Com declarações do governo saudita, dólar terminou dia em R$ 4,07
O desafogo nos preços do petróleo, após notícia de retomada rápida dos níveis de produção de petróleo na Arábia Saudita, e a aposta crescente de mais reduções da taxa Selic neste ano animaram o mercado acionário nesta terça-feira. Após uma manhã de perdas, o Ibovespa ganhou força na segunda etapa de negócios e encerrou o pregão em alta de 0,90%, aos 104.616,86 pontos, perto da máxima (104.618,64 pontos).
No exterior, o dia foi marcado de perdas de cerca de 7% dos preços dos contratos futuros de petróleo, após a alta de dois dígitos observada na segunda, na esteira do ataque à petrolífera Saudi Aramco, na Arábia Saudita. Notícias de que a produção saudita de petróleo estará integralmente recuperada num prazo de duas a três semanas abriram espaço para a queda da commodity e diminuíram as tensões lá fora, apesar de cerca cautela diante da troca de farpas entre Estados Unidos e Irã.
Também diminuem as pressões por um reajuste dos preços dos combustíveis em meio ao fantasma da mão pesada do governo sobre a política de preços da Petrobras. Na segunda à noite, em entrevista a TV Record, o presidente Jair Bolsonaro disse que ligou para o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, para conversar sobre o impacto da disparada do petróleo. Castello Branco teria dito que “não deve mexer nos preços do combustível”.
“A notícia de normalização da oferta na Arábia Saudita levou à queda mais forte do petróleo e tirou um pouco do peso do Ibovespa, já que traz mais tranquilidade para a economia como um todo” afirma Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, ressaltando que a possibilidade de ingerência do governo na política de preços da Petrobras desagradou ao mercado.
O impacto da queda das ações da Petrobras sobre o índice foi mais do que anulado pela alta em bloco do setor financeiro, em especial do papel PN do Bradesco (2,67%), de varejistas, construção e da recuperação das companhias áreas. A ação PN da Azul, que segunda havia amargado queda de mais de 8%, fechou com alta de 3,09%.
A valorização de papéis de companhias mais ligadas à atividade doméstica é reflexo, segundo analistas, da expectativa de um afrouxamento monetário mais intenso. Além da aposta consensual de que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie nesta quarta-feira, 18, nova redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, para 5,50% ao ano, o mercado especula que o comunicado do comitê trará sinalização de que haverá mais cortes.
“Com essa expectativa de corte de juros, há um fluxo maior para empresas mais expostas à atividade interna, o que impulsiona papéis de varejistas e do setor imobiliário”, afirma Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, ressaltando que as ações dos bancos estão bem “atrasadas” e têm espaço para continuar subindo.
Investidores também monitoram possibilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco Central americano) reduza novamente os juros, o que poderia dar força a ativos emergentes. Na tarde desta terça-feira, os contratos futuros de Fed Funds compilados pelo CME Group mostravam um mercado, grosso modo, dividido entre aposta em manutenção e corte de 0,25 ponto porcentual.
Dólar
Os desdobramentos dos eventos no Oriente Médio após ataques a instalações de petróleo na Arábia Saudita, que segunda-feira tiveram impacto limitado no mercado local de câmbio, nesta terça foram mais determinantes para as cotações. Pela manhã, a perspectiva dos efeitos dos ataques na atividade mundial e na inflação dos principais países fez o dólar subir e bater em R$ 4,11. Nos negócios da tarde, a moeda passou a cair e bateu mínimas com declarações do governo saudita minimizando os efeitos dos eventos na oferta da commodity. Após dois dias de alta, o dólar fechou a terça-feira em baixa de 0,29%, a R$ 4,0773.
Nos Estados Unidos, o dia foi marcado por mudanças nas apostas de investidores no mercado futuro sobre a decisão do Federal Reserve (Fed). Nas últimas semanas, a visão majoritária era de corte, mas nesta terça a possibilidade de manutenção ficou em primeiro lugar em alguns momentos da tarde.
Se as apostas do mercado financeiro para os juros tiveram mudanças, economistas continuam a prever corte de juros pelo Fed nesta quarta-feira. “A expectativa é de corte de juros amanhã (quarta)”, afirma a economista da Stifel, Lindsey Piegza. Ela acredita que os dirigentes vão reconhecer os crescentes riscos para o cenário econômico, mas vão manter uma avaliação positiva da economia americana.
