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A intolerância disfarçada de razão – Marcelo Etiene

A intolerância disfarçada de razão

Vivemos tempos de modernidade, mas não estamos mais modernos com isso.

Os conceitos têm sido flexibilizados de tal forma que nos tornamos experimentalistas, curiosos e leigos de alto saber.

Se temos vontade de beber, temos milhares de oportunidades de “vivenciar” a experiência alheia, com fotos, vídeos, opiniões de especialistas, aplicativos e etc.

Da mesma forma para comidas, esportes, religiões, política e, enfim, tudo.

Nos tornamos criaturas plugadas em uma “inteligência” maior, que é capaz de nos proporcionar sensações sem que tenhamos que realizar os atos que seriam normais.

Essas experiências nos levam à praticamente 100% do que seria possível experimentar, faltando em alguns casos, apenas o sabor e o aroma.

Temos um novo cérebro, só que não.

Resistimos a tudo que esteja fora da nossa ‘configuração’. Desenvolvemos uma intolerância disfarçada de razão.

Odeio especialistas.

Talvez porque sejam insuportavelmente teóricos e lhes falte a prática que infla as sensações.

Antigamente, se alguém quisesse beber, saía e ia fazer disso um pretexto para encontrar os amigos.

A vida de hoje tem aplicativos que trazem a bebida, a companhia, os livros (???), roupas e tudo mais que precisamos.

Há os aplicativos, ou apps, que trazem a pessoa ‘amada’ em poucos instantes, porque conecta pessoas que estiverem próximas a você.

Mas onde está a iniciativa?

Caminhamos a passos largos para uma inutilidade que assombra. Vejo cada dia mais pessoas solteiras com 30, 40, 50 anos e que nunca se casaram.

Pessoas que trabalham em casa, comem em casa, vivem dentro do alcance de rede de seus dispositivos móveis.

Há encontros? Sim, mas cada vez menos e para todos os fins.

Trocaram seus espelhos por câmeras e o mundo te conhece pela selfie que você faz.

O nome disso tudo é covardia.

É medo e solidão.

E é tudo o que terão sempre que seu melhor amigo for o celular.

Compre um carro velho, deixe seu cabelo crescer, adote um cachorro e saia pelo mundo nas suas folgas e você vai descobrir que existe uma coisa ‘nova’ lá fora, que se chama VIDA.

E o mais impressionante é que só vivendo de verdade nós seremos FELIZES.

Boa quarta.