Ardian Syaf desenhou referências político-religiosas na série “X-Men Gold”
Símbolo da camiseta do personagem Colossus faz referência à passagem do Alcorão | Foto: Marvel / Disney / Divulgação / CP
A primeira edição da série “X-Men Gold” colocou a Marvel contra a parede por incluir referências político-religiosas nos seus desenhos. Colaborador da marca, o indonésio Ardian Syaf inseriu mensagens alusivas ao Islamismo conservador na publicação e protagonizou uma polêmica que resultou na sua demissão nesta quinta-feira. “A Marvel encerrou seu contrato imediatamente e de forma efetiva”, disse a empresa em um comunicado.
Chamado de “fanático” e acusado de “disseminar o ódio” por usuários de redes sociais, ele desenhou na camiseta usada pelo personagem Colossus, o símbolo “QS 5:51”. Trata-se de uma passagem do Alcorão, interpretada como uma indicação de que muçulmanos não devem ter judeus ou cristãos como líderes.
A mesma passagem do livro sagrado foi citada pelo governador da região de Jacarta, Basuki Purnama, durante a campanha eleitoral no ano passado. Ele, que é cristão e descendente de chineses, foi acusado por muçulmanos conservadores de insultar o islã. Na época, ele se defendeu, afirmando que citou o Alcorão para se referir a “políticos que usavam a passagem incorretamente” para se posicionar contra sua reeleição.
Um segundo símbolo aparece escrito em uma cena em que a personagem Kitty Pride, atual líder dos X-Men, fala com pessoas na rua. Muitos leitores ligaram o número “212” escrito em uma parede à data do maior protesto já organizado por muçulmanos conservadores contra Purnama, em 2 de dezembro de 2016. Syaf participou do evento.
As partes reagem
À primeira vista números e letras aleatórias para quem não conhece a trajetória do Syaf, os caracteres tiverem seu real significado confirmado pelo próprio desenhista. Em um post em sua página no Facebook – que já foi excluída -, o indonésio escreveu que “sua carreira terminou”. “Isso é consequência do que eu fiz, e aceito. Por favor, parem com a chacota, a discussão e o ódio. Espero que todos fiquem em paz”. Segundo o desenhista, o verso em questão “é o número da justiça. É o número do amor. Meu amor ao sagrado Alcorão, meu amor ao último profeta, o mensageiro… Meu amor a Alá, o Único Deus”.
Numa outra postagem na mesma rede social, ele rebateu as críticas de que sua atitude seria antisemita e anti-cristã, afirmando que não odeia judeus ou cristãos. “Eu trabalhei com eles por 10 anos, inclusive tenho vários bons amigos que são”, disse. Já entrevista ao jornal Jawa Pos, ele mudou o tom: “Marvel é de propriedade da Disney. Quando os judeus são ofendidos, não há misericórdia”, falou.
Em um comunicado, a Marvel afirmou que as próximas duas edições de “X-Men Gold” desenhadas por Syaf já foram enviadas para a impressão e continuarão a ser entregues a cada quinze dias. Entretanto, os números 4, 5 e 6 serão ilustrados por R. B. Silva, enquanto as edições 7, 8 e 9 ficarão a cargo de Ken Lashley. A empresa ainda afirma que está à procura de um desenhista fixo para a série.
Correio do Povo