Pai do menino Bernado passou mal duas vezes e não acompanhou depoimentos de testemunhas, que se emocionaram
A ausência do réu marcou o segundo dia de julgamento de Leandro Boldrini, acusado de ter participado da morte do filho, Bernardo, de 11 anos, em 2014, no Noroeste gaúcho.
O médico passou mal pouco antes do início da sessão do júri no Foro da Comarca de Três Passos, perto das 8h30min.
Testemunha chamada pela manhã, a delegada regional de Três Passos, Cristiane de Moura e Silva Braucks, revelou ao depor um pouco mais da relação de Leandro com o filho, baseada no descaso e indiferença da família.
Segundo a delegada Cristiane, conforme as apurações avançaram, as versões dos suspeitos foram mudando. “Eram várias as contradições”, complementou. O depoimento de Edelvânia Virganovicz, que se sentia sufocada com que havia acontecido, se tornou o ponto-chave da investigação policial. “Ela então nos levou onde ele havia sido enterrado”, explicou.
A depoente recordou um período em que, com Bernardo ainda vivo, uma audiência judicial determinou prazo de 90 dias para Leandro Boldrini restabelecer o vínculo com o filho. Isso, segundo a delegada, deixou a madrasta, Graciele Ugulini, insatisfeita. “Graciele ficou irritada”, lembrou a policial. “Ela colocou Boldrini na parede, no sentido de ‘ou ele (Bernardo) ou eu’. E o Leandro escolheu a ela”, completou.
Menino querido e rebelde
Na parte da tarde, depôs a ex-secretária do consultório de Boldrini, Andressa Wagner, que pediu para não ter a imagem divulgada. Neste momento, a transmissão pela internet do julgamento pelo Tribunal de Justiça teve de ser interrompida.
“O pensamento do povo é cruel. Pelo que fizeram comigo”, disse ela, que chegou a ser apontada como a pessoa que escreveu a carta de despedida de Odilaine Uglione, mãe do garoto, que se suicidou em 2010. A ex-secretária, que, chorou ao lembrar do caso, acabou inocentada durante a investigação.
Segundo Andressa, Bernardo era querido mas, ao mesmo tempo, rebelde. “Talvez por falta de carinho e atenção da família. Um final de semana, ficou na minha casa”, contou. A testemunha disse que nunca o viu maltrapilho. Sobre a escola, lembrou que recebeu uma ligação, uma vez, porque o menino não havia feito um trabalho. Ela também disse ter levado o filho de Boldrini a consultas médicas e confirmou que sabia que o menino era usuário de medicamentos, embora sem confirmar quais.
A testemunha também falou sobre a relação entre o garoto e a madrasta. “No início, era boa. Quando ela ficou grávida, as coisas começaram a mudar”, contou. Perguntada sobre receitas médicas, Andressa relatou que Boldrini tinha o costume de deixar receitas em branco assinadas por ele. “Era para determinadas situações. Ele deixava na gaveta”, lembrou, sem se recordar se deu falta de alguma receita de midazolan – medicamento utilizado em uma superdosagem na morte de Bernardo.
Emoção da “Tia Ju”
Com a transmissão restaurada, a quarta testemunha do terceira do dia de julgamento começou a depor. Juçara Petry, que o menino havia apelidado de “Tia Ju”, era vizinha da casa de Bernardo. Em um depoimento emotivo, a comerciante disse que o menino “era muito inteligente” e “ia longe”.
Juçara lembrou ter estranhado quando Boldrini perguntou pelo filho nos dias em que ele havia desaparecido. “Ele nunca nos ligava para saber como estava”, recordou a testemunha. A vizinha contou, ainda, que o quarto que ela arrumou para Bernardo, quando o menino fazia visitas, continua com as coisas dele, até hoje. “O último aniversário, última Páscoa e o último Dia dos Pais dele foi na minha casa”, revelou.
Nesta quarta-feira, presta depoimento a psicóloga que tratou Bernardo, Ariane Schmitt – quinta e última testemunha arrolada pela acusação. Na sequência, serão ouvidos os depoentes da defesa.