Dólar à vista terminou dia em queda de 0,39%, a R$ 3,96
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O mercado brasileiro de ações teve dois momentos distintos nesta terça-feira, ambos determinados pelo noticiário internacional. Depois de ter iniciado o dia em queda, ainda repercutindo o cenário eleitoral na Argentina, o Índice Bovespa virou para o positivo e encerrou o pregão com alta firme, em resposta aos sinais de melhora na relação entre Estados Unidos e China. Ao final da sessão de negócios, o principal índice de ações da B3 marcou 103.299,47 pontos, em alta de 1,36%.
Com a alta, o Ibovespa recuperou boa parte das perdas de 2% registradas na véspera, quando havia voltado ao patamar dos 101 mil pontos. Na mínima do dia, o índice brasileiro chegou a marcar 101.414 pontos (-0,49%). Na máxima, chegou aos 103.778 (+1,83%).
“Os dois fatos quase simultâneos promoveram uma reviravolta nos mercados, deixando espaço para uma recuperação dos ativos. As falas reduziram os temores de desaceleração da economia global e mudaram a dinâmica dos mercados, com impacto principalmente sobre as ações de commodities”, disse Rafael Figueredo, analista da Eleven Financial.
Figueredo ressalta que o risco de desaceleração global está levando os bancos centrais a fazerem a lição de casa, afrouxando a política monetária e promovendo outras medidas de incentivo à economia. Com isso, ele recomenda especial atenção às ações de empresas de materiais básicos, que vêm sendo fortemente penalizadas pela guerra comercial e os temores de desaceleração econômica. Por estarem bem mais descontados que outras ações, esses papéis teriam potencial bem maior de alta a partir do momento em que essas políticas começarem a mostrar resultados.
Na análise por índices setoriais da B3, o de materiais básicos (IMAT) teve ganho de 3,31%, mais que o dobro do Ibovespa. A diferença está nos acumulados de agosto (-3,10%) e de 2019 (-5,72%), nos quais o IMAT é o único índice da B3 a contabilizar perdas. Na carteira desse índice, que tem 12 ações, os destaques da terça-feira foram Vale ON (+2,97%), Bradespar PN (+2,71%) e Suzano ON (+5,87%).
Dólar
O dólar começou a terça-feira em alta e voltou a superar R$ 4,00. Mas a notícia de que a Casa Branca vai adiar o início da cobrança de tarifas a determinados produtos chineses para dezembro trouxe alívio ao mercado e o dólar passou rapidamente a cair. Operadores relatam ainda que uma entrada expressiva de recursos do exterior contribuiu para aumentar a oferta da moeda, retirando pressão sobre o câmbio. Com isso, o dólar, que na máxima foi a R$ 4,01, caiu a R$ 3,94 na mínima Apesar de ficar em segundo plano aqui, a Argentina seguiu no radar das mesas de câmbio, assim como a situação dos protestos em Hong Kong, que fez moedas de emergentes asiáticos se enfraquecerem. O dólar à vista terminou o dia em queda de 0,39%, a R$ 3,9678.
“O adiamento das tarifas sobre a China e entrada forte de capital ajudaram o dólar a cai”, ressalta o diretor de tesouraria do Travelex Bank, João Manuel Campanelli Freitas. Ao postergar o aumento tarifário, o executivo ressalta que os americanos mostram disposição em negociar um acordo comercial, o que ajuda a tranquilizar o mercado, que tinha reduzido nos últimos dias as apostas de uma solução para o caso.
Para o diretor do Travelex Bank, há muitos recursos para entrar aqui, por conta de captações externas recentes, operações no mercado de ações e outros negócios. O dólar acima de R$ 3,95 propicia uma boa oportunidade para trazer esses recursos, ressalta ele.
Depois de pressionar o câmbio na segunda, a Argentina ficou em segundo plano nesta terça aqui, apesar de o dólar continuar em forte alta no país vizinho, mas seguiu no radar dos investidores. O Banco Central intensificou as intervenções no câmbio, vendendo dólares e títulos, mas sem sucesso. Enquanto a moeda americana caiu no Brasil, México, Colômbia, Rússia e África do Sul, subiu 6% ante o peso argentino.
Para o estrategista do Société Générale, Dev Ashish, considerando que o peronista Alberto Fernandez se tornou “claro favorito” para vencer as eleições, seria uma surpresa se as condições no mercado financeiro argentino melhorassem rapidamente, na medida que pode ser difícil o país evitar um novo default. Ao mesmo tempo, ele prevê que o “tsunami” nos mercados deve prejudicar ainda mais a recuperação da atividade econômica, ressalta em relatório. Por isso, o peso deve seguir pressionado e pode voltar a afetar os mercados da região.
Taxas de juros
Os juros futuros fecharam a sessão desta terça-feira em leve queda na ponta longa da curva, refletindo essencialmente o cenário externo. O anúncio do governo americano de que vai suspender a aplicação de algumas tarifas a produtos chineses, e adiar a entrada em vigor de outras, trouxe alívio, mas a percepção do mercado é de que o cenário internacional ainda é de muitas incertezas. Em especial a questão da eleição na Argentina merece atenção. As taxas curtas e intermediárias permaneceram de lado, refletindo a agenda doméstica esvaziada e falta de notícias capazes de mexer com as apostas para a política monetária.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou estável em 5,39% e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 6,391% na segunda no ajuste para 6,36%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,87%, de 6,881%. O dólar à vista fechou cotado em R$ 3,9678, baixa de 0,39%.
A trajetória de queda das taxas ganhou forma no meio da manhã, após Trump anunciar a suspensão e o adiamento de tarifas. “Depois disso, o dólar voltou bem e junto trouxe a curva inteira, foi o principal movimento dos juros”, afirmou o trader da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, lembrando que até então os mercados estavam estressados pelo pessimismo sobre o acordo comercial, com o núcleo do CPI americano acima das estimativas e com as tensões políticas em Hong Kong e na Itália.
Segundo ele, contudo as dúvidas sobre “o grau de contágio da Argentina nos ativos locais” limitaram o movimento positivo. Os efeitos das primárias da eleição presidencial do domingo, que mostraram que dificilmente o presidente Mauricio Macri, com sua agenda pró-mercado, conseguirá se reeleger, foram suplantados pelas notícias sobre a China e os Estados Unidos, mas os investidores seguem monitorando a situação.
“Isso não afeta o mundo, mas afeta o Brasil, pois eles são um dos nossos principais parceiros comerciais”, diz um gestor. Apesar dos fundamentos econômicos no Brasil serem bem mais sólidos, é difícil que os ativos domésticos consigam passar incólumes e o grande termômetro é o câmbio e suas implicações para o corte da Selic.
No fim da manhã, o Tesouro Nacional realizou leilão de NTN-B, repetindo o lote de até 1,150 milhão ofertado na operação anterior, colocado integralmente e com taxas dentro do consenso do mercado.
Correio do Povo