Durante depoimento, médica confirmou reunião para discutir minuta relativa ao medicamento sem eficácia comprovada
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado Federal, nesta terça-feira, a médica Nise Yamaguchi reforçou que não agiu para alterar a bula da cloroquina para que o medicamento tivesse indicação de uso em tratamento precoce contra Covid-19. Durante as respostas aos senadores, a médica reforçou sua defesa ao tratamento sem eficácia em pacientes contaminados pelo coronavírus. Nise é a primeira depoente convidada da CPI, diferente dos demais que são convocados.
O debate teve início após Nise voltar a insistir que a hidroxicloroquina tem eficácia no tratamento contra a Covid-19. “O que acontece é que essas medicações têm sido bastante eficientes em tratar pacientes precoces, e não dá pra misturar todos os casos em todos os níveis conforme tem sido colocado”, afirmou Nise apesar do uso do medicamento carecer de evidências.
Segundo Carvalho, Nise faria parte do núcleo negacionista do “gabinete paralelo” que assessorou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas questões relacionadas à pandemia da covid-19. “Chamamos de núcleo negacionista, mas eles são o núcleo teórico da imunidade natural de rebanho. Porque eles não são negacionistas, eles têm uma teoria nefasta, fúnebre, de expor à própria sorte os brasileiros com relação à doença”, afirmou Carvalho.
“Eu tenho que colocar o meu repúdio a essa citação em que estou colocada ali dentro de um gabinete de exceção. Eu estou me sentindo bastante agredida nesse sentido”, afirmou a médica. Em resposta, Nise disse entender a “indignação” do senador.
“Se a hidroxicloroquina nos tratamentos iniciais não funciona, aí realmente o senhor teria razão. O que acontece é que essas medicações têm sido bastante eficientes em tratar pacientes precoces”, afirmou a médica. “Para mim, neste momento, é bastante importante (dizer) que o governo é um só, o País é um só. Nós precisamos estar nos relacionando entre os diversos partidos a partir de uma coerência e um conjunto de ações”, reforçou.
Mudanças na bula da cloroquina
A médica Nise Yamaguchi contradisse o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, que afirmou à comissão que a médica propôs mudança da bula em reunião no Palácio do Planalto no ano passado. Também apresentou versão contrária à do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que afirmou ter visto na reunião uma minuta para alterar a bula da cloroquina.
Segundo a médica, no encontro realizado em abril do ano passado discutiu-se uma minuta relativa ao medicamento, mas que não se tratava de um documento para a alteração das recomendações de uso do remédio. Conforme a oncologista, era um “um rascunho de como poderia ser disponibilizada uma medicação que estava em falta” e abordava também a “adesão ao tratamento de acordo com um consentimento livre esclarecido e notificações no site da Anvisa”.
Ela também descartou que na reunião tivesse sido debatido um decreto para alteração da bula. “Não existiu ideia de mudança de bula por minuta, nem por decreto”, disse.
Vacinação “aleatória”
Um novo bate-boca foi iniciado pelo presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM) que, após ouvir um vídeo onde a médica Nise Yamaguchi defendeu que com o tratamento precoce contra Covid-19, não seria necessário uma vacinação “aleatória” da população, pediu a população que desconsiderasse as falas da médica.
Confrontada com o vídeo, a médica voltou a afirmar que não se deve vacinar “aleatoriamente” dizendo que a vacinação contra a doença seria a única opção contra a doença. Aziz então interrompeu a médica pedindo que a população que acompanha a CPI desconsiderasse as falas da doutora com relação à vacina.
“A sua voz calma, a sua forma de falar, convence as pessoas como se a senhora estivesse falando a verdade. Infelizmente, doutora Nise, o que os seus colegas me falaram eu retiro completamente, eles estão totalmente equivocados em relação a senhora. A senhora está omitindo aqui muita coisa”, afirmou Aziz, alertando a médica que ela será convocada novamente à CPI.
Nise afirmou que não pretende tomar a vacina contra o coronavírus alegando que possui uma doença grave que a proíbe da imunização.
Correio do Povo