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O destino de Ramiro – Claudio Vogt

Foto Ilustrativa

O DESTINO DE RAMIRO –

………Na década de 60, morava na Rua Tiradentes, da minha terra natal (Sarandi-RS), um guri de  pele parda, filho adotivo.

Ele era visto no pátio de minha casa, jogando bolitas… na calçada e no pátio da casa dele, jogando bola.

O Pai dele, por força da profissão (motorista de caminhão), passava vários períodos longe de casa.

Meu Pai chamava-o de RAMIRO.

Eu achava engraçado.

Ele queria seguir a profissão do Pai. Este tinha na garagem um caminhão Mercedes-Benz, de cabine azul. O RAMIRO gostava de brincar de “caminhãozinho”.

O Pai dele plantou árvores frutíferas e construiu um parreiral para ele comer uvas.

Acervo Rogério Machado

Ele estudava no melhor colégio da cidade, a Escola Normal Rural Santa Gema Galgani, o “Colégio das Irmãs”.

A vida estava valendo a pena!

Ele era alegre e esperto.

No pátio dos fundos, havia um pequeno campo de futebol, cheio de amigos.

Ele foi um bom amigo de infância!

      Na primavera de 1963, quando ele tinha 10 anos, passou a ser perseguido por alguns rapazes de classe média.

Queriam pegá-lo na saída das aulas da tarde.

Acervo Rogério Machado

Ficavam na quadra do Ginásio esperando ele passar.

Estavam determinados.

Era uma questão de tempo…

Sabendo da intenção dos “grandes”, decidiu contornar o Ginásio, dando a volta pelo lado de cima. Mesmo assim, foi alcançado.

Pegaram ele pelo braço e levaram-no a um local ermo.

Na grama, a pasta de couro marrom, aberta, com um caderno e uma caixinha de lápis de cor…

Os rapazes, indiferentes às lágrimas e ao medo do menino, revezavam-se, sem parar…

      No dia seguinte, a mãe do RAMIRO me disse: “Meu filho chegou em casa todo lambuzado!

Dei queixa na Polícia!”.

Ela era uma das primeiras a ir à Escola para saber se o filho tinha passado de ano.

Os pais dele não mereciam tamanho desgosto!

O caso foi abafado.

Filhos de gente importante estavam envolvidos.

A Cidade perdeu uma grande oportunidade de aplicar uma punição exemplar, educativa.

A Sociedade não era santa.

Surgiam casos de alcoolismo e adultério.

Afinal, a carne é fraca.

Mas, naquele dia, a Cidade chegou no fundo do poço!

Só a educação das pessoas poderá evitar que casos semelhantes aconteçam!

A Matemática não é tudo!

O Português tampouco é tudo!

O ser humano precisa ser íntegro!

………Agora, o RAMIRO, traumatizado e com sequelas, olha pela janela.

Outros guris brincam lá fora. A vida continua.

O filho adotivo tem o direito de ser feliz!

Deve ser amado e respeitado; nunca discriminado!

Apesar de tudo, é preciso seguir em frente… com a esperança de dias melhores.