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Eleição presidencial do Brasil tem 11 pré-candidatos

Cientistas políticos apontam que inúmeros postulantes indicam desestruturação do sistema político

Cientistas políticos apontam que inúmeros postulantes indicam desestruturação do sistema político | Foto: Marcelo Camargo / ABr / CP

A cinco meses para o início do registro das candidaturas, a corrida eleitoral deste ano começa a ganhar forma ao menos 11 postulantes ao Palácio do Planalto. Nesta quinta-feira, os nomes do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foram lançados por seus partidos. Especialistas apontam o cenário de incerteza na disputa presidencial, reflexo da crise política, e o fim do financiamento empresarial como determinantes para a proliferação de candidaturas.

A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até agora líder nas pesquisas de intenção de voto, ficar impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa, também é considerada um fator para a pulverização. Algumas dessas candidaturas, porém, são vistas como tentativa de os partidos se cacifarem nas negociações de alianças eleitorais, como a do próprio Maia. No evento em que “estreou” como pré-candidato à Presidência, o deputado federal foi reverenciado por líderes de siglas do Centrão e até por representantes do PSDB, que já tem no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o seu pré-candidato. Os tucanos ainda tentam atrair o DEM para a sua chapa presidencial.

A exemplo da candidatura do DEM, considerada de centro, no campo da esquerda a postulação de Manuela D’Ávila (PCdoB) também é tratada com ceticismo. Historicamente, o partido tem se colocado como linha auxiliar do PT e aliados dizem ter dúvidas se ela a manterá até o fim. “O quadro está aberto, não existe o franco favorito. Partido grande não tem candidato forte eleitoralmente, candidato mais forte está em partido fraco. O primeiro colocado nas pesquisas está impedido e o outsider saiu. O governo é muito bom nos resultados econômicos e pessimamente avaliado. Isso tudo dá muita insegurança para se apostar em coligações agora”, afirmou o cientista político Rubens Figueiredo.

A fragmentação vista no campo de centro, que reúne, além de Maia e Alckmin, o senador Álvaro Dias (Podemos), pode ainda ficar maior caso o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), mantenha intenção de disputar. Ele negocia sua filiação ao MDB, mas dirigentes da sigla têm dito que a prioridade em caso de candidatura própria é do presidente Michel Temer – que afirma não ter a pretensão de disputar a reeleição. “Vemos a pré-candidatura do Maia com o mesmo respeito que vemos a do Meirelles e acompanharemos outras candidaturas que compõem base. E inclusive alguma do MDB que possa ser lançada”, disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

Fator Lula

Na esquerda, a indefinição sobre a candidatura de Lula também incentiva a fragmentação. Além do petista e de Ciro, o PSOL lança amanhã Guilherme Boulos como pré-candidato. Embora considerada mais ao centro, Marina Silva (Rede) – oficializada como pré-candidata em dezembro passado – disputa o mesmo eleitorado.

No outro extremo, o PSL filiou o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que só fica atrás de Lula nas sondagens eleitorais. O empresário João Amoêdo, foi lançado pelo Novo em novembro do ano passado. Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, uma das medidas do que chama de “desestruturação” de sistema político é o número de candidaturas à Presidência. Segundo ele, até o momento, é possível projetar 18 candidaturas presidenciais para 2018. “Nosso recorde foi em 1989 quando 22 candidatos se lançaram. A diferença é que em 1989 a descoordenação era reflexo da inauguração do regime, já 2018 é um retrato de sua desconstrução.”

Vitorioso na primeira eleição após a redemocratização, o senador Fernando Collor (AL) se lançou pré-candidato ao Planalto pelo PTC. “Com a crise e a ausência de candidatos com grande poder de aglutinação, todos partidos políticos resolveram se aventurar”, disse o cientista político Carlos Melo, pesquisador do Insper. A consequência, segundo ele, pode ser uma disputa em segundo turno entre dois candidatos com poucos votos. Para Marchetti, “uma candidatura que consiga algo em torno de 20% dos votos no primeiro turno terá grande chance de disputar o segundo e sair vitoriosa”.

Correio do Povo