Camisas Perdididas
O objetivo deste trabalho é apresentar ensinamentos que brotaram da análise das brigas de outrora.
A causa é nobre: deixar para os jovens uma Cidade melhor.
Em alguns domingos à tarde, não havia o que fazer, em minha terra natal. Os rolos de filme não vinham de CARAZINHO. Não havia matinê!
O ônibus do ITAPAGÉ, de FREDERICO WESTPHALEN, quebrava na estrada de chão. Não havia jogo, no Campo do HARMONIA! Acompanhava, então, o Pai (FRIDOLINO), o senhor ARDUINO GIOVANINI, o senhor TOBIAS BACHI… ao Bar do MATTEI. Jogavam cartas com entusiasmo. Principalmente, o “3 – 7”…
………Eu estava junto ao balcão. Tomava gasosa do HERMES MACCARI e comia “mandolato” da BOA VISTA. Foram longos domingos de amizade e paz. Até que um dia, um jogador de cartas, de origem italiana, cometeu um ato de desonestidade…
“Tiavou não sei o quê!”.
Começou uma “discutissão” das brabas!
Espalhou-se pelas quatro mesas do Bar.
Todos ficaram de pé.
Foram discutindo e saindo do Bar.
Na esquina da Avenida EXPEDICIONÁRIO com a Rua JÚLIO MAILHOS, não passava nenhum auto!
Havia mais de duzentas pessoas discutindo ou apartando a briga!
O boné de um Italiano voou longe.
Graças a DEUS, não chegou haver luta corporal.
Eram Pais de Família, honestos, trabalhadores…
Alguns deles receberam a honraria máxima do Município:
“Cidadão Sarandiense”…
………Aquela turma de boné e suspensório, no jogo de cartas ou na vida, cultuava a Honestidade.
Sem esta, o mundo perdia o brilho!
Eram felizes com pouco.
Eu me emociono, quando me lembro daquele episódio:
a briga não começou em respeito à presença de uma criança…
As ondas sonoras da ZYU 36 atendiam o pedido de uma loira de blusa amarela:
“PROFESSOR APAIXONADO”, com NILTON CÉSAR…
Havia coisas bem mais importantes… Palavras são como flexas: podem ferir! Brigas são como portas: podem fechar… para sempre!
………Numa noite de verão, eu me deslocava pela Rua TIRADENTES.
Queria comprar pastel na Rodoviária do senhor ALVES.
Estava havendo uma grande confusão. Informei ao Pai, amigo de brincadeiras e perigos…
Ele me disse para não apartar a briga: os que apartam, às vezes, acabam morrendo. Alguns homens estavam tentando segurar o Motorista da Patrola.
Movido pela curiosidade, cheguei mais perto.
O furioso homem, seguro pelos braços, jogou os pés contra o rosto do cidadão que havia lhe magoado.
Uma multidão era testemunha de mais um escândalo daquele competente profissional.
Dependente químico sem nenhum tratamento, já não escondia o tremor das mãos…
Não havia a cultura de internar nem de tratar.
Numa época em que não havia prontuários, nem esperança.
Eu ainda era pequeno, mas assisti, com tristeza, ao naufrágio de uma família inteira… provocado por um “hábito” que parecia inofensivo.
O BRASIL salva, apenas, 30% dos alcoólatras! Ser inteligente é não começar…
………Quando o doutor JONES ZANCHET, filho do MASSIMO, era o Presidente do HARMONIA, fui ao Clube, à noite, para comprar sonhos.
O PAULO ROBERTO BLANK, locutor da Rádio SARANDI, fazia brincadeiras, junto ao balcão.
Começou uma briga entre dois torcedores.
Com caipirinha nas veias, um queria acabar com o outro.
No auge da fúria, faltou luz na Cidade.
Ninguém via nada!
Havia o risco de alguém ser atingido por uma cadeirada perdida.
Ciente do perigo, fui me proteger na sala do Presidente.
Fiquei na porta aguardando os fatos.
O ecônomo não tinha nem lanterna.
