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Marco Temporal: povos indígenas e órgãos internacionais repercutem decisão do STF

Marco Temporal: povos indígenas e órgãos internacionais repercutem decisão do STF

Maioria dos ministros votou contra a tese

Brasília (DF), 20/09/2023, Lideranças indígenas fazem passeata contra marco temporal na Esplanada dos Ministérios. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Entidades representativas de povos indígenas e organismos internacionais comemoraram a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade da tese do marco temporal para demarcação de terras indígenas no país.
Nas redes sociais, o assunto ficou entre os mais comentados na tarde desta quinta-feira. Em Brasília, lideranças indígenas e representantes de diversos povos acompanharam a votação.
De acordo com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, prevaleceram os direitos constitucionais dos povos originários na decisão desta quinta.
Nós acreditamos na Justiça, na Justiça do Supremo Tribunal Federal para dar essa segurança jurídica aos direitos constitucionais dos povos indígenas, cumprir o seu dever pela constitucionalidade e dar esperança a esse povo que tem sofrido há muitos anos com intimidações e pressões. Hoje se enterra de vez o marco temporal”, afirmou, em nota divulgada pela fundação.
De acordo com a Funai, a tese do marco temporal vinha ignorando o longo histórico “de esbulho possessório e violência praticada contra os povos indígenas, acarretando a expulsão de seus territórios, além de violar os direitos indígenas previstos na própria Constituição Federal e em tratados internacionais dos quais o Estado brasileiro é signatário”.
A Funai salienta, ainda, que pela Constituição, as terras indígenas são bens da União e de usufruto exclusivo dos povos indígenas, tratando-se de bens inalienáveis e indisponíveis, ou seja, que não podem ser objeto de compra, venda, doação ou qualquer outro tipo de negócio.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) acompanha os indígenas em Brasília e em outras regiões do país. Na capital, de acordo com a entidade, cerca de 600 indígenas de várias regiões do país aguardaram o fim da votação do lado de fora do STF, por meio de um telão. Além deles, 70 lideranças indígenas assistiram a sessão direto do plenário da Corte.
A entidade postou vídeo em que indígenas celebraram com cantos e danças, em tenda montada ao lado da Corte, quando formou-se maioria dos ministros contra o marco temporal.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) disse que a decisão significa uma “vitória na batalha contra o marco temporal, sabendo que a luta em defesa dos nossos territórios continua”.
Membros do governo federal e outros políticos também se manifestaram. Na rede social X, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva disse: “STF forma maioria para derrubar Marco Temporal das terras indígenas. Vitória dos povos indígenas e do respeito ao seu modo de vida, e da grande contribuição que podem dar à humanidade e ao planeta”.
Repercussão externa
Entidades internacionais também se manifestaram. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) parabenizou o Supremo Tribunal Federal (STF) pela decisão contrária à tese do marco temporal, que segundo o organismo internacional impacta a vida de crianças e jovens indígenas e significa um retrocesso para o país.
Já a porta-voz do Greenpeace Brasil, Ariene Susui, afirmou que “ao formar maioria, o STF avança rumo à decisão histórica de rejeitar o Marco Temporal de uma vez por todas”. “Quem ganha somos todos nós, porque promover os direitos indígenas significa, sobretudo, a defesa de direitos constitucionais. Rejeitar o marco temporal é assegurar direitos de toda a sociedade, pois direitos conquistados não devem ser questionados e sim cumpridos.
Os povos originários e seus territórios exercem um papel fundamental na defesa da biodiversidade brasileira que, por sua vez, possui grande importância na mitigação da crise climática e na regulação do clima global”.

Marco Temporal
maioria dos ministros Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira por invalidar a tese do marco temporal para demarcações.Pela tese, defendida por proprietários de terras, os indígenas só podem ter direito às terras já ocupadas ou em disputa judicial em 5 de outubro de 1988, data a promulgação da Constituição Federal.Apesar da maioria formada contra o marco temporal, os ministros ainda vão analisar o alcance da decisão. Pela corrente aberta com o voto do ministro Alexandre de Moraes, particulares que adquiriram terras de “boa-fé” podem pedir indenização pelas benfeitorias e pela terra nua.

FONTE Agência Brasil