Rogério Machado Blog – Noticias, informações, politica e saúde

Escritores repercutem escolha de Bob Dylan para Nobel de Literatura

Decisão de Academia Sueca gerou debate nas redes sociais

Anúncio feito nesta quinta dividiu opiniões | Foto: Nobelprize.org / Divulgação / CP

Os palpites apontavam para o poeta sírio Adonis ou o escritor queniano Ngugi Wa Thiong’o, mas quem levou o Prêmio Nobel de Literatura foi Bob Dylan, surpreendendo muitos escritores e gerando um debate nas redes sociais. Pela primeira vez desde a criação do prêmio, um cantor ganhou a premiação sueca, que ainda hoje esqueceu de escritores do porte de Philip Roth, Joyce Carol Oates e Don De Lillo.

• Bob Dylan, a voz enigmática de um poeta

Citada entre os possíveis candidatos, Joyce Carol Oates escreveu um tuíte muito cruel sobre Dylan. “Talvez possa nos dar explicações sobre ‘Jack of Diamonds’ se ainda se lembrar”, escreveu, dando a entender que Robert Allen Zimmerman – seu verdadeiro nome – não foi o autor do texto.

Os comentários irônicos vieram em enxurrada nas redes sociales. “Porque deveríamos prestar atenção a um prêmio que nunca foi dado a Jorge Luis Borges e que agora é atribuído a Bob Dylan?”, questionou um deles.

“O nome de Dylan foi muito citado nos últimos anos, mas sempre se pensou que fosse uma piada”, lembrou Pierre Assouline, escritor francês membro da Academia Goncourt, que criticou muito a decisão. “Ter atribuído (a ele) o Nobel de Literatura é lamentável”, disse o escritor. “Gosto de Dylan, mas não tem uma obra. A Academia sueca se ridiculariza. É degradante para os escritores”, acrescentou.

O escocês Irvine Welsh exibiu a mesma opinião. Em sua conta no Twitter, o escritor disse que o prêmio outorgado a Dylan, de 75 anos, era uma decisão resultante da “nostalgia deslocada, saída das próstatas antiquadas de um grupo de hippies senis”.

Questão de geração? Em Paris, em meio a um grupo de estudantes de Humanas, reunidos em um evento no momento em que o prêmio foi anunciado, o nome de Dylan não diz nada.

Detratores e entusiastas

A atribuição do Nobel a um “trovador” reabre a polêmica se é escritor somente aquele que escreve livros. Brincar com a língua, suscitar emoções com as palavras – algo que sem dúvida Bob Dylan fez -, também é fazer literatura, dizem os defensores da decisão da Academia sueca.

“Os puristas e outros amargos rasgarão as roupas, denunciarão a degeneração do espírito de Nobel, mas me alegro de que se reconheça também a literatura na Palavra – no sentido poético do termo – em tempos em que muitos artistas pensam ser dispensados da exigência de fundo e forma em sua criação”, denuncia o escritor Alain Mabanckou, obviamente satisfeito com esse Nobel. “Georges Brassens também teria merecido”, acrescenta, em referência ao cantor e compositor francês que morreu em 1981.

O romancista Philippe Margotin, coautor de uma biografia de Bob Dylan (“Bob Dylan, total”), considera que o autor de “Like A Rolling Stone” é “o grande poeta vivo norte-americano do século XX”. Segundo o escritor, a cultura literária de Dylan é inegável. “Leu muito autores, de Arthur Rimbaud a William Blake. E além disso, se inspirou nos poetas da Geração Beat”.

“Entre as 500 canções que compõem sua obra, algumas podem ser consideradas menos importantes musicalmente, mas em todas há um texto absolutamente sublime”, diz. O intérprete de “The Times They Are A Changin” publicou alguns livros. Escreveu um único romance, “Tarântula” (1966). A publicação do primeiro volume de suas crônicas em 2005 foi um grande sucesso, com 500 mil exemplares vendidos nos Estados Unidos.

Na língua inglesa, a bibliografia de Bob Dylan é muito variada. A editora Knopf lançou em 1973 “Writing and Drawings”, a Harcourt Brace um livro ilustrado por Scott Menchin, “Man Gave Names to All The Animals”, e a Atheneum os livros “Forever Young” e “If Not For You”.

Correio do Povo