Bolsa tem dia de correções e fecha em baixa de 0,52%
O dólar ensaiou um novo dia de queda nesta quinta-feira e, depois de tocar os R$ 3,99 pela manhã, mudou de direção e terminou o dia valorizado frente ao real. Após um início de semana de forte recuo, a percepção dos operadores é de que ainda não há subsídios suficientes para manter o câmbio abaixo dos R$ 4. Ao se aproximar desse patamar, atraiu compradores, o que levou a moeda a operar em alta praticamente por toda a tarde. No fim do pregão, marcava os R$ 4,0446, alta de 0,29%.
O movimento acompanha o ocorrido na maior parte dos emergentes, consolidando um dólar mais forte após sinais de maior tração da economia americana em contraposição à europeia. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro permanece próximo da marca de 50, o que indica estagnação da atividade. Além disso o PMI industrial da região frustrou a projeção do mercado.
Imediatamente antes do fechamento, o dólar chegou a tocar a máxima do dia, aos R$ 4,0451 (+0,30%). “O dólar chegou num piso forte, bateu os R$ 4 e chamou compradores. Isso dá um recado para quem estava segurando os negócios de que pode ser que leve um tempo para romper esse suporte”, pontuou o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello.
“R$ 4 é um número redondo, é psicológico. Não quer dizer que não possa cair mais, mas não muito, por enquanto”, completou o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior.
Para os analistas ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, num contexto de dólar forte globalmente, a menos que novas informações favoreçam o real internamente, os investidores devem aguardar o leilão do excedente da cessão onerosa para tomar apostas em um dólar mais baixo. Há uma expectativa de entrada maciça de recursos, uma vez que o leilão deve girar algo em torno de R$ 100 bilhões.
Na semana, contudo, o dólar ainda acumula uma queda significativa frente ao real, de 1,85%. No mês, a conta também é positiva para a moeda brasileira e o dólar acumula perda de 2,71% ante a divisa.
Faria Junior, da Wagner Investimentos, pondera que ainda é cedo, no entanto, para falar em uma reversão. “Ainda é muito cedo para afirmar que o dólar cairá para R$ 3,90 e muito cedo para imaginar a moeda perdendo a sua longa tendência de alta, que começou no ano passado. Para termos a reversão de tendência, precisaríamos ver a cotação rompendo R$ 3,85”, disse, em relatório.
Ibovespa
Depois de três recordes consecutivos, favorecidos em boa medida pela aprovação da reforma da Previdência, o Índice Bovespa cedeu a um movimento de correções e terminou a quinta-feira em baixa de 0,52%, aos 106.986,15 pontos. Os negócios com ações na B3 somaram R$ 18,8 bilhões. Com a agenda e o noticiário escassos no período da tarde, a atenção dos investidores seguiu concentrada na votação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão em segunda instância e a expectativa em torno dos resultados corporativos no terceiro trimestre.
Números aquém do esperado de CSN e Localiza levaram os dois papéis a registrem os piores desempenhos da carteira do Ibovespa, com quedas de 6,85% e 6,1%, reforçando o viés negativo do índice. Segundo operadores, os resultados geraram temores de novas decepções nos balanços que estão por vir. Ainda nesta quinta-feira serão conhecidos os resultados de Petrobras e Vale, que têm potencial para dar o tom das expectativas para os balanços que estão por vir. Ao final do dia, Petrobras ON e PN caíram 1,97% e 2,18%, nesta ordem, enquanto Vale ON perdeu 0,76%. Nos dois casos, as quedas foram atribuídas essencialmente ao movimento de realização de lucros.
“Em princípio tudo segue tranquilo na bolsa após a aprovação da reforma da Previdência, mas há grande expectativa com os resultados que serão apresentados nos balanços trimestrais. A leitura é que, se houver muitas decepções, o processo de realização de lucros recentes poderá se estender por mais tempo”, disse Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença Corretora.
O setor financeiro voltou a mostrar maior resistência aos movimentos de realização de lucros. Com os preços das ações considerados atrasados, esses papéis tiveram perdas mais brandas ou pequenas altas, como no caso de Itaú Unibanco PN (+0,47%). O Ifinanceiro, índice que congrega 19 ações dos setores bancário, de serviços financeiros, previdência e seguros, terminou o dia em alta de 0,12%, o único a registrar ganhos entre os índices setoriais da B3.
Na última terça-feira, dia em que o Ibovespa subiu 1,28%, embalado pela iminente aprovação da reforma da Previdência, os investidores estrangeiros trouxeram R$ 539,649 milhões à B3.
Em outubro, os investimentos estrangeiros registram um saldo negativo de R$ 10,578 bilhões.
Taxas de juros
Os juros futuros andaram a reboque do câmbio nesta quinta-feira de noticiário e agenda de indicadores fracos. As taxas estiveram em queda até o meio da tarde, quando então o movimento perdeu força com a virada do dólar para o terreno positivo. As curtas ainda fecharam para baixo e as demais, com viés de alta. Nada mudou com relação às perspectivas para a decisão do Copom na próxima semana, com o mercado posicionado para um novo corte de 0,50 ponto porcentual da Selic. A agenda do dia tinha como destaque a retomada do julgamento da prisão em segunda instância, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas o tema segue sendo apenas monitorado pelo mercado, sem maiores influências sobre os ativos.
A quinta-feira, que teve leilão de títulos prefixados, foi de volume robusto de contratos negociados na B3, acima da média dos últimos 30 dias. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,460%, de 4,497% quarta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 terminou na máxima de 5,48%, de 5,460%. A taxa do DI para janeiro de 2025 também encerrou na máxima, a 6,15%, de 6,131% no ajuste.
O dólar em queda exerceu uma influência benigna sobre os juros na maior parte do dia, ao reforçar um cenário prospectivo de inflação favorável, o que abre espaço para novas quedas da Selic e, ao fim do ciclo, para manutenção da taxa básica no piso histórico num horizonte prolongado. A moeda chegou a furar os R$ 4 pela manhã, mas passou a exibir leve alta no meio da tarde, após os níveis muito baixos terem atraído compras da moeda. No fechamento, era cotada em R$ 4,0446 (+0,29%).
Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, afirma que o otimismo com as reformas e com a entrada de recursos externos via leilão da cessão onerosa ajudou a puxar o dólar para baixo e “o dólar calmo dá tração para os juros”. “O mercado já está começando a ver influxos nos ETFs, por exemplo. As manchetes da Previdência no exterior colocam o Brasil em evidência e as reformas dão sustentação à ideia de que a Selic pode se manter baixa por muito tempo”, disse.
Na curva de juros, desde a divulgação do IPCA-15 as apostas ficaram ajustadas em torno do corte de 0,50 ponto da Selic em outubro, e agora as de queda de 0,75 ponto são apenas residuais. Para dezembro, a curva precifica mais 40 pontos de corte e outros 25 pontos no começo de 2020. Assim, a taxa chegaria perto de 4,25% no encerramento do processo de afrouxamento. Na pesquisa do Projeções Broadcast com 48 economistas, é unânime a expectativa de que o Copom reduzirá a Selic para 5,00% este mês. Nesta tarde, o banco BTG Pactual informou que revisou de 4,5% para 4% a projeção para a Selic no fim do ciclo do ajuste monetário em curso.