Mais fácil brigar
Muitas vezes na vida, estamos diante de um espelho, mas, mesmo assim, nada enxergamos nele.
Não há alegria e os pedaços de uma felicidade antes inteira, se acumulam pelos cantos, feito a poeira de muitos dias.
E passamos de um lado para o outro, sempre pelo espelho, fingindo ignorar sua presença, ou às vezes, até lhe dirigindo as farpas que se precipitam da aspereza cultivada.
Entramos em um processo de dor, cultivando as mágoas mais profundas, permitindo que suas raízes cresçam e suguem de nós o que guardamos de bom.
Suas flores nascem perversas e espinhosas, nos envenenando com seu perfume triste.
E lá está ele – o espelho.
E por quê não o fitamos, se nele poderíamos olhar para nós?
Ele está lá.
Olhando para ele, em sua melhor definição, diríamos que ele nos reflete, mas também ao próximo.
E se somos o espelho do próximo, por quê não refletimos?
A solitude deu lugar à tristeza, e durante a tempestade furiosa de nossas vidas, fazemos o que aprendemos: cobrimos o espelho.
Depois, o medo de nos censurarmos é tamanho que não ousamos remover o véu.
A imagem gravada em nossa mente é meramente uma lembrança ilusória.
Queremos preservá-la.
Não conseguimos olhar para o espelho por não podermos vê-lo.
E mesmo sendo mais fácil brigar, mesmo assim, ele está lá.