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Dólar vai a R$ 5,74 e fecha no maior patamar em nove meses com avanço da ômicron

Moeda norte-americana fechou sessão com alta de 1,02%

Moeda fechou no maior patamar em nove meses 

O comportamento do mercado de câmbio nesta segunda-feira espelhou a busca por proteção com demanda alta pela moeda à vista em dia de negociação e véspera de votação do Orçamento de 2022 na CMO, além de aspectos mais preocupantes no exterior por conta da variante ômicron e seus impactos nas economias globais.

Assim, o dólar manteve a trajetória de alta durante toda a sessão, que já tem liquidez reduzida por conta das festividades de final de ano. Durante a tarde, a pressão aumentou sobre o real e levou a cotação da divisa americana às máximas, na casa dos R$ 5,7461 no spot e a R$ 5,7595 no segmento futuro com vencimento em janeiro. Encerrou as negociações cotado a R$ 5,7431 no spot, em alta de 1,02%. No futuro, a R$ 5,7540, em alta de 0,72%.

Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden investimentos, aponta questão externa a influenciar a alta do dólar no Brasil na sessão de hoje: moedas de emergentes como da Turquia, da Argentina e agora do Chile -após eleger o esquerdista Gabriel Boric – estão depreciando e isso tem efeito de contaminação para o real. “Há um contágio marginal do comportamento dessas moedas emergentes para o real”, afirmou.

Pela manhã, o dólar avançou quase 10% sobre a lira turca. No entanto, nesta tarde, após anúncio de medidas cambiais, a trajetória se inverteu. Entre as ações, a introdução de um novo programa que protegerá as poupanças das flutuações da lira e a compensação das perdas incorridas pelos detentores de depósitos na moeda local, caso os declínios da lira em relação às moedas fortes excedam as taxas de juros prometidas pelos bancos.

Tudo em um ambiente no qual a aversão a risco se instala por conta das incertezas com o aumento da contaminação de Ômicron. “A Ômicron tem potencial, novamente, de afetar a cadeia de oferta, batendo na inflação e levando os BCs a serem mais agressivos. Os investidores seguem, então, comprando dólar, mesmo nesse nível, para proteção”, disse.

Para Marcos Weigt, CEO da Travelex, as discussões sobre o Orçamento e a saúde fiscal do país também permeiam as preocupações dos investidores. “Há, sim, esta preocupação apesar de que, no ano que vem, por conta do período eleitoral, não deve haver tanto problema.”

A pressão por gastos aumenta. Hoje o relator-geral do Orçamento, Hugo Leal (PSD-RJ), aumentou de R$ 1.169 para R$ 1.210 a previsão para o salário mínimo no ano que vem, devido à alta nas estimativas para a inflação no País. O Orçamento deve ser apreciado amanhã na CMO.

Juros

Os juros futuros inverteram o sinal no fim da manhã e tiveram uma tarde de forte alívio nos prêmios, a despeito do desconforto com o debate em torno do Orçamento de 2022. Operadores citaram o temor com a Ômicron como catalisador das baixas, em especial nos vencimentos mais curtos. Com nova rodada de restrições no Hemisfério Norte, petróleo e taxas cederam no exterior e impactaram o mercado local, à medida que a variante tem sido cada vez mais percebida como desinflacionária e limitadora da atividade econômica.

A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 passou de 11,80% no ajuste de sexta-feira para 11,54% (regular) e 11,545% (estendida). A do janeiro 2025 foi de 10,757% para 10,505% (regular, na mínima) e 10,54% (estendida). E a do janeiro 2027 recuou de 10,621% a 10,46% (regular) e 10,48% (estendida).

Em termos de liquidez, foram 674 mil contratos do DI janeiro 2023 negociados hoje, 278 mil do janeiro 2025 e 101 mil do janeiro 2027. Para efeito de comparação, na segunda-feira passada, foram, respectivamente, 588 mil, 233 mil e 120 mil contratos negociados. Mas a percepção é de que, de agora até a virada do ano, o volume será cada dia menor.

A incerteza fiscal diante das batalhas em torno da destinação de recursos do Orçamento do ano que vem – o que, aliás, adiou a votação da peça orçamentária na Comissão Mista para amanhã – foram deixadas de lado pelos agentes ao longo da tarde. Não que o temor tenha desaparecido, mas o exterior acabou pesando mais.

Por lá, a Europa tem apertado cada vez mais as regras sanitárias, dado o temor de a cepa se espalhar especialmente entre os não-vacinados. O Reino Unido, por exemplo, observa um crescimento exponencial de casos. E cada vez mais grandes eventos tem sido cancelados. Paris desistiu de fazer a tradicional queima de fogos na Champs-Elysées e o Fórum Econômico Mundial adiou para o início do verão (no Hemisfério Norte) a sua reunião anual, marcada inicialmente para entre 17 e 21 de janeiro em Davos (Suíça).

São medidas que já tendem a encolher o transporte aéreo, com impacto em ações de companhias aéreas e na cotação do petróleo (veja mais nos cenários de Mercados Internacionais e Bolsa). Na prática, essas ações também têm reflexo na desaceleração da atividade e na inflação de prazo mais curto. Aqui no Brasil, a Ômicron ainda não se espalhou muito, mas o surto da gripe H3N2 acendeu o alerta de autoridades de saúde em Estados do Sudeste.

Hoje, os agentes monitoram ainda sinais sobre a inflação e atividade locais. Além dos dados, o mercado também observou a abertura do Relatório de Mercado Focus, que trouxe alívio marginal nas projeções para o IPCA de dezembro (de 0,72% semana passada para 0,71% hoje), janeiro (de 0,54% para 0,51%), 2021 (10,05% a 10,04%) e 2023 (3,46% a 3,40%).

Correio do Povo