Ninguém fala nada dos metais pesados em meio a lama que desceram em direção ao rio e, ao entrarem em sua calha, além de acabar com a vida do rio vão se acumular no seu leito, infiltrar e contaminar o lençol freático, vão acarretar um processo de bioacumulação, fazendo com que o contaminante suba na cadeia alimentar provocando um aumento da concentração deste a cada nível trófico. E agora que este rejeito chegou ao oceano, ao contrário do que muitos acreditam, esse processo de contaminação desenfreada não vai acabar.
A Corrente do Brasil, que se desloca de norte para sul em nosso litoral, pode espalhar essa mancha de contaminação para as praias e manguezais do sudeste e do sul, contaminando toda a fauna marinha local.
Então não estamos falando de um acidente qualquer, estamos falando de um desastre que vai durar décadas para ser mitigado, e que vai afetar a vida de populações muito além de Mariana-MG. Mas não vejo ninguém falando sobre isso em longo prazo, talvez porque seja responsabilidade de uma empresa e de um governo omisso que isenta de uma fiscalização rigorosa aqueles que detêm o poder econômico em nossa sociedade.
Talvez se o nosso governo visse a multinacional Vale/Samarco como um grupo terrorista que assumiu a autoria do lançamento em massa de armas químicas em território nacional, medidas mais imediatas e eficazes estariam sendo tomadas para punir o atentado.
Ta todo mundo quieto porque o que os olhos não vêem o coração não sente. É assim com tudo o que corre em meio a lama e o esgoto de nossa sociedade. Ou alguém já viu obra de saneamento básico dar voto?
João Paulo Assis Gobo
Geógrafo, Mestre em Geografia Física/Climatologia
e
Doutorando em Geografia Física/Climatologia