A intolerância disfarçada de razão
Vivemos tempos de modernidade, mas não estamos mais modernos com isso.
Os conceitos têm sido flexibilizados de tal forma que nos tornamos experimentalistas, curiosos e leigos de alto saber.
Se temos vontade de beber, temos milhares de oportunidades de “vivenciar” a experiência alheia, com fotos, vídeos, opiniões de especialistas, aplicativos e etc.
Da mesma forma para comidas, esportes, religiões, política e, enfim, tudo.
Nos tornamos criaturas plugadas em uma “inteligência” maior, que é capaz de nos proporcionar sensações sem que tenhamos que realizar os atos que seriam normais.
Essas experiências nos levam à praticamente 100% do que seria possível experimentar, faltando em alguns casos, apenas o sabor e o aroma.
Temos um novo cérebro, só que não.
Resistimos a tudo que esteja fora da nossa ‘configuração’. Desenvolvemos uma intolerância disfarçada de razão.
Odeio especialistas.
Talvez porque sejam insuportavelmente teóricos e lhes falte a prática que infla as sensações.
Antigamente, se alguém quisesse beber, saía e ia fazer disso um pretexto para encontrar os amigos.
A vida de hoje tem aplicativos que trazem a bebida, a companhia, os livros (???), roupas e tudo mais que precisamos.
Há os aplicativos, ou apps, que trazem a pessoa ‘amada’ em poucos instantes, porque conecta pessoas que estiverem próximas a você.
Mas onde está a iniciativa?
Caminhamos a passos largos para uma inutilidade que assombra. Vejo cada dia mais pessoas solteiras com 30, 40, 50 anos e que nunca se casaram.
Pessoas que trabalham em casa, comem em casa, vivem dentro do alcance de rede de seus dispositivos móveis.
Há encontros? Sim, mas cada vez menos e para todos os fins.
Trocaram seus espelhos por câmeras e o mundo te conhece pela selfie que você faz.
O nome disso tudo é covardia.
É medo e solidão.
E é tudo o que terão sempre que seu melhor amigo for o celular.
Compre um carro velho, deixe seu cabelo crescer, adote um cachorro e saia pelo mundo nas suas folgas e você vai descobrir que existe uma coisa ‘nova’ lá fora, que se chama VIDA.
E o mais impressionante é que só vivendo de verdade nós seremos FELIZES.
Boa quarta.