Um conto que fiz sobre o encontro de um velho com o tempo… vale a pena ler…
Um dia um velho encontrou com o tempo, os dois se abraçaram e iniciaram um diálogo.
O velho foi logo perguntando:
– Porque você levou de mim tantas pessoas que eu amava
O tempo respondeu:
– Eu nunca levei quem você amava, eu apenas passo e as pessoas me seguem, mas para que elas não morressem eu te ofereci a saudade.
– E porque a saudade dói tanto?
– A saudade não dói, o que dói são os planos imaginados, a frustração do futuro interrompido, por isso dedique-se a quem você ama, assim não sentirá saudades apenas lembranças.
– E meus sonhos senhor tempo, onde foram parar?
– Continuam existindo dentro de você, eu não carrego comigo os sonhos de ninguém, as pessoas que trazem no peito a incapacidade de realizar e por respeitar sua decisão eu as faço seguir em frente.
Porque pior do que não realizar um sonho é não poder sonhar novamente.
– É tempo, quantas vezes eu pedi que você voltasse, você nunca me ouviu….
– Isso é o que não me faz humano.
Vocês humanos podem errar, retornar, se arrepender e voltar a ser feliz novamente. Mas o orgulho nos colocam na mesma a condição: a de seguir por não saber voltar.
– E essas marcas no meu rosto, essas cicatrizes, esse me corpo flácido, eu era tão mais bonito quando jovem!
– É uma maneira de eu mostrar aos demais que eu ensino, mas vocês humanos sempre acreditam na juventude eterna.
Nunca aprendem com as minhas lições e quando é tarde demais adquirem a sabedoria.
Mas já não sabem mais ensinar, ninguém quer mais lhes ouvir. Essas marcas, essas cicatrizes sou eu transferindo toda aquela sua beleza física da juventude para a inalcançável plenitude da alma.
– Mas agora é tarde tempo, já estou velho, sei que logo vou morrer.
– A morte nada mais é do que o oposto do amor.
Se você amou, semeou, deixou a lembrança do bem que fez em algum lugar, então você é imortal.
No fim das contas meu senhor ninguém morre.
No final de tudo todo mundo vira tempo…
Paulo Balmant