Para o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello, se o Fed cortar juros, o efeito vai trazer algum alívio e ser positivo para o real, especialmente após as mudanças desta terça nas apostas no mercado futuro. Mas se houver manutenção das taxas, a decisão pode ser recebida com estresse, ressalta ele. O mercado financeiro internacional quer que os bancos centrais adotem estímulos extras para melhorar a atividade, observa o operador.
Na sessão desta terça, Faganello diz que pela manhã a visão de que a alta do petróleo pudesse comprometer os cortes de juros pelos BCs acabou estimulando a busca por proteção e a compra de dólar, mas a declaração do governo saudita acalmou os investidores. O ministro da Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, afirmou que o país restaurará em breve a maioria de sua produção de petróleo e se recuperará totalmente dentro de semanas.
Também contribuiu para a virada do dólar aqui a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que pode fechar um acordo comercial com a China antes das eleições de novembro de 2020. No exterior, a moeda americana caiu fortemente ante divisas de países desenvolvidos, com o índice que mede este comportamento, o DXY, recuando 0,40%. Perante emergentes, o comportamento foi misto. A divisa americana subiu nos países exportadores de petróleo, como a Rússia, onde havia recuado na segunda, e caiu em pares do Brasil, como o México.
Taxas de juros
Os juros futuros tiveram nesta terça-feira nova rodada de queda firme, tendo mais uma vez atingido as mínimas no período da tarde, em função de boas notícias no exterior e incremento nas apostas de um comunicado “dovish” do Copom nesta quarta-feira, que alimenta a perspectiva de Selic a 5% no fim do ano ou até abaixo disso. Dado o consenso de que a taxa básica será reduzida para 5,5% nesta quarta-feira, o mercado passou a “operar” o comunicado e a curva agora projeta quase 100 pontos-base de corte até o fim do ano. Ainda, há grande expectativa com a decisão do Federal Reserve.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que melhor capta a percepção dos agentes para as reuniões do Copom neste ano, fechou com taxa de 5,195%, de 5,216% na segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 5,268% para 5,210%. A do DI para janeiro de 2023 fechou em 6,27%, de 6,381%, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 6,971% para 6,84% (mínima).
Os juros ensaiaram alguma realização de lucros na abertura, mas logo o movimento baixista voltou a prevalecer, a despeito da divulgação de dados acima do esperado da produção industrial nos Estados Unidos nesta véspera da decisão do Fed. O recuo das taxas ganhou força na jornada vespertina, quando o dólar passou a cair e após a afirmação do ministro da Energia da Arábia Saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, de que o país já fornece petróleo a seus clientes nos níveis anteriores aos ataques aos campos produtores da Saudi Aramco no fim de semana e que os patamares normais de produção devem retornar até o fim de setembro. O reino já restaurou 50% de sua produção perdida nos ataques no sábado, disse o príncipe.
“Isso ajuda tranquilizar e permite ao mercado já voltar o foco totalmente ao Federal Reserve amanhã (quarta)”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Com o petróleo devolvendo parte da alta de segunda, a pressão em cima da Petrobras para elevar os preços dos combustíveis também diminuiu, embora, no mercado de juros, a percepção já era a de que o movimento altista da commodity seria pontual. De todo modo, ainda que os riscos geopolíticos não tenham se dissipado, é um fator a menos a pressionar a inflação, o que dá conforto para ficar aplicado em risco prefixado.
É grande a expectativa do mercado para ver como o Copom vai tratar esta e outras questões do cenário externo em seu comunicado. Como ninguém imagina outra decisão que não a redução de 0,5 ponto na taxa básica, o mercado buscou oportunidades de negócios numa eventual sinalização dos diretores para as reuniões seguintes no texto final. “Tendo como certa a queda de 0,5 p.p. amanhã, o pessoal já começou a operar a rolagem, principalmente com grandes bancos vendo Selic abaixo de 5%”, afirmou o trader da Sicredi Asset Danilo Alencar. O Bradesco prevê Selic em 4,75% e o Santander, em 4,50%, no fim do ano.
Correio do Povo