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Dólar tem forte queda com vitória do governo no Congresso e com exterior

Moeda norte-americana encerrou o dia cotada em R$ 5,35

Foto: Marcos Santos / USP Imagens / Divulgação / CP

No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 1,74%

O real teve o melhor desempenho nesta terça-feira, ante o dólar no mercado internacional, considerando 34 moedas mais líquidas, refletindo a vitória do governo nas eleições do Congresso. A avaliação dos participantes do mercado é que o ambiente ficará mais propício para o avanço de reformas. Com isso, a moeda brasileira, que havia sido penalizada nos últimos dias pela piora do risco fiscal, recuperou nesta terça parte das perdas.

Operadores relataram ainda a entrada de fluxo externo, o que também ajudou a retirar pressão do câmbio, além do exterior mais favorável, por conta das notícias positivas sobre vacinas contra a Covid-19 e perspectiva de aprovação de novo pacote fiscal nos Estados Unidos.

No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 1,74%, cotado em R$ 5,3548. No mercado futuro, o dólar para março caiu 1,20%, a R$ 5,3705.

“A impressão é que chegamos a um momento mais positivo para reformas”, afirma o estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, Otávio Aidar, ao comentar as vitórias do deputado Arthur Lira (PP-AL) para comandar a Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o Senado.

Para Aidar, aparentemente, há agora um alinhamento de interesses mais claro e mais direto entre o governo e o Congresso. “Não faltam projetos do governo, mas não são projetos impossíveis, tem a PEC Emergencial, que facilita muito o cenário”. Momentos recentes do Congresso mostraram que o pior cenário é quando o presidente da Casa e o presidente da República não se entendem, o que gera constantemente ruídos e incertezas.

Apesar da melhora nesta terça, o real ainda está muito distorcido na comparação com seus pares. Nos últimos 12 meses até o final de janeiro, o dólar sobe perto de 30% ante o real, na comparação com altas ao redor de 6% a 7% perante divisas como o rand da África do Sul e o peso mexicano. O mercado de câmbio brasileiro, destaca o estrategista da Infinity, tem sido um dos mais sensíveis à piora do risco fiscal. Assim, com a atenuação do temor fiscal, o real tende a se alinhar mais a seus pares.

Os estrategista de moedas do banco de investimento americano Brown Brothers Harriman (BBH) avaliam que o real pode se recuperar muito, com o avanço das reformas e o Banco Central mais propenso a subir os juros. A vitória dos candidatos do governo ajuda a reduzir a instabilidade política e remove um risco que estava impedindo os ativos brasileiros, principalmente o câmbio, de acompanharem outros emergentes, ressalta ele.

Na tarde desta terça, Pacheco afirmou que pretende viabilizar a aprovação do Orçamento de 2021 até março. Já Lira sinalizou a intenção de votar o texto na Câmara em fevereiro. As declarações dos dois vêm agradando as mesas de operação. Para os estrategistas em Nova York do Citigroup, Lira e Pacheco ganharam por ampla margem e devem ajudar no curto prazo a melhorar a coordenação do governo com os parlamentares, o que viabilizaria a aprovação de reformas, além de reduzir o clima de instabilidade e ruídos que pairava em Brasília.

Taxas de juros

Os juros estiveram em queda durante toda a sessão, e de maneira mais firme nos vencimentos a partir de 2025, configurando nova redução de inclinação da curva a termo. A vitória do presidente da República, Jair Bolsonaro, na disputa das eleições na Câmara e Senado vinha sendo precificada há alguns dias, mas mesmo assim o mercado renovou o alívio de prêmios em função do placar muito confortável nos dois casos, que serve de proxy para medir o apoio ao governo para votações importantes, como em Propostas de Emenda à Constituição (PECs). O exterior favorável também deu sua ajuda, além do êxito do Tesouro em conseguir colocar um lote grande de NTN-B de longo prazo, reforçando a percepção e otimismo com o Brasil.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular e a estendida em 3,33% (3,351% no ajuste anterior) e a do DI para janeiro de 2027 recuou de 6,994% para 6,89% (regular) e 6,88% (estendida). O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 4,815% (regular e estendida), de 4,896% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,22% (regular e estendida), de 6,335%.

Na avaliação do estrategista da Tullett Prebon Vinicius Alves, mais até do que a eleição em si, o mercado de juros refletiu o placar elástico das votações, que sugere menor dificuldade para aprovação das matérias de interesse do governo no Congresso.

“O mercado já vinha antecipando o resultado e hoje a curva reflete a votação expressiva”, disse ele.

