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Enquetes, testes e quizes online são porta escancarada para informações pessoais

Especialista alerta sobre perigos do uso de dados para influenciar comércio e democracia

Especialista alerta sobre perigos do uso de dados para influenciar comércio e democracia | Foto: Karen Bleiker / AFP / CP Memória

Consultorias de dados digitais utilizam enquetes, testes e “quizes” para obter informações pessoais e, posteriormente, usá-las de forma comercial e política. O alerta é da especialista em arquitetura da informação, Melissa Lesnovski, em meio à crise do Facebook, com o suposto uso irregular de dados dos usuários.

“Isso tem a ver mais com o elemento humano, de quanto a gente aceita dar informações sobre nós, sem questionarmos”, apontou Melissa, em entrevista à Rádio Guaíba nesta terça-feira. “Esses testes de que bicho a gente seria, qual nossa personalidade. A gente vai respondendo informações que parecem não ter nada demais”, citou. “Mas a partir daí, mostrou se sou mais conservadora, ou liberal, e isso poderá ser utilizado para vender coisas para mim ou tentar influenciar minhas ideias”, ponderou.

Conforme Melissa, é possível reparar em como é tratada essa informação ao comparar como outras pessoas recebem conteúdo de redes sociais. “Eu e minha vizinha recebemos coisas totalmente diferentes uma da outra”, ponderou. “A gente precisa questionar e desconfiar de todos os testes e quizes que aparecem na nossa frente. Quem promove isso? Se eu sei que é uma organização séria, até posso participar. Mesmo assim com aquela desconfiança, de que estou fornecendo dados. E quais são?”

A gravidade desse acesso aos dados, comentou Melissa, é que já se comprovou que ocorrem manipulações em processos importantes, mesmo em grandes países. “É um alerta muito grande que nossos processos democráticos estejam vulneráveis à manipulação e de uma forma personalizada”, argumentou. “A gente saber que, mesmo as maiores potências tem influências desse tipo. É aterrorizante”, afirmou. “E é certeza que isso já está ocorrendo no Brasil. Não há registros de que tenha sido utilizado, mas a partir deste escândalo podemos levantar algumas suspeitas para ter cuidados com o que compartilhamos e o que respondemos. Atentar para qual consultoria atende qual candidato e a partir daí tomar a melhor decisão.”

Escândalo

Segundo investigação realizada pelos jornais “The New York Times” e “The Observer” (a edição dominical do jornal britânico “The Guardian”), a Cambridge Analytica usou dados de milhões de usuários de Facebook, sem seu consentimento, com os quais teria criado um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.

O Facebook suspendeu a CA na semana passada, após saber que a empresa não havia destruído os dados de milhões de usuários. O interesse nas atividades de Cambridge Analytica foi redobrado após a transmissão na segunda-feira de uma reportagem do Channel 4, na qual os diretores, entre eles o presidente executivo Alexander Nix, ofereciam a um jornalista que se fez passar por cliente potencial desacreditar seus rivais políticos envolvendo-os com prostitutas, ou subornos, por exemplo.

Correio do Povo