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Dólar tem novo dia de volatilidade e fecha cotado em R$ 5,22

Foto: Marcos Santos / USP Imagens / Divulgação / CP

Moeda norte-americana encerrou com leve queda de 0,18%

Dólar futuro para junho cedia 0,11% às 17h10, em R$ 5,2275 

O dólar teve novo dia de volatilidade, operando sem firmar tendência. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizando nova alta de juros em junho, mas reforçando a visão de ajuste parcial na Selic, fez as cotações subirem mais cedo.

No início da tarde, porém, a moeda norte-americana chegou a cair e testou os R$ 5,20, refletindo a melhora do Ibovespa e fluxo externo, segundo operadores. A divisa caiu ante pares fortes, mas subiu em relação a alguns emergentes, como o México, refletindo a alta dos juros longos americanos em meio a renovadas preocupações com a inflação nos Estados Unidos.

Nesse ambiente, com a cena política também no radar, a divisa dos EUA acabou terminando o dia em leve queda de 0,18%, cotado em R$ 5,2227. O dólar futuro para junho cedia 0,11% às 17h10, em R$ 5,2275.

O estrategista de moedas do banco Brown Brothers Harriman (BBH), Ilan Solot, destaca que há um emaranhado de fatores afetando os ativos locais, alguns positivos, outros negativos. Entre eles, a pandemia dá sinais de melhora, mas ao mesmo tempo a CPI da Covid-19 no Senado inspira cautela. Os juros estão em alta pelo Banco Central, mas o cenário fiscal exige atenção e permanece como peça essencial a ser ajustada na economia brasileira.

Ainda é cedo para afirmar, mas a própria valorização recente do real, caso dure, pode ajudar a tornar o ciclo de alta da Selic mais curto, avalia Solot.

Na ata desta terça-feira, a visão de normalização parcial da taxa de juros prevaleceu, comenta o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em relatório. Ele prevê nova elevação de 0,75 ponto porcentual em junho e a Selic indo a 5,25% ao final do ano.

O ciclo de elevação provavelmente se dará em dois estágios, afirma Ramos, destacando que esta sinalização é uma das principais inovações da ata. Assim, a primeira fase deve terminar com a Selic ainda em território estimulativo, abaixo do nível neutro. Após uma pausa, as elevações prosseguiriam em um segundo momento, levando a taxa básica a 6,5% ao final de 2022.

Neste contexto, para a gestora Franklin Templeton, o dólar pode recuar para um nível mais próximo de R$ 5,00, se houver melhora na percepção de risco político. Na carta mensal divulgada nesta terça, o diretor de renda variável, Frederico Sampaio, ressalta que, no quadro externo, o Brasil está sendo “amplamente favorecido” pela valorização expressiva dos preços dos produtos básicos de exportação, como o minério de ferro e soja. “Os termos de troca da economia brasileira voltaram aos patamares de 2009/10, quando eram recorde. Claramente, os fundamentos econômicos jogam a favor de uma maior valorização do real.”

Mas Sampaio alerta que a gestora “continua achando o cenário doméstico desafiador, com muita incerteza política e quadro fiscal delicado”. Já outro fator positivo para o real é que os investidores estrangeiros voltaram a entrar com recursos na Bovespa, com saldo de R$ 7 bilhões em abril, destaca o gestor da Franklin Templeton. Este mês, até o dia 7, o saldo está positivo em R$ 3,4 bilhões.

Juros

Os juros futuros terminaram a terça-feira em queda. As taxas curtas e, principalmente, as do miolo, tiveram recuo firme desde cedo, com o mercado digerindo a ideia reforçada no documento de que o Copom encerrará o ciclo de alta da Selic antes que esta alcance o chamado patamar neutro, mantendo algum nível de estímulo.

As apostas de aperto monetário mais forte no Copom de junho, de 1 ponto porcentual, se enfraqueceram, na medida em que os diretores endossaram a intenção de aplicar novo aumento de 0,75 ponto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio ligeiramente acima das estimativas, mas sem comprometer as projeções de inflação para 2022, agora horizonte da política monetária nos próximos meses.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,78% (4,849% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2023, em 6,505%, de 6,653% na segunda-feira. O DI para janeiro de 2025 passou de 8,165% para 8,04% e a do DI para janeiro de 2027, de 8,714% para 8,66%.

