Um dia depois da vitória do esquerdista na eleição presidencial de domingo, o mercado local caiu e o peso desvalorizou
O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric e atual ocupante do cargo, Sebastián Piñera, deram o primeiro passo da sucessão nesta segunda-feira, um dia depois de o político de esquerda vencer as eleições com folga, resultado que fez cair o peso e a bolsa local.
Na porta do Palácio de La Moneda, centenas de pessoas esperavam a chegada do vencedor. O presidente eleito aproximou-se da multidão para saudar e agradecer o apoio com a mão no coração. Ele levou alguns minutos para se aproximar dos cidadãos, enquanto Piñera e seus ministros esperavam por ele no interior da sede do governo.
A eleição registrou um comparecimento histórico, com 55,6% dos mais de 15 milhões de eleitores. Em uma primeira reação à vitória, muito mais folgada do que o esperado, os mercados entraram em pânico. O peso caiu 3,02% em relação ao dólar no começo do dia, enquanto a Bolsa de Santiago registrou queda de 6,8%.
Presidente eleito
Desde a madrugada, autoridades do meio político e empresarial chileno enviaram mensagens ao presidente eleito para colaborar com seu próximo governo, que tomará posse em 11 de março de 2022. “Parabenizamos o presidente eleito Gabriel Boric e o convidamos a fazer parte deste processo histórico de redação da nova Constituição. (Estamos) disponíveis para estabelecer as pontes que nos permitam avançar nessa direção”, disse a presidente da Assembleia Constituinte, a acadêmica mapuche Elisa Loncon.
“Gabriel vai ser um dos presidentes mais jovens dos últimos tempos e é preciso sempre saber combinar a força, o idealismo, o espírito da juventude com a prudência, a experiência dos cabelos grisalhos”, disse Piñera em uma conversa por telefone com Boric no último domingo após saber o resultado das eleições.
O que levou à vitória de Boric?
O triunfo de Boric aconteceu com uma das maiores vantagens desde que o Chile retornou à democracia, em uma eleição que teve a participação de mais de 8,35 milhões das 15 milhões de pessoas que estavam registradas para votar.
Analistas concordam que a vitória do esquerdista se se deve ao maior comparecimento na votação do segundo turno: 1,2 milhão de eleitores a mais do que os que compareceram às urnas no primeiro turno, vencido por Kast.
“Há toda uma geração de pessoas que votaram esporadicamente ou não votaram e hoje estão se incorporando ao processo político no Chile, o que do ponto de vista do compromisso cívico cidadão é bom para este país que precisa fortalecer a democracia”, declarou à AFP Marcelo Mella, professor da Universidade de Santiago.
Os jovens chilenos, tradicionalmente relutantes a participar nas eleições, compareceram às urnas para apoiar Boric, segundo os analistas. “Boric não era meu candidato, mas votei nele porque no outro candidato não poderia votar moralmente. Esperemos que (com Boric) tenhamos mais igualdade e que não exista tanta corrupção”, disse a estudante Natalia López.
Desafios
Os analistas afirmam que Boric terá como principal missão acompanhar a Convenção Constituinte que redige a nova Carta Magna, que substituirá a herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
“Cuidemos todos deste processo para ter uma Carta Magna que seja de encontro e não de divisão como a que eles impuseram com sangue e fogo por meio de um plebiscito fraudulento em 1980 e que nos custou tanto para mudar”, afirmou o presidente eleito diante de milhares de simpatizantes no centro de Santiago.
Boric reiterou em seu discurso da vitória as promessas de campanha, como a mudança para um Estado de bem-estar, pensões públicas garantidas, saúde e educação universal e de qualidade, além de respeito aos direitos humanos. Claudia Hess, professora da Universidade do Chile, afirmou que em um governo que “se promete transformador como o de Boric, o principal desafio é estar à altura das expectativas e não será fácil”.
Analistas concordam que, com um Congresso dividido entre esquerda e direita, o governo de Boric — que assumirá o poder em 11 de março de 2022 — terá dificuldades em aprovar reformas sociais, o que obrigará o presidente eleito a buscar alianças e consensos.