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Alta da Selic acima de 1 ponto percentual é “um mal necessário”, avaliam economistas

Especialistas afirmam que elevação de 1,5 ponto percentual era fundamental para Banco Central tentar conter inflação

Economistas ouvidos pelo R7 Economize aprovaram a decisão do Banco Central 

Nesta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, passando de 6,25% para 7,75% ao ano.

É a sexta alta consecutiva e a maior elevação percentual da taxa básica de juros desde dezembro de 2002, quando subiu 3 pontos percentuais e chegou a 25% ao ano.

Economistas ouvidos pelo R7 Economize aprovaram a decisão do Banco Central, mesmo considerando que o melhor caminho seria o governo apertar os cintos e fazer um ajuste fiscal.

Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), afirma que a elevação a 1,5 ponto percentual era quase certa após o ministro da economia, Paulo Guedes, anunciar que o governo pode furar o teto dos gastos para pagar o Auxílio Brasil — benefício que substitui o Bolsa Família — no valor mínimo de R$ 400 até o fim de 2022.

É ruim para a economia, mas é um mal necessário. Primeiro porque não é a última alta já que viram novas por aí. Segundo porque a inflação virá mais alta. A elevação da Selic nesse patamar vai encarecer crédito, provocará menos crescimento econômico – já se projeta para o ano que vem queda da atividade econômica – e mais desemprego e endividamento.

Segundo ele, o Banco Central não tinha uma âncora fiscal, já que o ministro Paulo Guedes anunciou que vai estourar o teto, só resta a política monetária. Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos, diz que o aumento acima do esperado sinaliza um posicionamento importante do Banco Central e da política monetária brasileira daqui pra frente.

Mostra um cenário de aperto monetário mais forte e de controle mais contundente na inflação. Isso por que as sucessivas altas dos juros realizadas nas últimas reuniões não surtiram o efeito esperado, e a inflação não caiu.

Lelis pontua os efeitos da alta da Selic nos investimentos. Segundo ele, as aplicações em renda fixa voltam a render mais. Os atrelados à Selic e CDI. “O Banco Central passou uma mensagem muito clara. Vai buscar um patamar acima do neutro da taxa de juros, ou seja, vai fazer com que a Selic ultrapasse o patamar do IPCA, e que vai aumentar o rendimento dos investimentos em renda fixa”, comenta Lelis.

Para Fernanda Consorte, economista chefe do Banco Ourinvest, o comunicado do Copom teve um tom duro e deixou claro que a autoridade monetária fará o possível para tentar conter um avanço mais expressivo da inflação.

“Inclusive já sinalizou outro aumento de juros na mesma magnitude”, destaca a especialista. Embora a alta dos juros pudesse ter um impacto positivo para o câmbio, a sinalização de um quadro inflacionário com baixo crescimento econômico, num ambiente em que o populismo está falando mais alto, é muito ruim para o retrato da instituição Brasil e escancara ainda mais a fragilidade da conjuntura atual.

Fernanda ressalta que podemos até ver um alívio no câmbio imediatamente após a decisão de desta quarta-feira, “mas a tendência, em nossa visão, continua sendo de pressão e volatilidade para os próximos meses”.

Na opinião de Samuel Cunha, economista e sócio da H3 Invest, um aumento superior a 1 ponto percentual mostra ao mercado que as autoridades monetárias estão olhando para o temor fiscal e para a pressão em volta da inflação.

O aumento era necessário para transmitir tranquilidade e que tudo estará sendo acompanhado de perto.  Segundo ele, o ciclo de altas deve continuar na próxima reunião e a Selic deve fechar o ano em 9% a 9,5%. A professora de economia do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) Juliana Inhasz, vê a decisão do Copom como uma preocupação do Banco Central com a deterioração das condições internas.

Também aponta um cenário externo desfavorável muito relacionado a economias que estão crescendo e que em algum momento vão ajustar suas taxas de juros gerando competição adicional às economias emergentes que ainda se recuperam da pandemia da covid-19.

O que fica de lição é que o BC está bem preocupado com a inflação. O aperto no ritmo sinaliza para o mercado que a situação não é confortável e que os instrumentos que o Banco Central tem usado estão sendo insuficientes para conseguir segurar a pressão inflacionária e que empurra a taxa de câmbio para cima e acelera a inflação na economia doméstica. Juliana espera uma nova elevação de 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom

Correio do Povo