Haddad defende cuidado com ideia de fim do parcelamento sem juros para não gerar ‘outro problema’
Rogério machado
Haddad defende cuidado com ideia de fim do parcelamento sem juros para não gerar ‘outro problema’
Ministro defendeu modalidade, que representa mais de 70% das compras no comércio; presidente do BC sugeriu frear modelo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta segunda-feira a manutenção do parcelamento sem juros nas compras com cartão de crédito. Nos últimos dias, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que estuda frear o uso da modalidade, por meio de uma nova tarifa.
No entanto, empresas e bancos temem a possibilidade.
Campos Neto citou a mudança como uma possível solução para as altas taxas cobradas no rotativo.
A linha de crédito é considerada a mais cara do país, com juros médios de mais de 437% ao ano.
“O parcelado sem juros responde por mais de 70% das compras feitas no comércio. Temos de ter muito cuidado para não afetar as compras no comércio e gerar outro problema para resolver o primeiro”, disse o ministro.
Haddad afirmou haver consenso entre os bancos, o governo federal e o Banco Central de que é preciso preservar setores que dependem do parcelamento sem juro. “Nem todo mundo tem disponibilidade para fazer compras à vista”, avaliou.
Para o ministro, o foco dos trabalhos, no momento, é o crédito rotativo, “que não pode continuar como está”.
“Tenho o compromisso dos bancos públicos e privados de que essa negociação [de solução para o rotativo] tem prazo para terminar [90 dias]. Isso tem de ter prazo para terminar. O rotativo é um problema”, reforçou Haddad.
Entenda
Durante sabatina no Senado na semana passada, Campos Neto afirmou que está sendo estudada a possibilidade da criação de uma tarifa para desestimular o parcelamento sem juros de longo prazo no cartão de crédito.“Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado”, comentou. Atualmente, as compras com cartão de crédito respondem por 40% do consumo brasileiro.Também no Senado, o presidente do Banco Central afirmou que os juros rotativos do cartão de crédito são “um grande problema” e ressaltou que a ideia é que o crédito seja direcionado diretamente para um parcelamento da dívida com taxa de juros menor, em torno de 9% ao mês.“A solução está se encaminhando para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento. Que seja uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Você extingue o rotativo. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9% [ao mês]”, declarou.Críticas
A ideia de Campos Neto de frear o parcelamento de compras sem juros por meio de uma taxa pode atrapalhar a retomada econômica do Brasil, como alerta o economista Gelton Pinto Coelho.Para o especialista, o aumento de custos sobre o parcelamento pode levar as famílias a consumir menos. “Neste momento de retomada da economia, precisamos de mais circulação de moeda, de mais empregos e renda”, avalia.A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou nesta segunda que o parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito deve ser mantido. Em nota, a entidade disse que não defende a ideia de acabar com a modalidade, mas, sim, a necessidade de um reequilíbrio do custo e do risco de crédito.