Deputados do Sul serão os primeiros a votar, enquanto Planalto defende outra ordem
Foto: Wilson Dias / ABr / CP
Para evitar que o rito de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara seja questionado no Supremo Tribunal Federal, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta terça-feira, em reunião com líderes partidários, que adotará o mesmo roteiro utilizado em 1992, no afastamento do então presidente Fernando Collor de Mello. Deputados governistas questionam, porém, um ponto que diverge da votação de 24 anos atrás: a ordem de votação dos parlamentares.
Cunha afirmou que vai adotar o critério regional, dando início à chamada dos deputados da região Sul, seguidos pelos representantes do Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Norte. O Planalto prefere que a votação ocorra por ordem alfabética, independentemente do Estado de origem do parlamentar, como foi feito em 1992.
A divergência tem como pano de fundo os chamados “votos úteis” – parlamentares que decidem de última hora votar de acordo com a tendência majoritária. Ao optar por iniciar a votação pelo Sul, Centro-Oeste e Sudeste, Cunha dá prioridade aos votos das regiões em que proporcionalmente há mais parlamentares pró-impeachment. Ao reivindicar a ordem alfabética da votação, o Planalto tenta evitar esse “efeito manada”.
Cunha tem a prerrogativa de definir a ordem e pode anunciá-la até o início da sessão de votação, que deve ser aberta às 14h de domingo. Nesta terça, no entanto, ele chegou a afirmar em entrevista que faria o anúncio amanhã.
Para o peemedebista, a ordem de votação não interfere no resultado final. “Influenciar o quê? Todos os 513 serão chamados, todos vão exercer seu direito a voto. Você acha que alguém chegará lá influenciado por alguma coisa? Acho isso uma bobagem.”
O peemedebista justificou que a chamada em ordem alfabética foi adotada no impeachment de Collor porque na época não havia previsão no regimento que estabelecesse um rito. O documento atual não fala em ordem alfabética.
O tema foi alvo de embates entre parlamentares governistas e de oposição. “Eduardo Cunha escolheu este critério porque avalia que no Sul há uma votação mais expressiva pró-impeachment enquanto no Norte e Nordeste as bancadas são mais favoráveis ao governo Dilma. Por esta lógica, formaria-se uma onda favorável ao impedimento que ganharia força devido a uma transmissão ao vivo”, avaliou o deputado Wadson Ribeiro (PCdoB-MG).
Diante da polêmica, alguns parlamentares propuseram uma solução intermediária. “A ordem pode ser alfabética e regional, com um voto do Sul seguido por um do Norte. Seria uma solução que atenderia aos dois lados”, disse o deputado Celso Russomanno (PRB-SP), cujo partido fechou ontem questão para votar unanimemente a favor do impeachment.
Cronograma
Pelo rito fixado por Cunha, a votação do domingo deve durar das 14h às 21h. O presidente da Câmara defendeu a data marcada para a sessão do impeachment. “Pior é fazer isso num dia útil, porque tem vida normal, as pessoas trabalhando aqui, uma Esplanada ocupada. Não vejo nenhum problema, nós não estipulamos o dia de domingo. Sempre dissemos que ao fim de 48 horas seriam três dias para fazê-lo.”
O presidente da Câmara disse que pretende instalar um telão fora da Câmara e outro dentro, para que as pessoas possam acompanhar a votação. A discussão do pedido de impeachment terá início na manhã de sexta-feira e prevê fala de representantes da acusação e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo.
Correio do Povo