Contar com a sorte fazia parte da nossa cultura.
Seguiram-se momentos de suspense…
O brigão, que se achava mais esperto, cometeu um erro estratégico:
acendeu um fósforo!
Tomou uma bofetada cinematográfica!
Os palitos de fósforo voaram!
A situação piorou:
sem luz, sem fósforo, sem lanterna, com um ferido…
Quando a luz voltou, o Clube já era outro.
Os homens também!
O senhor ILDO MANFRO colocou na Eletrola um novo “Long Play” (LP): “ERA UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES”…
Ao chegar em meu lar sagrado, a Mãe (JOVILDE) me perguntou sobre os sonhos…
A causa do conflito foi a personalidade forte dos envolvidos.
O orgulho provoca discórdia.
A humildade é marca dos grandes homens!
………Nos anos 50 e 60, não havia briga de torcidas em SARANDI.
Fato elogiável! Futebol é arte e alegria.
Violência nunca foi Futebol.
A briga mais longa ocorreu na época do Ginásio.
Durante um jogo de futebol, realizado num gramado que havia do lado de cima do Ginásio Sarandi, um zagueiro marcava com rigor um centroavante.
Começaram discutir.
Trocaram socos e pontapés, por mais de meia hora.
Não houve perdedor.
Nenhum deles caiu.
Não cansaram.
Não aceitaram ser apartados.
Os colegas de aula ficaram admirados pela coragem e resistência dos contendores.
Na verdade, a gente pensa que conhece os irmãos… As camisas ficaram imprestáveis! Ainda hoje, é difícil ensinar aos estudantes “SABER PERDER”.
Um queria, apenas, fazer gol.
O outro não queria deixar.
Ambos estavam certos.
Mas a deslealdade não deveria ter entrado em campo!
O homem de caráter joga limpo!
………Num baile realizado no antigo Salão do Ipiranga, o Soldado PAIANI foi atingido por um tiro de revólver nas costelas.
Ele era um Brigadiano muito benquisto na Cidade.
Ainda na mesma noite, fui, com alguns amigos, ao Hospital Santo Antônio, do doutor MÁRIO AZAMBUJA. Estávamos muito preocupados.
Entrei na Sala de Cirurgia.
O bravo Militar me recebeu sorridente.
Estava feliz por estar vivo.
Inclinado numa cama, sem camisa, mostrando, no lado direito do peito, o furo da bala…
Passou entre as costelas.
O projétil atravessou “fora e fora”, mas, segundo a Enfermeira, não atingiu nada importante…
O ADEMAR (“GAUCHINHO”), filho de um outro Brigadiano, disse que o amigo PAIANI estava fora de perigo…
Já tinha tomado uma aspirina!
A camisa do sobrevivente, não dava mais para usar.
Mas seria guardada de lembrança…
Bons tempos!
Se um Carioca toma um balaço desses, desmorona na hora!
(Uma causa importante daquele episódio: falta de uma Cultura de Segurança.
As autoridades têm o dever de impedir que os cidadãos entrem armados nos bailes!
Por que entrar com armas nos bailes, nos estádios, nos cinemas…?).
Se beber, não dirija, não atire!
A bebida alcoólica contribuiu… para estragar a noite…
………Meus jovens! O Povo Sarandiense sempre foi religioso e pacífico.
Minha terra natal nunca foi “SARANDI DO OESTE!”.
Era um lugar de fraternidade sincera.
Guris pobres brincavam junto com guris ricos.
Os médicos sabiam os nomes dos pobres.
Atendiam e curavam, sem cobrar, sem papelada… Tudo era para todos.
………Quando fui estudar na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em 1974, nos primeiros dias, dois cadetes brigaram.
Eram de regiões e culturas diferentes.
O então Capitão CUPERTINO, Comandante da 2ª Companhia, fez uma formatura para explorar o episódio. Transmitiu orientação e experiência.
Concluiu sua eloquente fala, dizendo: “A MELHOR BRIGA NÃO VALE A CAMISA!” (A PAZ é um Objetivo Nacional Permanente).