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Macron e Le Pen disputarão segundo turno nas eleições presidenciais da França

(COMBO) This combination of file pictures created on April 10, 2022 shows French far-right party Rassemblement National's (RN) presidential candidate Marine Le Pen posing during a photo session in Paris on October 20, 2021 and French President and La Republique en Marche (LREM) party candidate for re-election Emmanuel Macron posing for a photo session on March 7, 2017 at his campaign headquarters in Paris. - Emmanuel Macron is to face Marine Le Pen in the second round of the French presidential election it was announced on April 10, 2022. (Photo by JOEL SAGET and Eric Feferberg / AFP)

Primeiras estimativas colocam atual presidente e adversária na disputa do segundo turno presidencial

Macron, no poder desde 2017, tinha entre 27,6% e 29,7% dos votos, seguido de Le Pen, com 23,5% a 24,7% 

O presidente Emmanuel Macron (centro) e sua adversária, Marine Le Pen (extrema direita) voltarão a se enfrentar em um segundo turno presidencial na França, após serem os dois candidatos mais votados no primeiro turno deste domingo, com uma vantagem maior do que o esperado para o atual mandatário, segundo as primeiras estimativas.

Macron, no poder desde 2017, tinha entre 27,6% e 29,7% dos votos, seguido de Le Pen, com 23,5% a 24,7%. O esquerdista Jean-Luc Mélénchon (19,8% a 20,8%) ficou de fora do segundo turno, que será realizado em 24 de abril. A votação, celebrada após uma campanha atípica, marcada pela invasão russa da Ucrânia, aprofunda ainda o declínio iniciado em 2017 pelos partidos tradicionais – os socialistas e Os Republicanos (direita) -, que teriam menos de 10% dos votos no total.

Tudo isto em um contexto de maior abstenção. Segundo dados do Ministério do Interior, a participação no primeiro turno às 17h locais era de 65%, 4,4 pontos a menos do que em 2017 no mesmo horário e 6,55 pontos a mais do que em 2002, ano com recorde de abstenção em uma eleição presidencial. Os cientistas políticos temiam um novo recorde.

Os franceses agora terão que escolher qual rumo a França irá tomar até 2027, uma decisão que poderia implicar uma mudança nas alianças internacionais desta potência nuclear e econômica se Marine Le Pen for eleita. A candidata do Reagrupamento Nacional (RN), de 53 anos, propõe abandonar o comando integrado da Otan, que determina a estratégia militar da Aliança, e sua eleição representaria um novo revés para a União Europeia após a reeleição do húngaro Viktor Orban.

Seu adversário do A República em Marcha (LREM), de 44 anos, aposta em continuar seu impulso pró-europeu e reformista com o qual chegou ao poder e defende, assim, reforçar a autonomia militar da UE, dentro da Otan. A conjuntura internacional não é, no entanto, a principal preocupação dos franceses na hora de votar. A perda de poder aquisitivo é há meses sua principal inquietação, aprofundada pelo aumento da energia após o início da guerra na Ucrânia.

Poder

Marine Le Pen apostou, assim, em se apresentar como a defensora do poder aquisitivo e das classes populares para capitalizar o descontentamento com “o presidente dos ricos”, que ficou refletido no protesto dos “coletes amarelos” em 2018 e 2019.

O programa da herdeira da Frente Nacional (FN) propõe reduzir o IVA dos combustíveis, gás e eletricidade de 20% a 5,5%, eximir do imposto de renda os menores de 30 anos e dobrar as ajudas às mães solteiras, entre outras medidas.

Embora Le Pen tenha suavizado seu discurso para parecer menos radical, seus planos também incluem as propostas tradicionais da extrema direita: ajudas sociais para os franceses, expulsão de clandestinos, proibição do véu islâmico, etc.

O presidente de centro, cujo governo adotou desde o fim de 2021 medidas para limitar a alta do preço da eletricidade para empresas e famílias e compensar o aumento da inflação, tenta retomar em seu segundo mandato um perfil mais liberal. Sua proposta principal passa por adiar a idade da aposentadoria de 62 a 65 anos. Além disso, propõe reduzir os impostos das empresas em quase 11 bilhões de dólares, o “renascimento” da energia nuclear e aumentar a pensão mínima.

“Frente republicana”

Os especialistas duvidam que o cordão sanitário em torno da extrema direita vá funcionar em 2022 como em 2017. Para o diretor da Fundação Jean-Jaurès, Gilles Finchelstein, a tradicional “frente republicana” não bastará para isolar Le Pen. Os candidatos socialista Anne Hidalgo, ecologista Yannick Jadot, e comunista Fabien Roussel já disseram que vão pedir votos contra a extrema direita se Le Pen passar para o segundo turno. Já Valérie Pécresse, do partido Os Republicanos (LR), não indicará voto. Os resultados deste domingo representam um revés para os partidos tradicionais – o Partido Socialista e Os Republicanos (LR) de Pécresse -, que apesar de governar durante décadas, só conseguiram a confiança de um em cada dez eleitores no total.

E abre uma crise semanas antes das legislativas de junho, chaves para a sobrevivência financeira dos partidos. O ex-presidente socialista François Hollande já se ofereceu em março para uma “reconstrução de esquerda”. Tanto Macron quanto a extrema direita já chamaram os simpatizantes de Os Republicanos – divididos entre uma ala liberal economicamente e outra conservadora socialmente – a se unirem às suas fileiras, como alguns fizeram desde 2017.

Correio do Povo