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Um Guri Que Sabia de Menos – por CFVOGT

Um Guri Que Sabia de Menos

………Quando a minha infância terminou, não tive motivação para ficar na minha Terra Natal (Sarandi-RS). O Ginásio oferecia só um Curso: Contabilidade. A TV pegava só chuva! A Cidade ainda não tinha jornal! Fui para a Capital Gaúcha procurar trabalho. Confirmei com o Pai (Fridolino) o nome de todos os amigos dele e fornecedores da Loja, a Casa Santo Antônio. Foi arriscado atravessar as ruas com as malas. O Pai estava preocupado. Na Rua Voluntários da Pátria, visitei empresas tradicionais (Leão, Armarinhos Leão, Salvador Leão, Sogenalda, Empório dos Parafusos). Todos exigiam que Eu trabalhasse de manhã e de tarde. Ofereciam, apenas, um salário mínimo! Era, portanto, impossível, estudar no meu Colégio preferido, o Rosário, aonde a querida Professora Irmã Genoveva já me esperava de braços abertos. Ao visitar a Tia Sibila, encontrei-a sem memória (Alzheimer)!

………Naqueles dias incertos, Eu já nutria paixões certas: ser jogador de futebol, locutor, Escritor e Tenente do Exército! Treinei no Grêmio. Mandaram eu e o Bráulio embora, por enfeitarmos as jogadas! Fui fazer teste na Rádio “Caiçara, a música não para!”. Um Radialista educado entregou-me para ler, em voz alta, duas folhas transparentes no idioma Inglês… Após a leitura, tipo metralhadora, o “gentleman” disse, com polidez: “Nós vamos guardar o teste do  senhor. Quando a Caiçara precisar de Locutor, nós chamaremos!”. Estou esperando até agora.

………Compareci à Rádio Guaíba. Fui recebido, no prédio aonde hoje funciona o Museu Hipólito da Costa, pelo Radialista Cícero de Quadros Peretti, filho do granjeiro Domingos Peretti. Apresentava, na ocasião, o programa “A Música da Guaíba”. A voz dele era grave. Assustava as crianças. Entrei no estúdio… Ainda não sabia que era para pedir licença! Ele exclamou com serenidade: “Claudio, estou no ar!”. Respondi: “Cícero, estou no chão!”. Lembro-me de que acendia uma luz, depois apagava… Preciso sintetizar: aquele Locutor, da vanguarda da Imprensa Gaúcha, impressionou-me pela sinceridade e polidez! Foi claro: pela pouca idade, a minha voz ainda não estava pronta para ser Locutor da Guaíba! Apresentou-me conselhos para educar a voz. Listou-me várias outras profissões que poderiam fazer-me um profissional realizado e feliz. “Por que tu não entra no Exército?”. Traduzindo para o Tupi Guarani = a minha voz ainda era de “taquara rachada”.  Saí da Rádio Guaíba triste… Na minha Terra Natal, o público havia gostado do meu trabalho como Locutor (Rádio Sarandi). O Dr Maurício, da Piratini, fez-me uma proposta inovadora: cama, comida, roupa lavada e um salário… para trabalhar de manhã, de tarde e de noite!

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……..Na gigantesca Porto Alegre, Eu estava “tomando chumbo!”. Eu e dezenas de Sarandienses, que tiveram a coragem de deixar os Pais, as namoradas e os cachorrinhos para trás!

………Vou contar um segredo para o Amigo Leitor: quando o pensamento começa a vasculhar a trajetória dos guris daquela época, que decidiram enfrentar as incertezas do mundo, me emociono… Eles estão em Nova York, na Bélgica, em Dubai, no Irã, na África, na China, em Brasília, na Petrobrás, na Imprensa da Capital, no comando de grandes empresas, no topo da Justiça Brasileira… Por trás de profissionais brilhantes, esconde-se o trabalho anônimo de humildes mestres do passado! Obrigado Professores do Brasil!

……… “Ele tem que ir prô Quartel!”… “Parece que agora vai!”. Como disse o Claudiomiro, ex-centro-avante do Inter, “Acabei fondo!”. Nos exames médicos complementares da ESPCEX, tirei o primeiro lugar na capacidade pulmonar, por ter jogado no meio de campo do E C Harmonia. No exame com o Sr Dr tive um incentivo. Disse que Eu estava aprovado. Elogiou minha saúde de ferro. Previu sucesso nos esportes!

………Estavam começando quase 40 anos felizes de carreira militar! Obrigado, Exército Brasileiro!

por CFVOGT em 15.8.20