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Peso argentino despenca no primeiro dia sem controle cambial

Moeda teve a maior desvalorização desde a crise de 2002

                               Foto: Eitan Abramovich / AFP / CP
O peso argentino sofreu nesta quinta-feira sua maior desvalorização desde a crise econômica de 2002, com o dólar subindo mais de 40%, um depois de o governo de Mauricio Macri ter acabado com as restrições em vigor desde 2011. Com grande expectativa, as telas das casas de câmbio registraram desde das 10h05min locais (11h05min de Brasília) 15 pesos o dólar e até o meio-dia caía 14,20 pesos o dólar, uma desvalorização de quase de 30% da moeda argentina.

A forte desvalorização afetará os trabalhadores durante a primeira parte de 2016 com projeções de recuperação no final do mesmo ano, estimam economistas consultados pela AFP. No centro de Buenos Aires, os cambistas do mercado ilegal continuam como todos os dias comercializando a divisa e mantendo o preço dos últimos dias, entre 14,10 e 14,20 para venda.

Hoje será medida a demanda nas ruas e definida a diferença em relação à última cotação oficial da moeda no país, que já teve paridade com o dólar entre 1991 e 2001. “A partir desta quinta, qualquer pessoa poderá comprar dólares”, disse em coletiva de imprensa o ministro de Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, ao anunciar “o fim da banda cambial”, que acaba com as restrições do governo de centro-esquerda de Cristina Kirchner, que manteve políticas protecionistas criticadas pelo novo presidente liberal de direita Mauricio Macri.

O fim das restrições cambiais era um persistente pedido dos empresários, do campo e dos mercados pelas distorções que criou para importar e exportar. O economista Nicolás Dujovne disse à AFP que a chave do sucesso da eliminação das restrições é que se chegue a um nível de 14/15 pesos o dólar, que o governo não dê marcha ré com a
liberalização e que a transferência de preços não seja muito alta”.

Consultores estimam que a intenção do novo governo é que se fixe pela ordem dos 14,50 pesos o dólar, o que implicará uma forte desvalorização com o risco de que seja repassada aos preços do varejo, que há semanas têm aumento de até 60% em produtos da cesta básica. 

Mercado livre, com Banco Central pendente
“O preço do dólar será decidido pelo mercado. Mas também terá um Banco Central com as ferramentas necessárias para intervir se o dólar subir ou cair muito”, afirmou na quarta-feira Prat-Gay, do JP Morgan.

Ele estima que entrarão nos cofres argentinos “entre 15 e 25 bilhões de dólares nas próximas quatro semanas”. Esse valor é maior do que os 10 bilhões considerados necessários para poder liberar a compra e venda da divisa. A medida abre a possibilidade de que cidadãos e empresas possam comprar “até dois milhões de dólares sem restrições”, apontou Prat-Gay. 

Até agora, as pessoas só podiam adquirir 2 mil dólares por mês.”Quem quiser importar ou exportar, ou comprar dólares pode, ninguém o perseguirá”, declarou o ministro. 

Apostas em “dois” países
Com uma economia estagnada, um déficit acima de 7% do PIB e uma inflação que ronda os 30%, segundo consultorias privadas da terceira economia da América Latina, “não havia muita margem para continuar adiando essa decisão”, afirmou o relatório da consultoria argentina Ecolatina.

A eliminação do controle cambial na Argentina soma-se a uma agitada semana em que, em menos de sete dias como presidente, Macri eliminou impostos a empresas agropecuárias e à indústria. Além disso, cortou em cinco pontos uma taxação (de 35% para 30%) à soja.

Macri venceu as eleições presidenciais no dia 22 de novembro com 51% dos votos contra Daniel Scioli, candidato do kirchnerismo que obteve 49%. Em meio a uma série de anúncios ficou evidente a polarização nas ruas e nas redes sociais, onde hashtag #ChauCepo (em português, “tchau, banda cambial) convocava reações a favor e contra o governo. 

Nas ruas, a administradora de um salão de beleza Rosa Menéndez, de 50 anos, opinou que “se trata de uma desvalorização profunda anunciada, mas necessária. Tudo isso é herança das más políticas dos Kirchner”. Para Guillermo Suárez, dono de uma sapataria, disse que “essas medidas acabarão com o consumo e a indústria nacional”.



Correio do Povo