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Ibovespa fecha perto da estabilidade e dólar registra R$ 4,10

Foto: Mohammed Hywais / AFP / CP Memória

Declarações de presidente do Fed equilibraram índice nesta quarta-feira 

Em uma sessão marcada pela expectativa em torno da decisão de política monetária do Federal Reserve, o Ibovespa operou ao longo da tarde sob forte influência das oscilações dos índices em Wall Street. Em um primeiro momento, houve certa decepção com o comunicado do BC americano, que não se comprometeu com uma sequência de cortes de juros. Em meio ao aprofundamento das perdas em Nova York, o Ibovespa chegou a operar pontualmente abaixo dos 104 mil pontos e desceu até mínima dos 103.684,12 pontos.

Declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, porém, trouxeram certo alívio. Com a virada do índice Dow Jones para o terreno positivo, o Ibovespa praticamente zerou as perdas e fechou aos 104.531,93 pontos (-0,08%). Como esperado pela ala majoritária do mercado, o Fed reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, para uma faixa entre 1,75% e 2,00%. A decisão não foi unânime. Dois dirigentes votaram por manutenção e um por um corte de 0,50 ponto.

Segundo o chamado gráfico de pontos, a maioria dos dirigentes vê mais uma redução de 0,25 ponto até o fim de 2019, para uma faixa entre 1,50% e 1,75% – nível que seria mantido ao longo de 2020. Em seu comunicado, o Fed afirma o mercado de trabalho continua “forte” e que a economia segue expansão moderada. Em entrevista coletiva, Powell evitou repetir que o corte de juros se trata de um “ajuste de meio de ciclo”, expressão que causou alvoroço em julho, por sugerir que o Fed descartaria a possibilidade de uma sequência de redução de juros. Embora tenha salientado que as próximas decisões dependem dos indicadores econômicos, esquivando-se de comprometer com mais afrouxamento monetário, Powell deixou uma porta aberta para novos cortes. Ele afirmou que seria um erro tentar manter “o poder de fogo da política monetária” até que uma desaceleração ganhe impulso. Mais: que se economia se enfraquecer mais, o BC americano está preparado “para ser mais agressivo”.

Para Vitor Péricles de Carvalho, estrategista da LAIC-HFM Gestão de Recursos, o tom do comunicado levemente mais hawkish e previsão de apenas mais uma redução de 0,25 ponto dos juros neste ano assuntaram um pouco os investidores, que esperam sinais mais claros sobre o grau de afrouxamento monetário. “Powell mostrou que o Fed está totalmente ‘data dependent’ e continuará com esse tom de ajuste pontual, de acordo com os indicadores”, afirma Carvalho, ressaltando que a incerteza sobre o ritmo desaceleração da economia americana, em meio à guerra comercial com a China, é muito elevada.

Por aqui, a expectativa majoritária do mercado era que o Copom anunciasse nesta noite nova redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 5,50% ao ano – o que se confirmou à noite -, e deixasse a porta aberta para, pelo menos, mais uma redução. Uma ala relevante de economistas já trabalha com a possibilidade de Selic abaixo de 5% no fim do ano. Na expectativa de mais afrouxamento monetário, as ações de varejistas tiveram mais um pregão positivo.

Operadores destacam que a queda dos preços internacionais do petróleo e a baixa do minério de ferro levaram os papéis de Petrobras e Vale, respectivamente, a quedas superiores a 1%, o que limitou o fôlego do Ibovespa.

Dólar

A reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que cortou os juros, mas sem consenso de todos os dirigentes, e as declarações do presidente da instituição, Jerome Powell, que não se comprometeu com mais reduções de juros pela frente, fortaleceram o dólar no mercado financeiro internacional e o reflexo aqui foi imediato. A moeda americana acelerou a alta e chegou a ser cotada a R$ 4,11 na máxima do dia, logo após a reunião. Em seguida, a valorização perdeu um pouco de força, mas a moeda acabou encerrando em alta de 0,65%, a R$ 4,1036.

