Ibovespa encerrou o dia em baixa de 2,17%, aos 73.019,76 pontos
Assim, o dólar à vista encerra a terça-feira em alta de 0,31%, cotado a R$ 5,1966, o maior nível nominal da história. Durante o dia, o nível de volatilidade foi alto mais uma vez, fazendo a divisa norte-americana oscilar entre R$ 5,1693, na mínima, e R$ 5,2148, na máxima.
Rodrigo Franchini, da Monte Bravo Investimentos, elenca como principal fator para os movimentos de alta, as fortes incertezas com relação aos impactos da pandemia de coronavírus na economia global. “Essa incerteza prejudica qualquer portfólio e a precaução é o dólar. Por mais que os bancos centrais estejam provendo liquidez, a demanda ainda permanece muito maior”, afirma.
Nesse contexto, outra incerteza agrava o ambiente, como os riscos que envolvem o preço do petróleo. Na visão de Franchini, o impasse entre os grandes players a respeito da produção aliado à redução da demanda por esse ativo energético, por causa ainda da crise causada pelo vírus, leva o investidor a prever que é um setor importante que não vai crescer e que, além do impacto sobre a moeda americana, também afeta o mercado acionário, dada a envergadura e peso que têm nas bolsas mundiais.
O sócio da Monte Brasil também afirma que questões domésticas agravam o movimento de alta. Primeiro, o ponto estrutural, que é o diferencial de juros. Esse menor diferencial acaba fazendo com que gestores retirem recursos do Brasil ou mesmo prefiram ingressar em outros emergentes que ainda estão com taxa de juros mais atrativas.
“Do ponto de vista conjuntural, a desarmonia entre os poderes também acaba pesando”, complementa, ressaltando que, mesmo que a crise com o coronavírus se dissipe, o quadro segue sendo de
dólar para cima. “O mercado está operando sem muito fundamento, basicamente na aversão ao risco com medo de que a coisa piore. Quando a bolsa reverteu, o pessoal correu para se proteger em dólar”, observou Durval Corrêa, sócio da Via Brasil.
Ibovespa
O Ibovespa fechou o primeiro trimestre de 2020 com perda de 36,86%, a pior de que se tem registro para o intervalo de três meses, com a crise do coronavírus superando mesmo os momentos mais depressivos de 2008. Até esta terça-feira, a maior perda acumulada em um trimestre, de 31,88%, havia ocorrido entre julho e setembro de 1998 – antes, em 1995, houve queda de 31,58% no primeiro trimestre ante o quarto de 1994, de acordo com AE Dados.
Nesta terça-feira, o principal índice da B3 encerrou o dia em baixa de 2,17%, aos 73.019,76 pontos, acentuando as perdas na hora final, enquanto, em Nova York, os índices de referência cederam entre 0,95% (Nasdaq) e 1,84% (Dow Jones) no fechamento da sessão.
Em meio à quarentena do coronavírus, a percepção de que a economia americana já esteja em recessão levou os investidores a optarem pela cautela, após a relativa recuperação dos preços das ações desde a semana passada.
“Existia certa expectativa de que grandes investidores pudessem ingressar hoje para puxar um pouco mais para cima no fim de trimestre, mas não se confirmou”, diz Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos.
“De qualquer forma, tem-se observado menos volatilidade desde a semana passada e, ao longo de abril, à medida que se tiver mais clareza sobre a extensão da quarentena, a tendência é que o mercado financeiro, como de hábito, antecipe o movimento da economia real”, acrescenta.
Ele nota que até o dia 10 de março a economia se manteve em conformidade, mas antes disso os ativos já refletiam um padrão de maior cautela, pelo que estava por vir: a quebra da normalidade. No mês de março, o Ibovespa colheu perda de 29,90%, a pior desde agosto de 1998, quando cedeu 39,55% em meio à crise da Rússia. A queda livre de março ocorreu após retração de 8,43% em fevereiro, que já havia sido o pior mês para a B3 desde maio de 2018. O giro financeiro ficou em R$ 23,8 bilhões nesta terça-feira, com o índice tendo oscilado entre mínima de 72.385,14 e máxima de 75.511,03 pontos na sessão.
