram bem planejadas têm, entretanto, destruído algumas das intenções mesquinhas dos seus criadores. Sogra e nora eram absolutamente diferentes.

A primeira, milionária, porém, simples e autêntica. A nora, não. Com o casamento, conseguiu razoável posição social, mas até os seus gestos eram estudados; a voz tipo empostada; sua maneira de vestir e andar soavam falso. Contudo, ainda era tida como mulher de bom gosto.

E foi por causa desse “bom gosto” que a sogra lhe incumbiu de comprar alguns novelos de lã da melhor qualidade, para que ela crochetasse um xale. A única exigência era que fosse cor-de-rosa pálido, bem bonito!

A sogra ultimava o enxoval da sua caçula, que estava noiva. Julgando ser o referido xale para o enxoval da cunhada, a nora saiu para comprar a lã. “Cor-de-rosa–pensou–só poderia ser essa a cor em tom bem maravilha para satisfazer o gosto dos caipiras…”

Então, antegozando o prazer de ridicularizar, escolheu o tom rosa bem chamativo. O rosa-shocking! Voltou para casa triunfante. A sogra estranhou o bom gosto da nora, mas agradeceu-lhe e começou o trabalho. Era ela o protótipo da mulher virtuosa .

Tinha as mãos sempre ocupadas. O trabalho cresceu e a nora não poupava elogios à capacidade da sogra e à beleza do trabalho após concluído. Certa de estar mesmo correspondendo ao gosto da nora, ela caprichava no acabamento da peça, e quando já ultimava o remate do xale, a nora, maldosamente, sugeriu um laçarote em tom ainda mais vivo, nas duas extremidades.

Vendo que a sogra acatou sua opinião, ria-se intimamente ao imaginar a cunhada protegendo os ombros com aquele xale cafona, caipira…

E foi assim, diante das falsas exclamações de admiração, revestidas de ironia da nora que repetia sem se cansar–“que obra de arte! quanta perfeição!”– que a sogra, contando agora com a presença do filho, entregou o xale à nora dizendo: “É seu. Eu o fiz para você!

Foi por essa razão que lhe pedi que escolhesse o tom a seu gosto, pois já sabia que a cor era a da sua preferência”

O marido, que jamais percebera a falsidade da esposa, acabou por impor-lhe, involuntariamente, o maior castigo ao dizer: “Hoje jantaremos fora com nossos amigos e quero que use o xale que representa a fusão do seu bom gosto com a capacidade artística da mamãe!”

Paulo Henrique




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