As projeções dos dirigentes do Fed apontaram para mais um corte de juros este ano, mas não mostram novos recuos em 2020. Na entrevista à imprensa, Powell disse que o Fed é “dependente de indicadores” e que, se a economia americana diminuir o fôlego, cortes mais agressivos podem ser apropriados. O economista do TD Bank, James Marple, avalia que o fato de a decisão de cortes de juros não ter sido por unanimidade sinaliza o “elevado nível de incerteza” sobre a visão do Fed para a economia americana. Dois dirigentes defenderam manutenção da taxa de juros, enquanto outro queria um corte maior, de 0,50 ponto. A maioria optou por uma diminuição de 0,25 ponto. Por aqui, o Banco Central cortou a taxa em 0,50 ponto, para 5,5% ao ano.

Para o economista do Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC), Avery Shenfeld, o Fed fez um “corte de juros hawkish”, ou seja, sem sinalizar movimentos mais duradouros pela frente e ainda com votos dissidentes. Já a declaração de Powell de que pode antecipar o aumento do balanço da instituição é um indício de que um novo programa de compras de ativos está a caminho, expectativa que vem crescendo em meio aos problemas de liquidez no mercado de títulos de curto prazo dos EUA.

Para os estrategistas do banco Credit Suisse, o Fed cortou juros, mas o conjunto de informações ficou aquém do que o mercado esperava, por isso o fortalecimento do dólar. “A reunião mostrou um Fed dividido, não convencido de que cortes adicionais são necessários”, escrevem em relatório na tarde desta quarta-feira. Com isso, o dólar subiu forte ante divisas fortes, sobretudo o euro, e operou misto ante emergentes, caindo ante divisas como Rússia, África do Sul e Colômbia, e subindo no México.

Taxas de juros

A chamada “Super Quarta” terminou com os juros futuros estáveis ante os ajuste anteriores. As taxas passaram o dia oscilando entre a estabilidade e viés de baixa, inclusive após a divulgação do comunicado do Federal Reserve e durante a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, eventos que não provocaram reação expressiva nos ativos de renda fixa local.

As taxas futuras de médio e longo prazo, que mostravam ligeira queda antes do Fed, chegaram a tocar pontualmente as máximas perto da estabilidade após a entrevista de Powell, a reboque da piora nos mercados de moedas emergentes e de um estresse nas T-Notes de curto prazo, mas nada significativo.

Já os juros curtos percorreram a sessão de lado, refletindo o compasso de espera pela sinalização do comunicado do Copom no começo da noite, uma vez que o consenso em torno do corte de 0,50 ponto porcentual da Selic seguiu intacto e se confirmou no início da noite. No fechamento da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que melhor reflete as apostas do mercado para as decisões do Copom em 2019, estava estável ante o ajuste de terça, a 5,185%. A do DI para janeiro de 2021 terminou em 5,220%, de 5,208%, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 6,27%, mesmo nível do ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,83%, de 6,841%.

Apesar da movimentação restrita das taxas, a liquidez foi elevada nos principais contratos, refletindo o ajuste de posições para as principais decisões de política monetária da semana nesta quarta-feira: Fed e Copom. O Fed endossou a aposta majoritária do mercado de queda de 0,25 ponto porcentual nos fed funds, para a faixa entre 1,75% e 2,0%, mas o comunicado mostrou falta de consenso entre os dirigentes para os próximos movimentos, o que trouxe algum incômodo. “O gráfico de pontos é ‘surpreendente’ e indica ‘divisões claras’ entre os dirigentes, diz o economista-chefe Pantheon Macro, Ian Shepherdson.

Na sequência do comunicado, veio a entrevista de Powell, durante a qual o rendimento da T-Note de dez anos chegou a acelerar o ritmo de alta e o dólar foi para as máximas, firmando-se acima dos R$ 4,10 no Brasil. Houve alguma pressão sobre a curva doméstica, que apagou o viés de baixa que predominava desde o começo da tarde.

Correio do Povo