Em dólar, o Ibovespa já tinha ficado 12,4% mais barato em fevereiro ante o encerramento de janeiro. No fim do primeiro mês do ano, o Ibovespa dolarizado estava em 26.548,55, passando a 23.260,37 pontos no encerramento de fevereiro e, agora, a 14.051,44 no de março. No dia 23 de janeiro, quando o Ibovespa renovou máxima histórica de fechamento, aos 119.527,63 pontos, o índice dolarizado estava em 28.688,46 e, no encerramento de 2019, a 28.826,29 pontos.
Assim, no ano de 2020, o Ibovespa ficou 51,26% mais barato em dólar. A última sessão do mês e do trimestre ensaiava ser positiva. “Bolsas no exterior (Ásia) subiram na madrugada, com dados positivos do PMI chinês mostrando recuperação industrial e de serviços no país, importante para o Brasil, já que a economia de lá impacta muito as nossas exportações de commodities”, observa Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.
Desde o início da tarde, contudo, o índice se firmou em baixa, renovando mínima na hora final da sessão, quando as perdas se acentuaram a 3% no pior momento. A presidente da distrital de São Francisco do Federal Reserve, Mary Daly, afirmou nesta terça-feira que os Estados Unidos já podem estar em recessão devido aos impactos da pandemia de coronavírus.
Taxas
Os juros fecharam o dia em baixa em função do aumento do pessimismo sobre a atividade diante da crise do coronavírus e da perspectiva de que amanhã a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de fevereiro trará um número bastante fraco da produção industrial. Nesse contexto, em meio ainda a novas revisões de PIB e Selic para baixo, as apostas em mais um corte da Selic em 0,5 ponto porcentual no Copom de maio ganharam força e já são levemente majoritárias na precificação da curva a termo.
A taxa do contrato e Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 renovou mínima histórica no encerramento da etapa regular, em 3,235%, de 3,394% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2022 caiu de 4,171% para 4,05%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,48%, de 7,532%.
Neste níveis, a curva encerrou março, quando a epidemia se espalhou pelo mundo e começou a matar no Brasil, fortemente inclinada ante os níveis do fim de fevereiro, refletindo o aumento da perspectiva de maior afrouxamento monetário e, ao mesmo tempo, da aversão a ativos de risco.
Os destaques hoje foram os juros de curto e médio prazos, que concentram a percepção sobre a política monetária nos próximos meses. Este trecho, segundo fontes nas mesas de renda fixa, foi influenciado pela expectativa de um número bem ruim da produção a ser divulgado amanhã pelo IBGE e que, sendo referente a fevereiro, captaria apenas o começo dos efeitos do coronavírus na atividade.
Na pesquisa do Projeções Broadcast, com 31 instituições, a mediana é negativa em 0,40%, a partir do intervalo de -1,70% a 0,30%. Nesta recente safra de indicadores econômicos de fevereiro, portanto antes do pior da crise, os dados “bons” ou “não tão ruins”, ou ainda os dentro do esperado, tendem a ser relativizados, enquanto os mais negativos acabam por acentuar o ceticismo do mercado, por já serem fracos antes mesmo dos impactos mais nocivos da epidemia.
Hoje, o IBGE informou que a taxa de desemprego subiu de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro para 11,6% no trimestre terminado em fevereiro, em linha com a mediana das previsões. Em dados ajustados sazonalmente, contudo, economistas dizem que houve estabilidade da taxa.
“Para os próximos meses, esperamos uma deterioração mais forte da atividade, o que deve vir acompanhada de um aumento substancial na taxa de desemprego”, disseram os analistas da Guide Investimentos. Bradesco e Citi foram duas instituições a anunciarem hoje revisões em baixa para o PIB este ano.
O Bradesco cortou sua expectativa de alta de 2% para queda de 1% e ainda espera Selic de 3%. Já o Citi reviu de alta de 1,6% para queda de 1,7%. Na curva, a precificação de corte da Selic para maio já é de -39 pontos-base, ou 55% de chance de queda de 0,50 ponto porcentual e 45% de possibilidade de redução de 0,25 ponto, conforme cálculos do banco Haitong.
Correio do Povo