NO DIA DAS MÃES
Sim, eu sei que você pensa que tudo já foi dito sobre as mães e que todas as homenagens e frases repetem-se umas às outras, mas nessa data há uma ou duas coisas que eu preciso dizer e das quais talvez nem todos tenham se dado conta.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que, como enfatizam impiedosamente os adolescentes, ninguém pediu para nascer.
Viemos de um momento de amor ou de descuido, viemos para o tormento ou para a glória, mas todos, por alguns meses, fomos essa mistura de medo e de esperança, um mistério crescendo no ventre sagrado de uma mulher.
E é de mistério que as mães são feitas: não se explicam seus poderes, seus dons, suas dores e deleites.
Só as mães podem entender outra mãe, como se falassem o idioma próprio do amor, sacerdotisas de um culto secreto e universal.
Nós somos porque elas foram, nossa mera existência é parte de uma corrente infinita de mães e isso enche meu coração de espanto a cada minuto.
Espanto, sim, e gratidão, porque essa vida que eu agora arrasto pelo labirinto do Tempo foi um dia um brilho nos olhos de uma moça apaixonada, uma criança à beira da morte chorando nos braços de uma mulher, um filhote de homem que podia ser tudo ou coisa nenhuma, porque filho é promessa e promessa é dívida.
No meu caso isso é bem claro: por não ser feliz como podia sinto-me em falta com minha mãe.
Sou um homem atormentado, feroz, insatisfeito, não entendo as pessoas, não entendo o mundo, não sei quase nada, não sou tudo o que poderia ser.
Mas o que quer que eu seja desfruta desse espetáculo da Vida a cada segundo e a cada segundo agradece aos ancestrais e às mães que me trouxeram aqui.
A Mãe e a Vida se confundem nessa trama febril que chamo de realidade e nenhuma delas tem culpa do que sou.
Tudo o que eu sei é que há uma boa razão para que a primeira palavra na boca das crianças seja também a última que os soldados feridos de morte chamam em seu desamparo final.
É que na verdade somos todos crianças nos braços da Vida, nossa Mãe universal.
Mãe sofre…mãe é sagrada.
A elas nosso amor e nossa eterna gratidão.
Antonio Augusto Fagundes Filho 2016