Hoje não escrevo exatamente uma crônica, talvez mais um desabafo…
Para minha mãe
Mãe hoje li uma crônica que dizia: aproveite seus pais enquanto eles estão aqui.
Eu sei, parece uma bobagem.
Uma frase feita.
Porém não costumamos pensar na morte como algo inevitável e que cedo ou tarde chegará para todos.
É um assunto a ser evitado.
Bem mãe, eu sinto que não te aproveitei o suficiente.
Tu te foste muito cedo, mais jovem do que sou hoje, embora me parecesse uma velha na época.
Normal.
Os pais sempre nos parecem velhos.
Tu foste antes da hora.
Não deu chance para ninguém se preparar e se acostumar com a idéia, como seria o esperado.
Me senti órfã com quase 40 anos.
Triste por um abandono não programado.
Triste por não veres teus netos crescerem e por não estares aqui quando teus bisnetos nasceram.
Enfim triste por tu não veres a Família pequena se transformar nesta Família grande que tantas alegrias nos proporciona e para a qual tu ainda continua fazendo falta, com tua risada debochada e teu “espírito de porco” Grapilheta.
Até hoje sempre que a Família grande se reúne tu dás um jeito de se infiltrar e ser lembrada.
Ficaste guardada no coração dos filhos.
Ficaste guardada no coração dos netos, para quem serás sempre a eterna vó Juju, aquela que chegava cheia de guloseimas e de imensos blusões tricotados por ti.
Para os bisnetos, que não te conheceram, ficarás guardada como Juju, a bisa que mora em uma estrelinha.
De um modo ou outro continuamos dividindo contigo nossas alegrias e nossas conquistas.
Das tristezas continuamos te poupando.
O hábito continua.
Mãe, finalmente, sinto saudades dos momentos que postergamos para sempre achando que tínhamos todo o tempo do mundo.
Não tínhamos.
E só vi isso quando era tarde demais.
Eu demorei mais de vinte anos para finalmente falar sobre ti abertamente e ainda assim não é fácil.
Esteja onde estiver, espero que não tenhas demorado tanto tempo para encontrar a paz que tanto buscavas.
Com amor.
Viviane M Foresti
