Representantes dos dois países se encontrarão nesta quinta para novas negociações
A primeira rodada, em 28 de fevereiro, terminou sem avanços reais. Os Estados Unidos, que aplicam duras sanções contra a Rússia e seu aliado Belarus, “apoiarão os esforços diplomáticos” de Kiev para alcançar uma trégua e a retirada das forças russas da Ucrânia, segundo o secretário de Estado, Antony Blinken.
Centenas de civis ucranianos morreram e centenas de milhares fugiram de seus lares desde a invasão do país em 24 de fevereiro, que gerou em resposta sanções ocidentais para tentar asfixiar a economia russa.
As tropas russas se deparam com uma dura resistência em seu avanço em território ucraniano. Muitas pessoas morreram nos bombardeios desta quarta, segundo relatos. O balanço oficial ucraniano indica 350 mortos, incluindo 14 crianças, desde o início da ofensiva russa.
O exército de Vladimir Putin, por sua vez, indicou em seu primeiro balanço oficial que perdeu 498 soldados e que outros 1.597 ficaram feridos. Além disso, as tropas russas reivindicaram a captura da cidade portuária de Kherson, no sul, e concentraram sua artilharia nos arredores de Kiev, trazendo o temor de um assalto iminente contra a capital.
“Não há um lugar de Kharkiv onde não tenha caído bombas”, disse Anton Garashchenko, assessor do Ministério do Interior ucraniano. “O inimigo está aproximando suas forças da capital”, disse o prefeito Vitali Klitschko, mas “Kiev resiste e vai resistir. Nós vamos lutar”, prometeu o carismático ex-boxeador.
Em uma mensagem televisionada, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky denunciou a invasão como um atentado contra a identidade da Ucrânia. “Eles receberam a ordem de apagar nossa história, de apagar nosso país, de eliminar todos nós”, afirmou.
Zelensky mencionou nesta quarta o bombardeio contra a torre de televisão de Kiev, que resultou em cinco mortes, próximo ao local onde 30.000 pessoas foram massacradas durante a Segunda Guerra Mundial, a maioria judeus, e instou a comunidade judaica a “não permanecer em silêncio”.
“O nazismo nasce do silêncio. Então saiam para gritar sobre os assassinatos de civis. Gritem sobre os assassinatos de ucranianos”, afirmou o presidente, um ex-comediante de 44 anos, que tem origem judaica.
Putin explicou que a invasão tem como objetivo a “desmilitarização” e “desnazificação” da Ucrânia, que busca uma aproximação com o Ocidente, a Otan e a União Europeia (UE). O presidente russo também exigiu garantias de que a Otan não continuará sua expansão para o leste e que impedirá a entrada da Ucrânia na aliança militar.
Rússia isolada
Os países ocidentais reforçaram as sanções, para isolar a Rússia diplomática, econômica, cultural e esportivamente. A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou, por maioria arrasadora, uma resolução para exigir que a Rússia retire suas tropas da Ucrânia e “deplorar” a agressão infligida contra a ex-república soviética.
Com 141 votos a favor, cinco contra (Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Eritreia e Síria) e 35 abstenções, a resolução, que não tem caráter vinculante, foi aprovada. Em seu primeiro discurso sobre o Estado da União, o presidente americano, Joe Biden, afirmou na terça-feira que Putin “está mais isolado do mundo do que nunca”.
A UE proibiu a difusão em seu território dos meios de comunicação russos RT e Sputnik, e excluiu sete bancos russos do sistema de comunicação interbancário Swift. A lista, no entanto, não inclui os dois principais bancos do país, Sberbank e Gazprombank, cuja conexão com o Swift permite que os países europeus paguem pela importação de gás russo.
Preços de pretóleo disparam
A guerra também fez disparar os preços do petróleo, que superou os 110 dólares por barril nesta quarta-feira pela primeira vez desde 2011. UE e Otan enviaram armas e munições à Ucrânia, mas deixaram claro que não haverá intervenção direta no conflito.
“No futuro, a Rússia será um pária e é difícil ver como eles poderão restaurar algo parecido às interações normais no sistema internacional”, disse Sarah Kreps, professora da Universidade Cornell, nos Estados Unidos.
Na medida em que o número de civis mortos aumenta pelo conflito, também cresce a oposição à guerra dentro da própria Rússia, onde milhares de pessoas foram detidas por participar de manifestações pacifistas. O opositor Alexei Navalny – que está preso e enfrenta um julgamento na Rússia – convocou seus compatriotas a “tomar as ruas e lutar pela paz”.
Correio do Povo