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sexta-feira 19 abril 2024
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Dilma rejeita fazer “guinada à esquerda” como quer o PT

A Presidente acredita que esse seria um momento de importante apoio de seu partido

A Presidente acredita que esse seria um momento de importante apoio de seu partido | Foto: Evaristo Sa / AFP / CP

                                           Foto: Evaristo Sa / AFP / CP
A presidente Dilma Rousseff não está disposta a dar uma guinada na política econômica, como quer a cúpula do PT. Dilma avalia que é preciso ações de estímulo à economia, mas não acha que se pode baixar os juros “na marra” nem aumentar a meta de inflação.

“O PT é um partido importante, mas não é o único partido do governo”, disse o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, numa referência ao texto publicado nesta segunda, pelo presidente do PT, Rui Falcão, no qual ele diz que “chega de juros altos e de cortes de investimentos”. Ex-presidente do PT, Berzoini tentou amenizar as divergências entre a legenda e o governo. “Temos consciência do papel do partido, mas quem está no governo tem outras responsabilidades”, argumentou o ministro.

Nesta segunda, outro interlocutor direto da presidente afirmou que ouviu dela mesma que “é uma ilusão” alguém achar que a chegada de Nelson Barbosa ao governo significa abandonar a perseguição ao equilíbrio fiscal. “Não haverá guinada à esquerda”, avisou. “Não adianta fazer pressão. A presidente não vai ceder”, prosseguiu o interlocutor, ao explicar que o que muda com a saída de Joaquim Levy e a entrada de Barbosa é apenas a gradação do aperto e a forma de fazê-lo. “Mas ele é inevitável porque o reequilíbrio fiscal é cláusula pétrea para recuperar a confiança do país que permitirá a retomada do crescimento e a sua recuperação econômica.”

As críticas pela manutenção do discurso de Levy já eram esperadas pelo próprio Barbosa, que chegou a conversar sobre isso com a presidente. O que muda, na verdade, é apenas a unidade no PT inclusive de discurso, da equipe econômica, já que Barbosa é mais alinhado e tem o seu tom mais afinado com o de Dilma. “Mas não há nenhuma receptividade à mudança de rumos”, insistiu o interlocutor. Este afinamento de discurso voltou a ser tratado nesta segunda-feira, em reunião de Dilma com vários ministros, no Alvorada.

Apesar de não se abalar com as críticas dos petistas, a presidente Dilma não gostou da fala do presidente do PT, Rui Falcão, que diz que houve ‘frustração’ com atos do governo e foi enfático ao pedir mudanças na política econômica do governo. Gostou menos ainda de o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ter atacado duramente as reformas previdenciárias e trabalhistas que são consideradas fundamentais e inevitáveis pelo Planalto. A presidente acha que estes ataques “não ajudam” neste momento de rearranjo do País, quando seria importante ter o apoio de seu partido.

As queixas do PT não se resumem ao partido. Dilma já ouviu até mesmo de um ministro petista próximo a ela queixas da manutenção do discurso de Levy, mesmo após a saída dele do governo. A avaliação deste ministro é que o discurso do Planalto tem de ser mais otimista para animar a população para reverter este desânimo que tomou conta do País e defende que não pode continuar em 2016. Mas já ouviu da presidente que não haverá volta a políticas praticadas no passado de subsídios e concessão de crédito fácil, porque isso seria contraditório com o ajuste fiscal. “Isso acabou”, já avisou Dilma.

O governo quer apresentar ações de estímulo à economia mas em outras bases, que não passam por medidas fáceis. Quer mostrar que vai segurar a inflação com todos os instrumentos possíveis porque os indicadores são preocupantes. Isso significa também que há perspectivas de aumento de juros, para ajudar a segurar a inflação. Tudo isso daria sinais ao mercado da determinação do Planalto de que o ajuste fiscal não será amenizado com a saída de Levy e a chegada de Barbosa, tentando fazer com que o novo ministro conquiste confiança deste segmento.

O Planalto quer sinalizar ao mercado também que não vai ceder às pressões políticas, nem mesmo vindas de seu partido, nem mesmo em momentos de grave crise política, quando precisa de apoio de todos os aliados.
Correio do Povo



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