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sexta-feira 29 março 2024
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Gravataí: porque a morte nunca vem parcelada por Oscar Bessi Filho



Gravataí, Centro, 14h45 de um quase dezembro. Um trio armado invade a ótica Fialho e anuncia o assalto. Gritos. Pânico. Medo. 
A Brigada Militar é acionada e uma guarnição intercepta o veículos com os criminosos. Mas estes não titubeiam: recebem os policiais à bala. 
O soldado Rafael de Ávila de Oliveira, um jovem de apenas 30 anos, é atingido no tórax. 
Era a sua última ocorrência.
O tiro entrou em seu corpo onde o formato do seu colete de proteção considerava alvo imprevisível. 
É assim. 
 O destino é um alvo imprevisível.
O soldado Rafael se foi. Talvez uma de suas preocupações, nesta segunda-feira de sol envergonhado, fosse o parcelamento do seu salário. 
As contas. 
O décimo terceiro que não vem, o final de ano, o sorriso amarelo à família que, com ele, divide as dificuldades de sua escolha profissional.
Mas, ao saber do assalto, ele foi. Sem parcelar sua vontade. 
Com gana de trabalhar, de proteger, de resolver a ocorrência. De lutar pela sua sociedade e o seu povo, seja que nome ou status tiver.
 De honrar os tributos que esta gente sofrida paga, para muitas vezes apenas beliscar alguns farelos de cidadania.
A dedicação de Rafael, assim como a de seus colegas, nunca foi parcelada.
 Foi integral. 
Sempre.
Sua disposição de morrer pelo que não é seu, pelo que jamais seria seu, de arriscar a vida por quem sequer conhece, nunca foi parcelada.
Seu amor ao povo gaúcho nunca foi parcelado. 
E só quem ama, e ama muito, é capaz de se oferecer ao risco por aqueles que decidiu proteger. 
E haverá maior ato de amor, na natureza, do que oferecer proteção?
Como as asas dos pássaros. 
Como as asas dos anjos.
O respeito de Rafael pela cidadania nunca foi parcelado.
Mas andam parcelando a consideração que merecem ele e seus colegas.
 A consideração que merecem os policiais que não deixam de cumprir seu dever, como merecem também os professores públicos que, abandonados, dão aulas nos cantos esquecidos em meio à violência.
Por nada. 
E um nada parcelado. 
Respeito parcelado.
Mas a dor, esta nunca será parcelada. 
Nunca.
Rafael deixa este plano no cumprimento do dever. 
Com o respeito máximo de seus colegas de serviço, de seus amigos e familiares, dos bons cidadãos deste terra.
E sem ter a chance de ter sido respeitado por quem mais deveria fazê-lo.
Oscar Bessi Filho
Oscar Bessi



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