Senador falou a três delegados federais da Coordenação de Inquéritos dos Tribunais Superiores
O senador falou a três delegados federais que compõem a Coordenação de Inquéritos dos Tribunais Superiores, unidade da PF que conduz investigações sensíveis envolvendo alvos com foro privilegiado.
Em oitiva no dia 12 de julho sobre a suposta trama golpista, Bolsonaro negou que qualquer plano de gravar Moraes tenha sido discutido na reunião com Silveira e Do Val.
No dia 12, Bolsonaro disse ainda não saber se a iniciativa da reunião partiu de Do Val ou de Silveira e que ‘não teve contato anterior’ com Do Val. O senador, no entanto, afirmou que o convite para a reunião partiu do próprio ex-presidente, com a participação de Silveira.
Segundo Do Val, o ex-deputado idealizou e marcou o encontro, passando então a procurá-lo ‘insistentemente’. O senador alegou, contudo, que Silveira o abordou, às portas do Plenário do Senado Federal, já falando ao telefone com o ex-presidente. Do Val acrescentou que, então, o ex-deputado passou a ele o celular e que, nesse momento, Bolsonaro o convidou para a reunião.
Marcos do Val voltou a reforçar, durante o depoimento que os únicos envolvidos na reunião foram ele, Bolsonaro e Silveira. Acrescentou, contudo, que o ex-deputado pretendia envolver mais gente.
Questionado pela PF se havia possibilidade de colaboração de outras pessoas na ‘missão’, Do Val disse que Silveira não falou sobre isso durante a reunião, mas logo na sequência o enviou uma mensagem por WhatsApp dizendo: ‘Irmão, essa missão está restrita a três pessoas e só irá ficar, provavelmente, com mais cinco após concluída. Cinco estrelas’. O senador disse não saber o que o ex-deputado quis dizer com esse termo e afirmou que não quis perguntar.
Ele voltou a informar, no entanto, que Silveira disse ‘já possuir equipamentos de escuta e transmissão e um carro para captar áudio”, mas não referiu como havia conseguido.
Culpa de Bolsonaro na trama golpista
Apesar de ter entrado em contradição com Bolsonaro, Do Val claramente buscou afastar a culpa do ex-presidente durante o depoimento. O senador afirmou ter ficado claro que durante a reunião, Silveira tentou convencer tanto a ele quanto ao ex-presidente. Além disso, afirmou que ‘pela expressão de surpresa do ex-presidente’, acredita que apenas Daniel Silveira sabia do plano tratado na reunião.
Indagado sobre o que entende significar a mensagem ‘coisa de maluco’ que recebeu do ex-presidente em fevereiro, depois de enviar prints a ele com as conversas que teve com Silveira e Moraes, Do Val respondeu que ‘Bolsonaro se referia à ‘missão’ de Daniel como algo absurdo’.
Persuasão ou momento de raiva
No depoimento desta quarta-feira, Marcos do Val voltou a contradizer a si mesmo.
A primeira declaração dada pelo senador sobre a suposta trama golpista aconteceu em fevereiro, em entrevista à revista Veja. Na ocasião, o senador acusou Bolsonaro de tê-lo convidado a participar da trama golpista. Apenas mais tarde, quando questionado pela polícia, Do Val voltou atrás e protegeu o ex-presidente, afirmando que o responsável havia sido Daniel Silveira e que Bolsonaro ficou em silêncio.
Questionado sobre a contradição em entrevista à emissora Globo News, o senador admitiu ter mentido e disse que havia usado a ‘estratégia da persuasão’ na primeira declaração para atrair a atenção da imprensa.
No entanto, no depoimento desta quarta, ele deu uma nova explicação para as acusações contra o ex-presidente. Segundo ele, a entrevista havia sido feita em um momento em que vinha ‘sofrendo enorme pressão de eleitores’ que defendiam a candidatura de Rogério Marinho (PL) à presidência do Senado. Ele disse que naquele momento a filha dele recebia ameaças e que isso serviu de ‘gatilho’ para acusar o ex-presidente durante a entrevista à Veja.
Nesta quarta, afirmou que ‘percebendo que havia feito essas acusações infundadas, em um momento de raiva, resolveu desdizê-las em várias manifestações posteriores’.