Copom decide aumentar a Selic em 1,50 ponto percentual, mantendo sequência de altas desde março para conter inflação
Em uma nova tentativa de conter a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) definiu nesta quarta-feira o novo patamar dos juros básicos da economia brasileira. No oitavo aumento seguido, a taxa Selic subiu 1,50 ponto percentual, passando dos atuais 9,25% para 10,75% ao ano. Com isso, o indicador volta aos dois dígitos, o que não ocorria desde julho de 2017.
A trajetória de alta da taxa básica começou em março do ano passado, quando a Selic figurava em 2% ao ano, o menor patamar da história, após uma série de reduções iniciada em 2016. Para o fim de 2022, a projeção é que a taxa alcance 11,75% ao ano.
“Essa medida é uma ação do Banco Central, necessária neste momento, entendida como um esforço de controle do processo inflacionário, que vem ganhando um contorno importante no país”, afirma a economista Leila Pellegrino, professora de economia e coordenadora do curso de administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
Mas a medida tem impacto tanto no dia a dia da consumidor como também na retomada da economia. “O impacto direto mais imediato no bolso do brasileiro vai ser justamento porque, como a Selic é uma taxa de referência das demais taxas de juros, os créditos vão ficar mais caros, os endividamentos vão ficar mais caros.
Com a elevação da taxa de juros, diminui a liquidez da economia e acaba impactando negativamente as expectativas de crescimento da atividade econômica. Podemos esperar uma atividade econômica ainda mais tímida”, avalia a economista.
O novo aumento da taxa ficará vigente por ao menos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional. A ata detalhada com as razões que motivaram a decisão será publicada na próxima terça-feira.
“A elevação não será a última deste ano. Novo movimento de magnitude semelhante deverá acontecer também na próxima reunião, em meados de março. A maior expectativa daqui para a frente será em relação à cotação do dólar, por conta do bom desempenho das contas públicas e sinais de estímulos da China, que elevam a confiança estrangeira no Brasil e trazem dólares para a Bolsa”, analisa o economista Fabio Astrauskas, professor do Insper e CEO da Siegen Consultoria.
Na avaliação dos diretores do BC, com a deterioração do balanço de riscos e do aumento das projeções, o “ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante.”
O que é taxa Selic
A Selic é conhecida como taxa básica porque é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. A taxa é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
Em linhas gerais, a Selic é taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo para empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.
A taxa básica também serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, próxima da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.
Taxa estava em queda até março de 2021
Até março deste ano, a taxa básica de juros vinha registrando uma série de quedas desde julho de 2015 e a sequência de reduções consecutivas desde julho de 2019, chegando ao menor patamar da história.
A alta da inflação e as incertezas da economia por causa das crises financeira e sanitária geradas pela pandemia de coronavírus vêm pesando na decisão do Copom de elevar sucessivamente a Selic.
Correio do Povo