Dirigente britânica fez discurso emocionado e afirmou que deixará posto em 7 de junho
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira que deixará o cargo em 7 de junho, para que o Partido Conservador possa escolher um novo líder, que será responsável por concretizar o Brexit, algo que ela não conseguiu fazer. “Tentei três vezes, mas não fui capaz de fazer o Parlamento aprovar o acordo de saída da União Europeia”, afirmou em uma declaração às câmeras de televisão em frente à sua residência oficial em Londres, o número 10 de Downing Street. “Acredito que era correto perseverar, inclusive quando as possibilidades de fracassar pareciam elevadas, mas agora me parece claro que no interesse do país é melhor que um novo primeiro-ministro lidere este esforço”, acrescentou May em manifestação emocionada.
Antes de assumir o cargo, seu sucessor terá que ser eleito para o cargo de líder do Partido Conservador, e depois oficialmente nomeado chefe de Governo pela rainha Elizabeth II. O ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, líder do Brexiters, está entre os favoritos para substituí-la.
Theresa May assumiu o Executivo em julho de 2016, pouco depois de os britânicos votarem 52% a favor do Brexit no referendo de 23 de junho de 2016, sucedendo David Cameron. Mas esta filha de pastor de 62 anos, ex-ministra do Interior, não conseguiu convencer uma classe política profundamente dividida sobre a saída da UE.
O acordo de divórcio, que ela negociou com Bruxelas, foi rejeitado três vezes pelos deputados, forçando o Executivo a adiar o Brexit até 31 de outubro, quando estava planejado para o dia 29 de março, e organizar eleições europeias. A votação europeia, realizada nessa quinta-feira no Reino Unido, anuncia-se calamitosa para os tories, integrantes do partido conservador, que deverão amargar um humilhante quinto lugar (7%), 30 pontos atrás do Partido do Brexit do eurofóbico Nigel Farage, segundo a pesquisa YouGov.
Impasse
Na terça-feira, Theresa May apresentou um plano de “última chance” para tentar recuperar o controle do processo de Brexit. Não adiantou. O texto foi mais uma vez alvo de críticas, tanto da parte da oposição trabalhista quanto pelos eurocéticos do seu partido, resultando assim na renúncia, na quarta-feira, de sua ministro das Relações com o Parlamento, Andrea Leadsom.
O projeto de lei, que Theresa May deveria fazer votar na semana de 3 de junho, não foi incluído no programa legislativo anunciado ontem pelo governo aos deputados. O plano previa uma série de compromissos, incluindo a possibilidade de votar num segundo referendo e a continuação de uma união aduaneira temporária com a UE, numa tentativa de reunir a maioria dos deputados.
Mas, deixando de lado algumas promessas feitas no início do processo, Theresa May enfureceu os eurocéticos do seu campo, enquanto a saída de Andrea Leadson acabou de vez com a autoridade de May, que viu partir cerca de trinta membros de seu governo ao longo dos meses.
A tarefa de desfazer mais de 40 anos de laços com a UE não era fácil, ressalta Simon Usherwood, cientista político da Universidade de Surrey, entrevistado pela AFP. “Qualquer pessoa em sua posição teria encontrado grandes dificuldades”, acrescenta. “A História não guardará uma imagem favorável dela”, considerou.
Correio do Povo