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Saiba como atuavam as milícias da Terra Indígena do Guarita

A Polícia Federal comandou uma operação que se utilizou mais de 200 homens, com apoio da Brigada Militar e da Polícia Civil, diversas viaturas e um helicóptero e cumpriu mandados de busca e apreensão dentro da Terra Indígena do Guarita na manhã da última terça-feira.

Nove pessoas foram presas. Entre os detidos está o vice-cacique dos caingangues, Vanderlei Ribeiro, o Vandinho. Ele é suspeito de organizar tentativa de homicídio contra o cacique, Carlinhos Alfaiate – cuja casa e veículo foram alvejados com mais de 20 tiros, em 19 de outubro.

Além de Vandinho a PF prendeu outra liderança indígena aliada do vice-cacique. É Zaqueu Galdino, professor e doutorando, que foi candidato a deputado estadual em 2014 pelo PCdoB. Na ocasião, ele obteve 5.066 votos.

Zaqueu vivia na Grande Porto Alegre, mas voltou para a reserva da Guarita (situada próximo à fronteira da Argentina) e se aliou ao vice-cacique Vandinho. Testemunhas ouvidas pela PF apontam os dois como envolvidos na trama para assassinar o cacique. Liderados deles também seriam os responsáveis pela emboscada que matou um caingangue ligado ao cacique e feriu outros três, no dia 7 de novembro.

Nesta semana o Jornal Província, em parceria com o site Observador Regional obteve com exclusividade a decisão do Juiz Federal Rodrigo Becker Pinto, que determinou a prisão dos 14 indígenas e expediu os mandados de busca e apreensão a pedido do Ministério Público Federal.

No documento consta um recorte de informações que foram colhidas na investigação da Polícia Federal durante o período de confronto entre Carlinhos Alfaiate e Vanderlei Ribeiro, cacique e vice, respectivamente pelo comando da Terra Indígena do Guarita.

O Juiz determinou a prisão de Vandinho e de mais 13 aliados seus, por formação de milícia armada na intenção de derrubar o cacique Carlinho Alfaiate e tomar o poder da comunidade indígena. Foram ainda decretadas as prisões de Cleverson Ne Venhmag Claudino, Denilson Sales Joaquim, Eliseu Kei Claudino, Flávio Sales Joaquim, Gilmar Fagveja Claudino, Jaime Kei Klaudino, Rodrigo Bento, Valdecir Kei Claudino, Vanderlei Ken Ker Ribeiro, Zaquel Kei Claudino, Clenilson Sales, Fernando Joaquim, Josué Moreira e Ubiratã Ribeiro.

Esse grupo segundo o documento faz parte da milícia armada que seria comanda pelo vice cacique Vanderlei Ribeiro. Contra o grupo, além da formação de milícia, pesa ainda a suspeita de suas participações em dois casos de repercussão.

No primeiro deles, em 19 de outubro, um grupo armado atacou o cacique da Terra Indígena do Guarita, Carlinho Alfaiate, que escapou fugindo para uma mata atrás da sua casa. Eles ainda dispararam contra um veículo que era usado pelo cacique, mas de propriedade da Prefeitura de Redentora e atearam fogo na casa de Carlinho Alfaiate.

No relatório da Polícia Federal sobre o caso os agentes relatam que ao chegarem ao local, os policiais encontraram estojos deflagrados de diversos calibres, entre eles de um fuzil 762 marca CBC, arma de uso proibido por cidadãos comuns.

Os agentes também encontraram testemunhas que relatam ter presenciado quando Eliseu Kei Claudino efetuou a compra de dois galões de cinco Litros de gasolina em um posto no Irapuã. Ainda consta o depoimento de outra testemunha que viu os veículos, um Kadete prata, uma Eco Sport preta e um Elantra prata com diversos homens armados, expondo as armas para fora dos veículos. O Elantra pertence a Gilmar Claudino, filho de Zaqueu e foi apreendido para que com os dados do GPS do veículo a Polícia Federal possa identificar se eles estava no local do crime na hora do acontecido.

No depoimento da esposa do cacique Carlinhos Alfaiate, Marines Sales, cita que identificou Gilmar Claudino, Cleverson Claudino, Jaime Claudino, Flávio Sales Joaquim, Valdecir Kei Claudino, Denilson Sales Joaquim e Rodrigo Berto como participantes do ataque. No mesmo depoimento a esposa do cacique diz que não tem dúvida de que tentativa de homicídio contra o cacique foi a mando de Zaqueu Kei Claudino, Eliseu Kei Claudino e citou ainda como mandante o ex-cacique Valdonês Joaquim, que se encontra preso desde o 2017, acusado de acobertar e lucrar com assaltos a bancos ocorridos em Miraguaí.

Polícia Federal e MPF chegaram a pedir mandado de busca e apreensão na casa do ex-cacique e vereador de Tenente Portela, mas o pedido foi negado pelo juiz, por julgar que por estar preso, Valdonês, não poderia ter escondido pessoalmente documentos, dinheiro ou armas, que eram fruto das buscas.

O outro episódio resultante do confronto trata da morte de Adilson Jacinto, ocorrido no dia 07 de novembro. Segundo os depoimentos colhidos pela Polícia Federal e que estão sendo investigados, o grupo ligado ao vice cacique disparou de dentro da casa do pai de Zaqueu Claudino, que servia de QG do grupo, localizada em São João do Irapuá.

Foram citados vários nomes, mas duas testemunhas apontam para Zaqueu Claudino e seu filho Gilmar a autoria dos disparos que mataram o indígena. No mesmo episódio ainda ficaram feridos por disparos de armas de fogo Marino Jacinto e Eloir Jacinto.

A irmã da vitima fatal desse episódio ainda citou como participantes os nomes de Denilson Joaquim, Eliseu Claudino, Flavio Joaquim, Cleverson Claudino e apontou como autores dos disparos que vitimaram seu irmão, Zaqueu e Gilmar Claudino.

O relatório ainda aponta que Carlinhos Alfaiate também teria montado uma melícia armada para defender o seu posto.

Apesar de nenhum dos mandados de prisão ser direcionado ao grupo de Carlinho Alfaiate, a Polícia Federal cumpriu diversos mandatos de busca e apreensão  em endereços do grupo, inclusive em endereço do próprio cacique.

A Brigada Militar segue com reforço no policiamento dentro da Terra Indígena do Guarita e a Polícia Federal segue investigando possíveis crimes e abusos que teriam sido cometidos pelos dois grupos durante este período de disputas.

FONTE: Jornal Província e Observador  Regional