Pacheco foi eleito com 57 votos, quase dez votos acima dos 49 necessários. Lira se elegeu com 302 votos – na Câmara é preciso ter 308 votos para se aprovar uma PEC.

Danilo Alencar, trader de renda fixa da Sicredi Asset, diz que a curva tinha até mais espaço para fechar em função da grande abertura vista em janeiro, segundo ele, de mais de 100 pontos-base. “Na teoria a agenda de reformas tende a andar e temos um alinhamento de Lira com a pauta do equilíbrio fiscal. Vamos esperar para ver o que será entregue”, afirmou.

No aspecto técnico do mercado nesta terça, o resultado do leilão de NTN-B foi considerado mais um sinal de otimismo com o Brasil.

O Tesouro vendeu 1,350 milhão de títulos, bem menos do que os 1.985.200 da semana passada, mas com a diferença de que desta vez colocou um lote grande, de 750 mil, no vencimento mais longo (2055). No leilão da semana passada, conseguiu colocar apenas 26,5 mil no vencimento longo (2040).

Bolsa

Em dia no qual o noticiário corporativo mitigou o entusiasmo em torno da eleição de aliados do Planalto às presidências da Câmara e do Senado, as perdas de Vale (ON -3,96%, segunda maior queda da sessão) e de bancos, com Itaú à frente (PN -2,13%), contribuíram para limitar os ganhos do Ibovespa a 0,61%, aos 118.233,81 pontos, após o índice da B3 ter recuperado quase 2 mil pontos em 12 minutos, logo na abertura desta terça-feira, o que o recolocava acima dos 119 mil, nível de fechamento não visto desde 20 de janeiro.

Apesar da perda de força, o índice emenda a segunda alta após a realização da última sexta-feira, quando cedeu 3,21%. O giro nesta terça-feira foi de R$ 38,1 bilhões, com o Ibovespa tendo oscilado entre mínima de 117.519,17 e máxima de 119.805,18 pontos, maior nível desde o dia 21. No ano, limita as perdas a 0,66%, com avanço de 2,75% nestas duas primeiras sessões de fevereiro.

“Agenda liberal” do governo, uma expressão que havia perdido credibilidade no mercado nos últimos meses, volta a ser consumida, embora com pitada de sal, depois das vitórias de Lira e Pacheco. “As próximas semanas serão importantes para a sinalização da pauta e da agenda, e se espera que haja de fato suporte do governo para que avancem”, diz Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. “Esta definição na Câmara e no Senado é muito importante para os próximos dois anos, e o mercado está precificando agora que Executivo e Legislativo estarão mais alinhados. Foi o que se viu hoje não apenas na Bolsa, mas também em juros e no câmbio.”

Certa decepção com o balanço do Itaú no quarto trimestre, especialmente em relação ao “guidance” para o custo de crédito em 2021, e a forte queda do minério de ferro nesta terça em Qingdao (-4,63%), que penalizou as ações de mineração e siderurgia (CSN -3,44%, Usiminas -2,10%), foram o contraponto do dia, freando a recuperação do Ibovespa.

“Há uma especulação e volatilidade maior nos preços do minério quando se aproxima o Ano Novo Lunar, feriado prolongado na China. Além disso, no caso da Vale, o mercado, que aguardava acordo de R$ 37 bilhões da empresa com o governo de Minas sobre Brumadinho, ficou com pé atrás após o governo estadual não confirmar este valor”, diz João Paulo Teixeira Cardoso, sócio da Unnião Investimentos.

“A valorização do mercado brasileiro só não foi maior por conta dos bancos, em especial o Itaú, após resultado em linha com o esperado e um ‘guidance’ bem modesto para este ano. Além disso, temos a manutenção do movimento de queda das siderúrgicas/mineradoras, com mais um pregão de baixa para o minério de ferro devido a preocupações em relação à produção das siderúrgicas chinesas e ao aumento do custo de frete”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Por outro lado, o desempenho positivo das cotações do petróleo, com ganhos na casa de 2% na sessão, e a percepção pelo mercado de que o plano de venda de ativos da Petrobras está em curso, com o início da negociação do Polo de Urucu com a Eneva, na Bacia do Solimões, e da venda de campos de extração no Espírito Santo explicam a alta de 4,10% para Petrobras PN e de 3,45% na ON, acrescenta Cardoso, da Unnião Investimentos.

“O mercado reage bem aos sinais de que o plano está sendo cumprido”, diz ele, chamando atenção também, entre os fatores positivos do dia, para o avanço de 0,9% na produção industrial de dezembro ante novembro, frente a mediana negativa (-0,50%) do mercado para a leitura do IBGE.