As longas subiam pela manhã, pressionadas pelo avanço do dólar e do rendimento dos Treasuries, mas à tarde a moeda norte-americana passou a cair, devolvendo a ponta longa para os ajustes de segunda-feira, enquanto os demais trechos mantiveram-se sob a influência da ata do Copom.

“O mercado comprou a ideia de um ciclo menor, mas acredito que vai acabar sendo maior do que se imagina. O mundo todo está preocupado com a inflação”, disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, disse que o mercado viu a ata mais “dove” do que o comunicado. “A ata garantiu mais 75 pontos, mas não garantiu nada à frente”, escreveu.

O destaque da ata foi o parágrafo 14, no qual o Copom reitera o recado do comunicado de que o processo de normalização da Selic será “parcial”, argumentando que um ajuste total poderia levar as expectativas de inflação para muito abaixo da meta. “Elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções consideravelmente abaixo da meta de inflação no horizonte relevante”, afirma o texto.

Na avaliação do estrategista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o mercado vinha muito pressionado por fatores técnicos nos últimos dias, com investidores montando posições tomadas em DI como hedge para ficarem vendidos em dólar, o que ajudou a potencializar a reação nesta terça à ata e ao IPCA. “O IPCA em 12 meses veio alto, mas a dinâmica parece ser favorável, pois a inflação não parece estar espalhada”, afirmou.

O índice subiu 0,31% em abril e ficou pouco acima da mediana das previsões de 0,29%, com a taxa em 12 meses passando de 6,10%, em março, para 6,76% em abril. Alguns especialistas alertam que esse movimento está contaminado pelos números atípicos de deflação de 2020 – em abril do ano passado foi de -0,31%. A Capital Economics observa que o choque de alimentos está dando mais sinais de dissipação, com a menor taxa em 12 meses desde setembro (15,54%). “A alta dos preços dos alimentos já está se dissipando, a de energia deve seguir o mesmo caminho depois e a inflação subjacente está modesta. Assim, o índice geral deve desacelerar drasticamente no final deste ano”, afirmam os profissionais da consultoria.

Bolsa

O Ibovespa conseguiu não apenas se sustentar no nível dos 122 mil pontos, marca esta que alcançou na sexta-feira da semana passada, mas quase tocou os 123 mil pontos muito embora diante de um ambiente externo arredio. A força das empresas ligadas às commodities e, marginalmente, os bons resultados corporativos na média, ajudaram o principal índice do mercado acionário brasileiro no desempenho desta terça-feira na qual o temor de uma alta da inflação global – e, por consequência, a necessidade de uma elevação das taxas de juros – tomou os investidores.

Após oscilar mais de 2,5 mil pontos entre a máxima e a mínima intraday, o Índice Bovespa encerrou na máxima com alta de 0,87% aos 122.964,01 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 30,1 bilhões.

Destaque do dia, as ações da Vale e empresas correlatas surfaram na onda do aumento das commodities e a mineradora encerrou o pregão ganhando 3,51%. Já as preferenciais e ordinárias de Petrobras subiram, pela ordem, 1,82% e 1,32%. O barril do petróleo WTI com entrega prevista para junho avançou 0,55%, a US$ 65,28, enquanto o do Brent para julho aumentou 0,34%, a US$ 68,55.

“Foi o que fez segurar o índice em contraposição aos pares em Nova York”, disse Antônio Duarte Jr, sócio da Aplix Investimentos. Em Wall Street, o Dow Jones recuou 1,36% e o S&P500, 0,87%.

“Há uma incerteza maior por conta da expectativa de alta da inflação. O aumento da cotação das commodities continua acontecendo e isso puxa preço de alimentos e preços de produtos industriais para cima”, ressalta, completando que esse risco inflacionário está ocorrendo tanto nos países emergentes quanto desenvolvidos. E, afirma, uma das formas tem de conter o movimento é elevando as taxas de juros, com isso, o mercado acionário sempre fica um pouco menos atrativo.

O temor que toma conta dos investidores externos ocorre a despeito dos discursos, ato contínuo, dos dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) no qual dizem que picos de inflação devem ser temporários e que a autoridade monetária está monitorando as expectativas no médio prazo.