Relatos de abuso sexual contra crianças e adolescentes diminuíram em relação ao ano passado
Foto: Polícia Civil / Divulgação / CP
Quase cinco mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes de todo o País foram registradas nos primeiros quatro meses deste ano pelo Disque 100. Ao todo foram 4.953 denúncias entre janeiro e abril.
O número é menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando o serviço do governo federal recebeu 6.203 denúncias. Os dados foram divulgados pela Ouvidoria Nacional da Secretaria Especial de Direitos Humanos. A maior parte das vítimas é do sexo feminino. Segundo o estudo, 31% das denúncias indicam violência sexual contra adolescentes de 12 a 14 anos, 20% dos relatos se referem a jovens entre 15 e 17 anos. Crianças de 0 a 3 anos respondem por 5,8% das denúncias.
Para a coordenadora-geral de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Heloiza Egas, diversos fatores podem justificar a queda no volume de denúncias. O aprimoramento na classificação realizada pelos atendentes de cada caso. Este ano, segundo a coordenadora-geral, cada denúncia pode ser atribuída a outras categorias. Neste âmbito, o aplicativo Proteja Brasil é um exemplo citado por Heloiza. “O aplicativo é mais um dos canais de denúncias de violações de direitos humanos. Ele foi lançado inicialmente apenas para receber casos relativos a violações contra crianças e adolescentes. Agora, o usuário pode denunciar qualquer tipo de violação de direitos humanos, com acesso direto ao formulário e eliminando a etapa da ligação telefônica”, afirma.
A ouvidora Nacional de Direitos Humanos, Irina Bacci, acredita que a queda no número de denúncias não aponta a diminuição da violência. De acordo com ela, outros dois fatores influenciam a redução: o aumento do público atendido pelo Disque 100 e o aprimoramento da rede de proteção à criança e adolescente. “Até 2010, o Disque 100 era um espaço exclusivo para relatos de violações contra crianças e adolescentes. Depois, foi ampliado para acolher outras vítimas”, conta Irina. Quando um mesmo canal é usado para receber diferentes relatos, explica a ouvidora Nacional de Direitos Humanos, é normal que o quantitativo de cada segmento diminua.
Caso Araceli ainda é lembrado
Araceli Cabreira Sánchez Crespo, 8 anos, foi morta em 18 de maio de 1973. A menina foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada em Vitória, capital do Espírito Santo. O crime chocou o país, ainda mais que o corpo de Araceli foi encontrado carbonizado. No dia do crime, a ausência de Araceli foi notada pelos pais quando a menina não voltou para casa depois da escola. Pensando tratar-se de um sequestro, os parentes da menina distribuiram fotografias aos jornais locais.
O corpo da menina foi encontrado seis dias depois, nos fundos do Hospital Infantil de Vitória. De acordo com a promotoria capixaba, Araceli esperava o ônibus depois da escola, quando um dos acusados, que estava em seu Mustang, pediu para o cúmplice dizer para a menina que “Tio Paulinho” a chamava para levá-la para casa. Foi comprovado que Araceli foi mantida em cárcere privado no porão e no terraço do Bar Franciscano, que pertencia à família Michelini. O martírio da garotinha durou dois dias.
Os dois acusados, sob efeito de barbitúricos, teriam mutilado Araceli a dentadas. A menina foi levada agonizante ao Hospital Infantil pelos acusados, mas não resistiu. Os dois ainda permaneceram com o corpo, conservando-o sob refrigeração. Pouco tempo depois, jogaram ácido no cadáver para dificultar a identificação. Em seguida, deixaram os restos mortais num terreno próximo ao hospital. Apesar de serem os principais suspeitos, e testemunhas os acusarem, os dois homens nunca foram condenados.
Correio do Povo