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“Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes

Ao refletir sobre “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, sinto-me compelido a entrelaçar minha própria jornada intelectual com a narrativa magistralmente tecida pelo autor.
Desde minha primeira leitura, a obra não apenas cativou minha imaginação, mas também me ofereceu um espelho através do qual pude vislumbrar as complexidades da condição humana.
Cervantes, em sua genialidade, criou um personagem que transcende o tempo e o espaço. Dom Quixote de la Mancha, com sua ardente paixão pelos romances de cavalaria, embarca em uma odisseia quixotesca que, paradoxalmente, revela as verdades mais profundas sobre a realidade e a ilusão.
Em minha própria vida, muitas vezes me vi confrontado com a dualidade entre idealismo e pragmatismo.
A analogia entre o cavaleiro da triste figura e o indivíduo moderno é inescapável; ambos são frequentemente aprisionados entre suas aspirações elevadas e as cruas realidades do cotidiano.
Ao acompanhar Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança, fui levado a contemplar a natureza da loucura e da sanidade.
A leitura de Cervantes me permitiu perceber que a linha entre os dois estados é, muitas vezes, tênue e subjetiva.
Em um mundo contemporâneo repleto de fake news e realidades alternativas, a busca de Dom Quixote por uma verdade idealizada ressoa profundamente.
Sua luta contra os moinhos de vento, que ele acredita serem gigantes, pode ser vista como uma metáfora para as batalhas modernas contra forças invisíveis e intangíveis que ameaçam nossa percepção da verdade.
A relação entre Dom Quixote e Sancho Pança também oferece uma rica tapeçaria de insights sobre a dinâmica entre idealismo e realismo.
Enquanto Dom Quixote personifica o idealismo intransigente, Sancho Pança representa o pragmatismo terreno.
Em minha própria trajetória acadêmica e profissional, muitas vezes me vi oscilando entre esses dois polos.
A convivência harmoniosa entre o sonho e a realidade, ensinada por Cervantes, é uma lição que continua a informar minhas decisões e perspectivas.
Ademais, a obra de Cervantes explora temas de identidade e transformação.
Dom Quixote, ao reinventar-se como cavaleiro andante, desafia as normas sociais e culturais de seu tempo. Em um mundo moderno onde a identidade é frequentemente fluida e em constante evolução, a coragem de Dom Quixote em definir-se à sua maneira é inspiradora.
Em minha pesquisa e escrita, essa noção de auto-criação e reinvenção é uma constante, refletindo a capacidade humana de transcender limites e expectativas.
Em última análise, “Dom Quixote” não é apenas uma sátira dos romances de cavalaria, mas uma meditação profunda sobre a condição humana.
Através das aventuras de Dom Quixote e Sancho Pança, Cervantes nos desafia a reconsiderar nossas próprias percepções de realidade, identidade e verdade.
Para mim, a obra continua a ser uma fonte inesgotável de inspiração e reflexão, uma testemunha perene da complexidade e beleza da existência humana.
Em cada leitura, encontro novas camadas de significado, novas conexões com minha própria vida e com o mundo ao meu redor, reafirmando a atemporalidade e a relevância da criação de Cervantes.
Oliver Harden
Pintura : Ernesto Duarte